Do goleiro ao atacante, saiba como impressionar um olheiro
Todo garoto que joga descalço no campinho do bairro tem o sonho de ser descoberto por uma grande equipe, calçar as chuteiras e pisar no gramado de um estádio lotado para disputar uma partida de futebol profissional. No entanto, são poucos os que conseguem fazer disso uma realidade. Observador técnico do Santos, Ricardo Crivelli, ou simplesmente Lica, dá algumas dicas de como o aspirante a craque pode impressionar o olheiro e abrir as portas para brilhar no mundo da bola.
Profissional da área há 22 anos, Lica explica que, quanto menor a idade, maiores as chances de o jovem entrar para um clube sem ter passado por um trabalho de base antes. Para ele, conforme o tempo avança, fica cada vez mais complicado corrigir deficiências de fundamentos no garoto. "Quando vamos observar uma partida, prestamos atenção no talento dos atletas. Condicionamento físico não pesa tanto nessa hora, pois sabemos que muitos deles passam por dificuldades, inclusive de alimentação", explica.
O olheiro, que também já passou por Portuguesa e São Paulo, lembra que a princípio todos os jogadores são iguais, então é preciso que eles mostrem um diferencial na partida. Não podem passar sem fazer uma jogada, por exemplo. "Quando ele mostra algo interessante, geralmente chamamos para um teste e vemos se ele continua a desenvolver coisas novas."
Entre os talentos que Lica ajudou a descobrir estão o lateral Danilo, ex-Santos e atualmente no Porto, o atacante Amauri, ex-Juventus e agora no Parma, o volante são-paulino Denílson, e o atacante Diogo, que começou na Portuguesa e agora defende o Olympiacos. Ele conta um pouco do que chamou a atenção para que apostasse no futebol desses atletas.
"O Amauri é aquele cara de referência na área, com quase 1,90 m, e que sabe finalizar com as duas pernas. Já o Danilo é muito agressivo e aparece bem lá na frente, tanto fazendo gols quanto jogadas de linha de fundo. O Denílson, por sua vez, tem uma técnica boa, é voluntarioso em campo e não erra quase passes", diz.
Olhares distintos para cada posição
Para o observador técnico, o atacante que chama a atenção é aquele que parte para cima, dribla, e tem senso de gol, ou seja, não fica lá na frente sem finalizar ou se movimentar. Os laterais não podem jogar plantados. Devem fazer bem a passagem para a linha de fundo, cruzar direito e recompor rápido quando a equipe perde a bola, fazendo a cobertura para não dar espaços ao adversário.
"No caso dos meias, são importantes as jogadas na direção do gol. Não pode ficar apenas tocando de lado. Avaliamos ainda se ele tem bons lançamentos, se passa com as duas pernas, se vira bem o jogo para clarear o lance e se é habilidoso", resume.
Contudo, ele destaca que a escolha de zagueiro e goleiro observa critérios diferentes, levando em conta sempre o porte físico. Segundo Lica, fica difícil jogar nessas posições sem uma estatura mínima, e, pela experiência, os olheiros já sabem o padrão de altura de acordo com a idade do jovem. Cumprido esse requisito, passa-se, então, à observação técnica.
"O zagueiro deve ter bom posicionamento, noção de cabeceio e senso de marcação. Além disso, precisa ser rápido, pois defensores lentos levam grande desvantagem."
Finalmente, os goleiros geralmente são avaliados em um trabalho à parte, pois não é em todas as partidas que eles são exigidos. Por isso, os especialistas passam alguns trabalhos básicos para eles, para ver a forma como o candidato agarra e cai no chão.
"Outro aspecto que avaliamos em todas as funções é o comportamento fora de campo. Se dois jogadores se equivalem na qualidade, vamos dar preferência para aquele que se relaciona melhor com os companheiros. Jovens que são fominhas, egoístas e que só reclamam dos companheiros também perdem pontos", finaliza.
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