Marcado de frustrações, Atlético-MG persegue milagre por 1ª Libertadores
Contra o tricampeão Olimpia, atleticanos tentam deixar passado para trás e vencer a América com Ronaldinho, Bernard e Cuca no novo Mineirão lotado
Roberto Drummond assim definiu em seus versos: “se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”. Nesta quarta-feira, no Mineirão, o Atlético-MG tentará vencer uma tempestade como uma camisa pendurada no varal. Tudo para conquistar a Copa Libertadores pela primeira vez. Tudo para dar à apaixonada massa alvinegra seu título mais importante em mais de 100 anos.
A alcunha “camisa preta e branca na tempestade” se dá por conta da vantagem absolutamente favorável do Olimpia-PAR, hoje o favorito para ficar com o título. Em Assunção, há uma semana, a equipe paraguaia abriu o placar agregado com vitória por 2 a 0 sobre um pálido Atlético. Para superá-la, o time brasileiro precisa vencer por três gols, ou então marcar dois a mais e tentar decidir na prorrogação e nos pênaltis.
Mas o atleticano já se acostumou com esses dilemas que marcam sua história do último século e também desta Copa Libertadores. “Com a gente é tudo sofrido”, disse o treinador Cuca no Paraguai. Nos três duelos de mata-mata, o Atlético levou o primeiro gol. Pior ocorreu na semifinal contra o Newell’s Old Boys, que ganhou por 2 a 0 na Argentina. Para ir à final, foi preciso devolver o marcador e vencer os pênaltis. É a mesma missão desta quarta.
Para a grande final, porém, foi preciso encontrar um palco maior que o Estádio Independência. Foi lá que o Atlético-MG consagrou suas classificações sob o bordão de “caiu no Horto tá morto”, em menção ao bairro do estádio apto a 20 mil torcedores. O Mineirão da finalíssima deve ter 62 mil pagantes e a maior renda da história do futebol brasileiro, acima de R$ 7 milhões.
As derrotas do passado também inspiram o presente
O público total é sinal de que os atleticanos acreditam, mas também sonham com a Libertadores. Em deixar para trás as decepções do passado na competição vencida pelo rival Cruzeiro em duas ocasiões. Ao Atlético, ficam as recordações ruins de 1972 (seis jogos e nenhuma vitória), 1978 (queda com favoritismo na semifinal) e 2000 (derrota para o Corinthians nas quartas). Mas principalmente de 1981, claro.
Atlético-MG | Olimpia |
Victor | Martín Silva |
Michel | Mazacotte |
Leonardo Silva | Manzur |
Réver | Miranda |
Junior Cesar | Candía |
Pierre | Benítez |
Josué | Pittoni |
Diego Tardelli | Aranda |
Ronaldinho | Alejandro Silva |
Bernard | Salgueiro |
Jô | Bareiro |
Depois de uma trepidante final do Brasileiro do ano anterior, os atleticanos se reencontraram com o Flamengo na fase de grupos da Libertadores de 81. Empatados, precisaram de um jogo extra para decidir a vaga. Revoltados com as marcações do árbitro carioca José Roberto Wright, cinco jogadores do melhor Atlético de todos os tempos foram expulsos e a partida realizada em Goiânia acabou aos 38min com vaga para o Fla. Uma das maiores polêmicas da história do futebol brasileiro.
Apesar das contas pendentes com o passado e da expectativa por um título inédito, o Atlético respirou com relativa paz nos últimos dias. Cuca, que busca sua primeira Libertadores aos 50 anos, revigorou os jogadores após a derrota no Paraguai. Tem dúvida apenas na lateral direita, mas deve escalar Michel. Há dois suspensos (Marcos Rocha e Richarlyson) e um sem condições físicas ideais (Leandro Donizete).
Tricampeão, Olimpia persegue a quarta na base do comprometimento contra a crise
Em sua sétima final, e com três títulos no currículo (1979, 90 e 2002), o Olimpia lida com sentimentos diferentes antes de reencontrar o Atlético. A ambição é vencer a quarta Libertadores para se juntar ao grupo dos cinco principais campeões da história com os argentinos Boca Juniors (6), Estudiantes (4) e Independiente (7), além do uruguaio Peñarol (5).
A comprometida equipe é comandada por Ever Hugo Almeida, campeão como goleiro em 1979 e 1990 e jogador com mais partidas na história da competição. Com essa experiência, ele comandou o terceiro melhor time da fase de grupos – o Atlético foi o primeiro – e superou intermináveis problemas extracampo.
Nesta conta, vale incluir a renúncia do ex-presidente Marcelo Recanate, cinco meses de salários atrasados, a venda do então capitão Richard Ortiz e até a detecção de um câncer no lateral uruguaio Sebastián Ariosa. Nenhum obstáculo suficiente, porém, para deter o favorito a ganhar a Libertadores.