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Terra na Copa

BH tem mortes, protestos “abafados” e Savassi enlouquecida

10 jul 2014 - 07h36
(atualizado às 07h37)
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<p>Dois caminhões, um ônibus e um carro foram atingidos pela queda do viaduto Guararapes</p>
Dois caminhões, um ônibus e um carro foram atingidos pela queda do viaduto Guararapes
Foto: Lincon Zarbietti/O Tempo / Futura Press

A cidade de Belo Horizonte foi palco de nada menos que seis jogos da Copa do Mundo de 2014, sendo quatro deles na fase de grupos, um nas oitavas de final e a fatídica semifinal entre Brasil e Alemanha, que ficará marcada para toda história.

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Pelo Estádio do Mineirão passaram craques como Lionel Messi, Neymar, James Rodríguez, Wayne Rooney, Alexis Sanchez, Thomas Muller e muitos outros. Mas apesar da grande festa que os mineiros fizeram na Fan Fest localizada no Expominas e, principalmente, na região da Savassi, que chegou a receber 35 mil pessoas em dias de jogos da Seleção, a queda de um viaduto que matou duas pessoas na avenida Pedro I também ficará marcada para sempre.

Viaduto em construção desaba em BH, dois morreram:
Dois mortos em tragédia

Em 3 de julho, reta final da Copa, o viaduto Guararapes, que fazia parte das obras do BRT Move, sistema de transporte rápido por ônibus da matriz de responsabilidade para o Mundial, desabou e deixou duas pessoas mortas e outras 23 feridas. Quatro veículos foram atingidos, sendo dois caminhões, um micro-ônibus e um carro de passeio. O viaduto estava em fase de acabamento e seria entregue no final do mês.

A prefeitura chegou a decretar luto oficial de três dias. Já em 4 de julho, dia seguinte ao acidente e que deveria ser de festa, já que a Seleção Brasileira jogaria com a Colômbia em Fortaleza, pelas quartas de final, a administração municipal optou por cancelar todos os eventos relacionados ao Mundial. Fan Fest e Savassi Cultural não aconteceram e, apesar da vitória do Brasil, a festa acabou sendo bem menor do que o esperado.

"Foi impactante porque o desastre provocou duas mortes em duas famílias, que hoje sofrem com as perdas. Eu sinto muito por eles, mas não creio que o desastre tenha manchado a imagem da eficiência de Belo Horizonte e Minas Gerais na preparação deste Mundial. Estou falando de quase seis anos de trabalho, com muitas conquistas e também desafios, entre os quais, o mais doloroso, talvez, tenha sido a queda do viaduto. A mancha que nunca será apagada é a da dor para essas famílias”, disse o secretário de Esportes e Turismo de Minas Gerais, Tiago Lacerda.

Após problemas judiciais, o viaduto Guararapes começou a ser demolido na manhã de segunda, dia 7, para que o trânsito na região fosse liberado. O trabalho de demolição parcial foi iniciado às 9h35 com autorização do Tribunal de Justiça de Minas Gerais.

Manifestantes protestam e destroem carro da polícia em MG:
Protestos "abafados"

Um dia antes da abertura da Copa do Mundo, em 11 de junho, a cidade de Belo Horizonte foi palco do único protesto violento durante todo o período do Mundial. Cerca de 400 manifestantes saíram da praça Sete, no centro da capital, e se dirigiram à praça da Liberdade, onde estava localizado o relógio da Copa.

Lá, a Tropa de Choque da Polícia Militar estava posicionada para que não houvesse depredações ao relógio. Porém, iniciou-se um confronto entre PM e manifestantes, que depredaram agências bancárias, lojas e até mesmo prédios comerciais.

Na avenida João Pinheiro, em frente ao Detran, um grupo de manifestantes depredou e virou um carro da Polícia Civil de Minas Gerais. A quebradeira continuou na sede da prefeitura, na avenida Afonso Pena, onde os manifestantes picharam o prédio da administração municipal.

