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Rússia

Opositores russos temem aumento na repressão após a Copa

Putin enfrenta manifestações e queda de popularidade por reforma da aposentadoria apesar de euforia com torneio de futebol

16 jul 2018 - 07h36
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Passada a euforia da Copa do Mundo, a Rússia se volta para antigos problemas externa e internamente. Enquanto o presidente Vladimir Putin se reúne nesta segunda-feira, 16, com o americano Donald Trump na Finlândia, a oposição russa e ativistas de direitos humanos estão preocupados com o aumento da repressão.

Opositores temem que o Kremlin use o êxito da Copa para manter ativo o sistema de segurança adotado no torneio, sentindo que tem um cheque em branco para ampliar a repressão. Nos últimos 30 dias, prisões foram feitas sob a justificativa de resguardar a segurança da Copa do Mundo. Ainda não se sabe quantos foram presos ou detidos.

Tanya Lokshina, representante da entidade Human Rights Watch, afirma que só não ocorreram mais protestos durante a Copa em razão da operação rápida da polícia. "Vimos vários casos de pessoas detidas, inclusive por protestar em silêncio e individualmente", disse. "O argumento era de que esses protestos não poderiam ocorrer para evitar ameaçar a ordem pública", explicou Tanya.

Putin toca o troféu da Copa ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino
Putin toca o troféu da Copa ao lado do presidente da Fifa, Gianni Infantino
Foto: Damir Sagolj / Reuters

Segundo ela, no dia 8 um casal de ativistas foi detido por levar um cartaz para uma região central de Moscou pedindo liberdade ao opositor político na Chechênia Oyub Titiev. "Estimamos que uma dezena de casos assim ocorreram", completou. Os detidos eram Svetlana Gannushkina, que chegou a ser cotada para o prêmio Nobel da Paz, e Oleg Orlov, diretor de uma ONG. Durante a Copa, Titiev teve sua prisão estendida até dezembro.

Arma de propaganda de Putin, a Copa levou o governo a proibir manifestações, inclusive protestos por um só indivíduo e em silêncio. Houve censura na divulgação de boletins de polícia e os jornais e discursos oficiais fizeram proliferar mensagens patrióticas.

Ao Estado, um dos líderes dos movimentos jovens de oposição, Dmitri Makarov, disse acreditar que o torneio permitiu que a população sentisse pela primeira vez "um pouco do gosto da liberdade". "A distração do futebol tem um limite e, com o fim do evento, nossa esperança é de que a população reaja com maturidade", afirmou. "O evento termina, mas nossos problemas continuam", constatou.

O tom do Kremlin, e mesmo da Fifa, era de que o mundo havia descoberto uma "outra Rússia". Domesticamente, porém, a situação é mais complexa. O rígido esquema de repressão não impediu um protesto contra Putin na final do torneio. Quatro pessoas vestidas de policiais invadiram o gramado e correram para lados diferentes. A transmissão oficial parou de exibir as imagens. O grupo Pussy Riots reivindicou responsabilidade pelo protesto que pretendia denunciar o estado de segurança criado n a Copa e pedia o fim da repressão na Rússia.

A ofensiva contra manifestantes não ocorreu apenas durante o torneio. Em abril, 1,6 mil pessoas estavam detidas por diferentes motivos relacionados com a segurança. Mesmo com a euforia da Copa, Putin teve uma queda em sua popularidade e sumiu dos estádios. O motivo: a elevação da idade mínima da aposentadoria e o aumento de impostos.

Questionado pelo Estado, Arkadi Dvorkovich, vice-primeiro-ministro russo, negou que a proposta sobre a aposentadoria tenha sido divulgada propositalmente no momento de euforia do futebol. "Trabalho há seis anos no governo e isso (reforma) foi objeto de várias discussões por anos. Em 2018, tivemos uma eleição e a Copa coincidiu com um período de mudança de governo. É natural que o novo governo esteja fazendo reformas. Mas elas foram preparadas antes e não há relação direta com a Copa. Foi uma coincidência", disse.

Ironizando sobre a elevação da idade da aposentadoria, Dvorkovich comparou os trabalhadores com jogadores de sua seleção que se aposentarão depois da Copa. "Alguns jogadores hoje se aposentam com 38 anos, uma idade elevada para atletas", justificou. "Novas tecnologias e medicina permitem trabalhar mais", completou.

Mas o discurso do Kremlin e a euforia do futebol não foram suficientes. Segundo o instituto VTsIOM, a aprovação de Putin caiu de 72% para 63%. O instituto FOM apontou que, se as eleições fossem hoje, Putin não teria 68% dos votos, e sim 49%. Se não bastasse, um abaixo-assinado coletou 2,7 milhões de apoio contra suas reformas.

É com o peso dessa impopularidade e a pressão do indiciamento pela justiça americana de 12 espiões russos acusados de hackear a campanha de Hillary Clinton que Putin chega nesta segunda-feira, 16, à Finlândia para o encontro bilateral com Trump.

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Estadão
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