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Campeonato Mexicano

R10, base e investimento: Liga MX cresce e ameaça Brasileiro

23 dez 2014 - 09h00
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Quinze participações em 20 edições de Copa do Mundo. Duas vezes sede do principal torneio de futebol do planeta. Eliminado apenas no último minuto pela Holanda nas oitavas de final do último Mundial. O México não é somente um país apaixonado por futebol. O México é, também, um país que tem muito talento e, principalmente, condições de se colocar entre os gigantes do esporte mais popular do mundo. O primeiro passo para chegar lá é desenvolver o futebol dentro do próprio território. E, aí, os mexicanos têm evoluído bastante – a ponto de já se colocarem como concorrentes à “dinastia” do Brasil como dono do campeonato mais atraente da América.

Isto fica evidente graças a algo que tem se tornado cada vez mais comum nos últimos meses: a contratação (ou cobiça) de clubes mexicanos por grandes jogadores do futebol brasileiro. Em setembro, Ronaldinho deixou o Atlético-MG para jogar no modesto Querétaro. A transferência chocou boa parte dos torcedores brasileiros, mas serviu para comprovar e intensificar o inegável crescimento do futebol mexicano. Agora, com o fim da temporada no Brasil, crescem as especulações sobre o interesse de equipes do México por atletas como Robinho, Rafael Sobis e Hernán Barcos.

Enquanto o futebol brasileiro tem sofrido com a queda de receitas (especialmente de patrocínio) nos seus clubes, o mexicano caminha no sentido oposto. De acordo com o site especializado Transfermarkt, a Liga Mexicana (Liga MX) já é o segundo campeonato mais valioso do continente (atrás apenas do Campeonato Brasileiro). Em 2012, a competição verde e amarela era avaliada em R$ 1,6 bilhão – contra R$ 1,1 bilhão da mexicana. Agora, a Série A custa R$ 2,3 bilhões, e a Liga MX, R$ 1,8 bi. Mesmo tendo sediado a Copa do Mundo, o Brasil não abriu distância sobre o México.

Entenda, abaixo, por que o futebol mexicano cresce tanto a ponto de já ameaçar o brasileiro em âmbito continental:

Investimento e planejamento: a fórmula do sucesso

Diferente do que ocorre no Brasil, onde os clubes são vistos como instituições extremamente tradicionais e, na maioria dos casos, ficam nas mãos de dirigentes pouco ou quase nada preparados para administrá-los, no México o futebol é encarado como parte da economia. Ele não é uma paixão nacional? Pois bem... Então deve ser bem cuidado e também precisa render lucros ao país.

Por isso, lá, os clubes são administrados como empresas. O fato de o México ser vizinho aos EUA, donos da maior economia do mundo ao lado da China, atrai mais investidores ao país do que ao Brasil, por exemplo. Apesar de a economia mexicana ter crescido apenas 1,1% no ano passado, os investidores continuam entusiasmados por causa de uma série de reformulações do governo – que inclui abertura do setor de petróleo para o setor privado e uma reforma tributária. Em 2012, por exemplo, a empresa de telefonia América Móvil (AMX), propriedade do empresário mexicano Carlos Slim, adquiriu 30% dos clubes Pachuca, León e Universidad del Fútbol y Ciencias del Deporte.

Além disto, para ajudar as equipes durante o ano, a Federação Mexicana de Futebol recolhe U$ 5 milhões (R$ 14 milhões) de cada clube antes da temporada. Se algum deles atrasar salário durante o ano, tal quantia é usada pela entidade para não deixar os jogadores sem receber seus vencimentos. Atletas de Botafogo, Santos, Fluminense e Coritiba apoiariam essa medida no Brasil, não?

Foto: Miguel Tovar / Getty Images

Um dos homens mais ricos do mundo, Carlos Slim adquiriu 30% de três clubes mexicanos (Miguel Tovar/Getty Images)

Calendário "brasileiro", mas que respeita datas-Fifa

Qual é mesmo um dos maiores alvos de críticas no futebol brasileiro? O calendário. Ele mesmo, que ocupa dez de doze meses do ano, prevê muitos jogos aos meios e fins de semana e não paralisa os campeonatos nacionais nas datas-Fifa. No México, os clubes disputam a liga nacional, uma copa nacional e também participam da Libertadores e da Copa dos Campeões da Concacaf. Mesmo assim, não são desfalcados quando a seleção entra em campo.

Pois é. Apesar de seguir o "molde" da temporada brasileira, disputada entre janeiro e o início de dezembro (e não entre agosto e junho, como na Europa), o calendário mexicano não comete o "suicídio" que é esfacelar os seus próprios clubes durante datas-Fifa. Quando a seleção do México joga, os campeonatos locais param. Qual é a consequência disto? Equipes não são prejudicadas, e jogadores que atuam no país podem ser convocados sem nenhuma ressalva, fortalecendo a seleção e valorizando o futebol do país.