Esse protesto contra a Copa do Mundo foi o único em que houve confronto. Nas manifestações seguintes, que aconteceram em dias de jogos da Seleção Brasileira e em partidas realizadas no Mineirão, a PM adotou uma tática que se estendeu até o fim do Mundial.

Sempre monitorando as redes sociais, os policiais souberam onde seriam realizados os protestos e disponibilizavam um efetivo superior ao número de manifestantes. Enquanto o protesto reunia cerca de 250 pessoas, a PM colocava a Tropa de Choque a Cavalaria com 1,5 mil homens.

Com isso, quando os manifestantes começavam a se juntar, na maioria das vezes na praça Sete, a PM já interferia e revistava todos os presentes no local, vasculhando bolsas, mochilas e até pedindo para tirar tênis e sapatos.

Ao iniciarem o ato, os manifestantes eram cercados pelos milhares de policiais, que não permitiam que as pessoas saíssem da praça ou do local onde estava sendo realizado o ato. Na maioria das vezes a ideia dos manifestantes era dirigir-se ao Estádio Mineirão. A tática foi chamada de "envelopamento" e acabou sendo usada em todas as manifestações seguintes.

De acordo com o secretário Tiago Lacerda, diferente do que aconteceu durante a Copa das Confederações 2013, quando BH e outras cidades-sede foram palco de verdadeiras guerras contra os policiais, desta vez a grande maioria da população aderiu à Copa. "Enxergo (baixo índice de protestos) de uma maneira que me leva a crer que a maioria da população aderiu de corpo e alma ao evento".

Brasileiros e argentinos brigam com garrafas em noite de BH:
Savassi enlouquecida

Muitos imaginavam que a maior concentração de torcedores durante os jogos da Seleção e outras partidas decisivas fosse acontecer na Fan Fest, no Expominas, e nas centenas de bares espalhados pela capital mineira. Porém, o local de maior concentração de torcedores foi na Savassi, região nobre de BH. No jogo do Brasil contra o Chile, pelas oitavas de final, a praça chegou a receber um público de 35 mil pessoas, de diversas nacionalidades.

O local foi escolhido para ser palco de muitas ações culturais como exposições, shows e feira de artesanato, mas acabou ficando conhecida como uma verdadeira torre de babel pela diversidade cultural e excesso de pessoas. Os que mais fizeram festa no local, além dos brasileiros, é claro, foram os argentinos. A seleção albiceleste ficou hospedada na Cidade do Galo e atraiu milhares de argentinos, cerca de 30 mil, segundo o consulado. Porém, apesar da maior festa ter ficado por parte dos eternos rivais do Brasil, um episódio lamentável marcou a Savassi.

Na madrugada de 21 de junho, centenas de argentinos entraram em confronto com brasileiros na praça da Savassi. Lá, as torcidas dos países travaram uma briga com garrafadas e a Polícia Militar precisou revidar com bombas de gás e efeito moral. No dia seguinte, o policiamento, que era de pouco menos de 20 homens, passou a ser feito por centenas e, nos dias seguintes, apenas pequenos delitos foram registrados no local.

As outras torcidas que marcaram a região foram argelinos e ingleses. Os primeiros, que puderam comemorar a chegada histórica às oitavas de final de uma Copa, fizeram festa na Savassi. Apesar de estarem em menor número, eles fizeram barulho e chegaram a pendurar bandeiras da Argélia nos postes das ruas. Já os ingleses, apesar da eliminação precoce na primeira fase, também deram um show, com gritos e cantos.

Outro momento que causou preocupação na Savassi foi logo após a derrota do Brasil para a Alemanha por 7 a 1. A região recebeu cerca de 10 mil pessoas e a PM fazia a segurança do local. Porém, segundo a própria corporação, o excesso de bebida alcoólica e a irritação pelo placar da partida semifinal complicaram ainda mais a situação.

