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Final da Libertadores: Tatuí se prepara para celebrar momento especial de Rodinei no Flamengo

Após brilhar na final da Copa do Brasil, o jogador terá o apoio da cidade onde nasceu no jogo com o Athletico-PR, neste sábado, e deve ser homenageado com partida festiva nas férias

28 out 2022 - 15h10
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Ainda com o gol de pênalti do título da Copa do Brasil contra o Corinthians marcado por Rodinei vivo na memória, a cidade de Tatuí volta a ficar de plantão neste sábado, dia da decisão da Libertadores, de olho em mais uma possível volta olímpica de seu filho ilustre com a camisa do Flamengo. Atual prefeito do município, Miguel Lopes Cardoso Júnior foi um dos treinadores do lateral nos tempos de escola. Depois de acompanhar seu pupilo pela televisão na final do Maracanã, ele promete repetir o ritual contra o Athletico-PR no jogo de Guayaquil. E mais, estuda ainda organizar um jogo festivo como homenagem ao ex-aluno nas férias.

"Vou ver o jogo em casa mesmo e o Flamengo vai ser campeão. Tomara que seja no tempo normal e com uma boa apresentação do Nei. Vai ser o segundo título dele na Libertadores. Ser bicampeão não é para qualquer um", disse ao Estadão o prefeito, que, na cidade, também é conhecido como professor Miguel.

Por causa dessa relação próxima com Rodinei e possibilidade de ele levantar mais um troféu, Miguel planeja um jogo para celebrar o momento especial. "Queremos nos programar para isso. Vamos ver a agenda dele, nas férias. O Nei é um vitorioso na vida e um rapaz muito querido por nós. Quando converteu o pênalti contra o Corinthians, senti um misto de emoções. Muito feliz por fazer parte da história desse menino", que carinhosamente é chamado de Nei pelo seu ex-treinador.

Ligado às origens, Rodinei sempre fala de Tatuí nas entrevistas. Tamanha identificação não fica só no discurso. Antes da pandemia, o atleta organizou vários jogos festivos em sua terra natal. Essas partidas beneficentes já chegaram a arrecadar cerca de 600 quilos de alimentos para entidades carentes. "O Rodinei é o centro das atenções. Gosta de tirar fotos, atender às crianças e adora festas. Vai ter novamente uma grande torcida na Libertadores", afirmou Eduardo Domingues, repórter do jornal O Progresso de Tatuí. A cidade fica na região de Sorocaba, em São Paulo. É conhecida na região como a cidade do doce caseiro.

BARBEIRO PREVÊ GOL

Com status de celebridade no município, o lateral rubro-negro tem até um barbeiro oficial. Kauê Moraes foi companheiro de futebol do amigo famoso na seleção de Tatuí e conversou com a reportagem do Estadão. Atualmente, possui uma barbearia que leva o seu nome e comentou sobre o jogo deste sábado arriscando até um palpite. "Ganhando com um cruzamento dele, já fico feliz. Mas espero que seja 1 a 0 com meu amigo estufando a rede. Rodinei tem estrela e já provou isso com a camisa do Mengão."

Em Tatuí, o único barbeiro autorizado a mexer no visual do jogador flamenguista é Kauê. Essa parceria tem pelo menos seis anos. "Quando vem ao salão, já quer inovar, pede para fazer alguma coisa legal, usar pó descolorante no cabelo, essas coisas de jogador de futebol. É uma felicidade reencontrá-lo quando ele visita a cidade."

Feliz com o título da Copa do Brasil, ele diz ter um sonho. Assistir, em pleno Maracanã, o amigo de infância em ação pelo clube carioca. "Olha, se isso acontecer um dia, ficarei muito feliz."

TRAGÉDIA FAMILIAR

O professor Miguel acompanhou de perto as dificuldades que marcaram a infância do herói rubro-negro. Abraçado por moradores e também educadores, Rodinei aprendeu a conviver desde cedo com perdas significativas. De origem humilde, o lateral flamenguista perdeu o pai antes mesmo de nascer. A mãe morreu vítima de um tumor no cérebro quando ele tinha apenas dez anos. O ciclo de tragédias ceifou ainda mais uma pessoa importante na vida do então menino pré-adolescente: a avó, que até então era responsável pela sua criação.

Nesse período, ele e a irmã foram morar com um tio. A experiência, no entanto, trouxe mais traumas do que soluções já que o parente era usuário de drogas. A situação ficou tão difícil que até comida nos supermercados ele chegou a pedir para saciar a fome. Muitas vezes contou com a solidariedade dos amigos mais próximos para fazer lanches e refeições.

JOGADOR RAÇUDO

Com a experiência de mais de 30 anos trabalhando com o esporte, o professor Miguel usou o futebol como ferramenta para inserir o menino pobre no contexto social. "O Rodinei veio para minha mão muito novo. Disputava os campeonatos do Sesi e passava por dificuldades. Auxiliávamos no que podíamos. Desde tirar um documento até dar um alimento ou proporcionar um lanche. Conversávamos bastante. A história dele sempre foi de luta."

A força física e a entrega em campo já eram seus trunfos nos campeonatos e torneios de base. No entanto, Miguel lembra que Rodinei era muito cobrado por seu desempenho na escola. "Nos nossos campeonatos, a participação dos alunos estava vinculada às notas no colégio. E tínhamos de pegar no pé do Rodinei para ele ir bem nas provas. No time, era escalado como volante ou lateral-direito e sempre foi muito dedicado."

Além de moldar a personalidade, Miguel afirma que o futebol também deu perspectiva de futuro ao seu pupilo. "Usamos o esporte como forma de trabalhar princípios, valores e formar cidadãos. Rodinei é um exemplo disso. Nunca quis saber de ir para o lado errado, para a criminalidade", comentou.

Treinador no campo e conselheiro nas horas vagas, o atual prefeito de Tatuí conta que somente após cumprir uma exigência dos amigos mais próximos é que Rodinei deu início a sua peregrinação pelo mundo da bola. "Só saiu de Tatuí depois de concluir o ensino médio. Era uma preocupação nossa. Depois disso, seguiu para Carapicuíba e foi morar com uma tia. Lá conheceu um empresário e se aventurou no futebol".

Antes de vestir a camisa do Flamengo e vingar como jogador de um grande clube da Série A, a dificuldade foi grande. O Avaí funcionou como porta de entrada, mas seu currículo apresenta times modestos como o Crac-GO e a Penapolense-SP entre outros mais modestos. Passou ainda pelos juniores do Corinthians, mas viu sua vida mudar depois de fazer um bom campeonato pela Ponte Preta e migrar para o Flamengo em 2016.

"O Rodinei sempre foi muito focado e a força de vontade é a sua marca. Na cidade, temos orgulho da sua história. Todos aqui o adoram e estaremos torcendo por ele mais uma vez nesta final de Libertadores.", completou o professor Miguel em um tom emocionado.

Estadão
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