Foto: Hector Vivas / Getty Images

Campeonatos locais paralisam quando a seleção mexicana entra em campo (Hector Vivas/Getty Images)

Idioma: uma isca para atrair sul-americanos

É inegável: o futebol sul-americano revela excelentes jogadores, mas dificilmente consegue mantê-los em seus campeonatos por causa da fragilidade econômica de seus países (se comparados aos dos grandes centros). Brasil e Europa são destinos quase certos para talentos argentinos, chilenos, colombianos, paraguaios e uruguaios. Nos últimos anos, porém, o México tem aparecido como nova opção para estes atletas. E com uma grande vantagem em relação à maioria dos países europeus e ao Brasil: o idioma.

Por falar a mesma língua de jogadores sul-americanos (com exceção dos brasileiros), o futebol mexicano pode abrigar e dar maior "conforto" a eles. O artilheiro do último Campeonato Mexicano, por exemplo, foi o atacante argentino Mauro Boselli, do Léon. Ele fez parte do Estudiantes campeão da Libertadores em 2009 e, desde então, jogou em Wigan, Genoa e Palermo - sem nenhum destaque. Só foi reencontrar seu bom futebol no México, já aos 29 anos.

E o que falar de Dorlán Pabón, atacante colombiano de 26 anos que teve bons momentos no Valencia, mas não deixou nenhuma saudade aos torcedores do São Paulo? Ele é o principal jogador do Monterrey e figurou na terceira posição na lista de artilheiros do último Campeonato Mexicano. Outros exemplos são o atacante argentino César Delgado, que jogou por três anos no Lyon e agora atua no Monterrey; o zagueiro paraguaio Paulo da Silva, que ficou duas temporadas na Europa, já disputou Copa do Mundo e agora pertence ao Toluca; e o volante uruguaio Arévalo Rios, que foi muito bem no Mundial de 2010, virou motivo de chacota no Botafogo e, agora, começa a se recuperar no Tigres.

Foto: Refugio Ruiz / Getty Images

Colombiano Dorlán Pabón não deixou nenhuma saudades no São Paulo, mas foi 3º maior artilheiro no México (Refugio Ruiz/Getty Images)

Estádios com boa taxa de ocupação

Investimento, organização, calendário adequado e jogadores de bom nível. Uma competição com tais qualidades certamente se torna mais atraente aos torcedores, não é? Está aí, então, mais uma vantagem do Campeonato Mexicano em relação ao Campeonato Brasileiro. Segundo estudo da Pluri Consultoria divulgado neste ano, a última edição da Liga MX teve a quinta melhor média de público do mundo (22.939 torcedores por jogo). Somente as ligas da Alemanha (43.173), Inglaterra (36.589), Espanha (26.867) e Itália (23.265) superaram a do México.

E o Campeonato Brasileiro? Ficou apenas na 15ª colocação, com média de 14.951 torcedores por partida. Ligas dos EUA, China, Holanda, Japão, Turquia e até mesmo da segunda divisão da Inglaterra levaram mais pessoas ao estádio que a do futebol pentacampeão mundial. A taxa de ocupação dos estádios utilizados na última edição do Campeonato Mexicano foi de 50%. E no Brasil? 38,6%. Ao menos no público, o futebol do México já supera o brasileiro.

Foto: Miguel Tovar / Getty Images

Campeonato Mexicano teve maior média de público da América em 2013/14 (Miguel Tovar/Getty Images)

Atenção às categorias menores

Qual é o melhor jeito de garantir um bom futuro para o próprio futebol? Dar a devida atenção às categorias de base de seu país. Neste quesito, o México dá um "banho" no Brasil. Se o País pentacampeão mundial é palco, na maioria das vezes, de descaso dos clubes com relação à formação dos jogadores, os mexicanos agem de maneira bem diferente. No México, revelar bons valores é tão ou mais importante para uma equipe do que fazer uma grande contratação no exterior ou repatriar atletas experientes.

O resultado disto já tem aparecido nas competições internacionais. Se o Brasil faturou seu último grande "título de base" em 2011 (Mundial Sub-20), o México tem se especializado em fazer estragos entre os jovens. A seleção tricolor foi campeã mundial sub-17 em 2011 (mesmo ano em que faturou o Pan de Guadalajara) e em 2005 – além de vice em 2013. Nos Jogos Olímpicos de 2012, em Londres, superou exatamente o Brasil de Neymar, Ganso, Thiago Silva, Oscar e Lucas no Estádio de Wembley para conquistar a maior glória de sua história.

Jogadores que hoje estão consolidados no futebol europeu, como Chicharito Hernández, Carlos Vela, Giovani dos Santos, Raúl Jiménez e Héctor Herrera, ainda sequer ultrapassaram a marca dos 26 anos. E uma nova “fornada” já está surgindo. Rodolfo Pizarro (Pachuca), Giovanni Hernández (Chivas), Carlos Guzmán (Puebla) e Arturo González (Atlas), por exemplo, certamente terão seus nomes bem conhecidos pelo grande público daqui a alguns anos. Quem sabe, já com o Campeonato Mexicano fazendo ainda mais sombra ao Brasileiro em âmbito continental.

Foto: Alex Livesey / Getty Images

Giovani dos Santos e Chicharito Hernández surgiram para o futebol na seleção mexicana campeã mundial sub-17 em 2005 (Alex Livesey/Getty Images)

Fonte: Terra
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