"Logo quando os torcedores perceberam que o Brasil estava perdendo, e de muito, eles ficaram exaltados e destemperados e começaram, já que estavam bêbados, a brigar entre si. A polícia interveio. Eles jogaram pedras e é por isso que a PM utilizou a munição não letal. Se fosse apenas agressão entre eles e a PM chegasse sem revide, aí a coisa seria mais fácil. Mas como a situação é cíclica e isso pode generalizar, intervimos", afirmou o coronel Alberto Luiz ao Terra.

O futuro do Mineirão e o legado da Copa

<p>Mineirão recebeu seis duelos da Copa do Mundo</p>
Mineirão recebeu seis duelos da Copa do Mundo
Foto: Ian Walton / Getty Images

Apesar de ter sido o palco da goleada mais vexatória da história da Seleção ao perder para a Alemanha por 7 a 1 na semifinal, o Estádio do Mineirão seguirá o rumo e continuará recebendo jogos nacionais e shows. Um dos estádios mais testados da Copa, já que ficou pronto no prazo estipulado e chegou a ser usado na semifinal da Copa das Confederações, a arena teve um investimento de R$ 677.353.021,85 para reforma.

"A transformação do Mineirão em uma arena multiuso de alto padrão, que incluiu o acréscimo de uma esplanada com capacidade para 80 mil espectadores, também foi fundamental para colocar Belo Horizonte na rota dos grandes eventos internacionais. O Mineirão seguirá, portanto, sendo palco de grandes espetáculos, tanto esportivos como culturais”, afirmou o secretário Lacerda.

Mesmo tendo ficado pronto um ano e meio antes da Copa do Mundo e ter sido sucesso de público, o Mineirão não é o maior legado que a capital mineira e o Estado deixarão. Algumas obras previstas na matriz de responsabilidade merecem destaque, como a expansão do BRT Move até os arredores do Mineirão e as obras de construção do terminal 3 de passageiros no aeroporto de Confins, que seguem em andamento.

"Minas Gerais ofereceu à Copa um planejamento bem feito do evento, com firmeza nas negociações com a Fifa em defesa do interesse público. Tivemos a oportunidade de ser pioneiros em outros quesitos, como o da segurança, com a montagem do Centro Integrado de Comando e Controle. Eu poderia enumerar os demais itens como saúde, mobilidade urbana e capacitações, mas diria que Minas Gerais foi para a Copa trabalho eficiente", disse Lacerda.

"Fizemos o dever de casa e fomos aprovados com louvor. Já a Copa foi para Minas a oportunidade de ver o maior espetáculo de futebol da terra em nossa cidade, com direito a fortíssimas emoções. Foi o momento de conviver com outras culturas, com destaque para os inesquecíveis colombianos, além dos europeus e iranianos. A Copa é para MG uma grande vitrine para o mundo dos nossos valores culturais e patrimônios históricos e naturais", explicou.

Para facilitar a chegada e saída dos torcedores ao estádio, os chamados Teminais Copa foram disponibilizados para população. Ao todo, cerca de 400 ônibus fizeram o transporte dos torcedores que optaram pelo serviço saindo do centro, do Minas Shopping, do Expominas, da Savassi e do aeroporto de Confins. Ao usar esses ônibus, a distância de caminhada dos torcedores entre os terminais e o estádio foi de, no máximo, 2 km, o que aliviou o trânsito na região.

A publicitária mineira Maira Rodrigues, 29 anos, elogiou o sistema de transporte público nos dias de jogos e fez questão de deixar o carro em casa para ir ao estádio com o BRT Move. "Deu tudo muito certo, principalmente o Terminal Copa e o Move. O mais interessante foi ir ao estádio com pessoas de todas as nacionalidades ao seu lado, gritando e torcendo. Eles (estrangeiros) nem pensaram em ir ao Mineirão de carro ou taxi. Pegaram logo o ônibus mesmo", afirmou Maira, que assistiu ao jogo entre Brasil e Chile, pelas oitavas de final.

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Fonte: Terra
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