Falcão afirma que Seleção de 1982 'fez história' e a atual reconquistou torcida
Entrar para a história compensou a perda. É o que Paulo Roberto Falcão, que completa 60 anos de idade nesta quarta-feira, acredita, ao recordar a derrota da Seleção Brasileira de 1982 para a Itália, por 3 a 2, no Mundial da Espanha. O ex-volante revelou que manifestações que ouviu sobre aquela Copa o motivaram a procurar seus companheiros para dar os depoimentos do livro "Brasil 82 - O time que perdeu a Copa e ganhou o mundo".
- A declaração do (Pep) Guardiola sobre se inspirar em 1982, e a lembrança de duas senhoras me perguntando "por que vocês não venceram em 82?", pouco antes de eu me credenciar para comentar a Copa do Japão e da Coreia do Sul, me inspiraram a fazer o livro. Como o mote é o jogo com a Itália, naturalmente, a opinião foi mudando nestes 30 anos. Ao final do livro, eu discordei de todos eles. Acho que aquela seleção não tinha perdido. Trata-se de uma seleção vencedora, no aspecto de gratidão, de ser lembrada até hoje, e isto é uma vitória. Tanto que fiz questão de ter o prefácio do Paolo Rossi, que foi o matador daquele jogo - afirmou, em entrevista ao LANCE!Net.
Falcão disse que, como técnico, tem o mesmo objetivo de Pep Guardiola (na época da declaração, o espanhol comandava o Barcelona).
- Meu desafio é montar um time que jogue futebol para ganhar e seja reconhecido. É isto que o Guardiola está dizendo. É difícil? Claro, mas temos de buscar, dentro das limitações, em resultado final, e não em um jogo só. A Seleção de 1982 marcou por causa disso, como o Barcelona marcou recentemente, como a Espanha marcou na Copa de 2010. Por isto, acho que dá para jogar bonito e ganhar - exaltou.
Anos depois de considerar a derrota para a Itália o seu jogo inesquecível, o eterno ídolo do Internacional, da Roma e da Seleção Brasileira, foi reticente em um primeiro momento.
- Talvez não tenha sido este o jogo inesquecível. Só, que ao perder jogos importantes, você fica marcado. Perder a Liga dos Campeões em Roma, nos pênaltis, por exemplo, foi difícil (na edição de 1983-1984, a equipe italiana foi derrotada por 4 a 2 nos pênaltis para o Liverpool).
Em seguida, Paulo Roberto Falcão dimensionou o impacto da partida:
- A Seleção Brasileira, por jogar futebol para ganhar e encantar o mundo, merecia vencer por uma questão de justiça. Mas futebol não é questão de justiça, é um esporte, onde tudo pode acontecer. Este jogo foi muito marcante porque envolveu um país, e talvez tenha envolvido o mundo inteiro. Nenhum país via outra seleção campeã que não fosse o Brasil como campeã de 1982. Foi uma pancada forte não ter ganho. É nisto que digo que foi um jogo difícil de esquecer.
Falcão, durante treino de uma das vezes em que foi convocado para a Seleção (Foto: Arquivo LANCE!)O volante da equipe de Telê Santana fez questão de enaltecer a qualidade da Itália, que se tornaria tricampeã do mundo em 1982:
- Temos que relembrar que perdemos para uma seleção muito boa. A Itália tinha grandes jogadores. Um goleiraço que era o Zoff, um grande marcador como o Gentile, o Scirea, que era o melhor líbero da Europa, o Cabrini, o melhor lateral da Itália... Aí vai para Tardelli, Antognoni, Paolo Rossi, Bruno Conti. Evidente que o resultado mais justo era o empate, que nos daria a classificação à semifinal. Só que é futebol.
FALCÃO OPINA SOBRE 'SUA' SELEÇÃO
O balanço de Falcão sobre Seleção Brasileira não ficou restrito às quatro linhas. Seu curto desempenho no comando da Seleção Brasileira - quando assumiu o cargo após o nono lugar na Copa de 1990, com Sebastião Lazaroni, e, depois de resultados minguados e um vice-campeonato na Copa América de 1991, deu lugar a Carlos Alberto Parreira, foi visto como uma era de dificuldades.
- Eu não tinha o que fazer. Nossa safra não era boa, eu tinha de descobrir jogadores. Para se ter uma ideia, a final do Campeonato Paulista de 1990 foi entre Novorizontino e Bragantino, um fato histórico! Claro que o Novorizontino tinha o Nelsinho, o Marcio Santos, e o Bragantino era treinado pelo (Vanderlei) Luxemburgo, e trazia Mauro Silva, Gil Baiano e Paulo Sergio. Mas não havia Corinthians, Palmeiras, Santos, São Paulo...
Ao sair do cargo, o atual treinador diz que seu período foi de revelação de jogadores com a camisa canarinho.
- Eu tinha de buscar jogadores. Aí surgiram Cafu, Leonardo, Cleber, que foi para o Palmeiras, o Adilson, que foi quarto-zagueiro e hoje é treinador, o Luis Henrique, que era do Bahia e foi para a Europa, o Mazinho Oliveira, que era do Bragantino e foi para o Bayern de Munique. Muita gente que dei oportunidades... disse.
EX-VOLANTE VALORIZA 'CREDIBILIDADE' NA SELEÇÃO E PRESENÇA EUROPEIA DE NEYMAR
Ao opinar sobre o trabalho de Luiz Felipe Scolari à frente de Carlos Alberto Parreira, Paulo Roberto Falcão mostrou-se bastante otimista para a Copa do Mundo de 2014.
- O Brasil teve uma reconquista importante, que é a Copa das Confederações. Teve um jogo muito marcante contra a Espanha, seleção que é considerada por todos a melhor do mundo, e, com isto, a torcida começou a confiar que o Brasil pode ser um candidato para o título do ano que vem. Isto fez a Seleção retomar a credibilidade:
O aniversariante mostrou-se favorável à ida de Neymar para o futebol europeu antes da Copa do Mundo:
- Eu achava que ele deveria ir sim. Enfrentar durante todo o ano marcações diferentes e adversários da Copa do Mundo dará experiências absurdas. Mas eu disse também que ele parecia tão feliz por jogar no Brasil, que devia-se respeitar isto - declarou.