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Investidores na mira da Fifa: mudança abre debate e suspense

Fim da participação de grupo de investidores em direitos de jogadores provoca debate com opiniões divergentes que expõem incertezas sobre o impacto que a medida terá no futebol brasileiro

26 out 2014 - 12h09
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<p>Presidente da Fifa, Joseph Blatter, durante entrevista; fim da participação de investidores em direitos de jogadores </p>
Presidente da Fifa, Joseph Blatter, durante entrevista; fim da participação de investidores em direitos de jogadores
Foto: Arnd Wiegmann / Reuters

No próximo dia 30, o Comitê de Estudos da Fifa vai se reunir para tratar do banimento dos grupos de investidores do futebol, já anunciado em setembro. Pressionada pela Uefa, a entidade máxima do futebol ainda não decidiu qual será o tempo de adequação ao novo modelo de comando dos jogadores. Pela regra vigente, grupos de investidores podem ter jogadores sob seu poder, mas a Fifa vai mudar isso nos próximos anos.

Entre as pautas da reunião, algumas chamam a atenção: a participação de terceiros na aquisição de jogadores, clubes hospedeiros e qual posição do sindicato mundial quanto a esta nova proibição. O advogado Marcos Motta, que é integrante do comitê, faz um alerta.

“Não podemos confundir empresário com fundo de investidor. Empresário não pode ser remunerado por direito econômico, conforme está no estatuto de agente da Fifa, art. 29, podendo ser remunerado com 10% dos seus vencimentos, como forma de comissão. Se ele dá dinheiro e ajuda a família, ok. Mas que não conte com uma fatia do jogador para ter de volta este dinheiro. Isso é um conflito absurdo de direitos”, frisou Marcos Motta, que defende o prazo de cinco anos para adequação.

“Este é um tempo suficiente para os clubes liquidarem os contratos com os investidores vendendo o atleta ou recomprando o próprio atleta para voltar a ter o direito econômico. Um tempo menor será um colapso do futebol mundial”, alertou o advogado.

Empresário de grandes atletas do futebol brasileiro, como Kleber Gladiador e Paulo Henrique Ganson, e acostumado a lidar com investidores, Giuseppe Dioguardi considera que esta decisão da Fifa será um retrocesso no processo de venda dos jogadores brasileiros.

“A Uefa quer que as negociações girem dentro da Europa, com os clubes pequenos comprando os atletas do Brasil e os grandes buscando estes talentos dos menores de lá. Os agentes italianos estão comemorando esta decisão. Isso é um pedido da Uefa para proteger o mercado nacional, acabando com este mercado investidor. Times médios e pequenos vão poder comprar grandes jogadores, como foi com Zico e Bebeto, para depois dar um salto na Europa. É uma maneira para aumentar a receita dos clubes pequenos”, avaliou Giuseppe.

Por outro lado, o vice-presidente de futebol do São Paulo, Ataíde Gil Guerreiro, considera que a nova regulamentação do futebol vai melhorar a saúde financeira dos clubes, que hoje são obrigados a firmar parcerias para sobreviver e manter os seus grandes talentos por mais tempo.

“Os clubes estão acostumados a recorrer a investidores, acabam recebendo jogadores sem nem ao menos saber se o cara é bom ou ruim: 'vem de graça, vamos testar'. Quando isso começar a valer, vão começar a procurar melhor os atletas, tendo preocupação com o dinheiro que será gasto. Em relação à venda, o importante é que o dinheiro é todo seu, você não vai mais sofrer pressão do empresário, ou de quem tem um pedaço do seu atleta. Se conseguir fazer tudo isso, não corre o risco de retroceder anos atrás”, destacou Ataíde.

A década de 90 foi marcada no futebol brasileiro por parcerias em grandes clubes, como Palmeiras/Parmalat, Corinthians/Excel, Fluminense/Unimed, e fundo de investidores como MSI (Corinthians), Bank of America (Vasco), ISL (Flamengo e Grêmio), por exemplo. O diretor executivo do Fluminense, Paulo Angioni, conviveu com a entrada destes modelos e enxerga o radicalismo como ponto negativo nesta tentativa da Fifa de banir os fundos de investimento do futebol.

<p>Kia Joorabchian, famoso por parceria MSI/Corinthians; quem já trabalhou em clubes sob influência de grupo de investidores, como Paulo Angioni, reclama de radicalismo </p>
Kia Joorabchian, famoso por parceria MSI/Corinthians; quem já trabalhou em clubes sob influência de grupo de investidores, como Paulo Angioni, reclama de radicalismo
Foto: Reprodução

“Todas as iniciativas que tiveram no Brasil não foram satisfatórias, com exceção da Parmalat e Unimed. Os problemas se devem às questões internas, como estatuto, e isso atrapalha a relação investidor e clube. A radicalização não leva a lugar algum e é preciso se encontrar um formato ideal, sem as coisas nefastas. Pessoas que queriam associar às marcas futebol são sempre bem vindas”, disse Angioni, que trabalhou na Parmalat, entre 98 e 2000, e no Corinthians (Excel e MSI).

O advogado Marcus Donnici, especialista na área desportiva e com atuação junto aos clubes, a saída dos investidores vai gerar uma corrida dos dirigentes pela busca do mercado externo para salvar a suas contas.

“Entendo ser um atraso. Os direitos econômicos dos atletas são um ativo do clube. Sem esse investimento extra, os clubes se voltarão para o mercado exterior para fazer dinheiro muito mais rápido que hoje em dia”, disse Donnici.

Grandes ou pequenos, os clubes brasileiros têm receitas de televisão, bilheteria, patrocínios e parcerias com fundos de investidores. Para o gestor de futebol do Madureira, Marcelo di Almeira, clube que disputa a Série C do Campeonato Brasileiro e conta com a Traffic como parceira, os fundos não deixarão de atuar no futebol.

“A Fifa está tirando a responsabilidade dela e o fundo sempre vai existir, como sempre existiu. O Bangu tinha o Castor de Andrade que era o fundo de investimento do clube. O que impede de você constituir um clube empresa e negociar atletas? Por que o fundo não pode criar um clube e vender o jogador? O Madureira tem uma parceria com a Traffic e ela vai seguir. A Traffic tem um clube, que se chama Desportivo Brasil, e ele tem uma parceria com o Madureira e vários outros clubes”, destacou Marcelo.

Pizza brasileira dos jogadores

O futebol brasileiro ainda permite que agentes e grupos de investidores tenham parte dos direitos econômicos de atletas, entre 80% e 90% do mercado. Abaixo, alguns exemplos de como os clubes não são mais “donos” dos atletas, que viraram uma verdadeira pizza no balcão de negócios:

Foto: Arte Terra

O Leste Europeu é a parte que tem mais presença dos investidores e agentes nos direitos econômicos dos atletas. Entre 40% e 50% dos clubes contam com este domínio, segundo estudo da KPMG. Portugal e Espanha têm relações distintas com estes investidores.

Os portugueses têm entre 24% e 30% do seu mercado dominado por esta prática, enquanto o espanhol só tem entre 5% e 9%. Itália não ultrapassa 2%, Alemanha 3%, e Holanda 4%. Inglaterra, França e Polônia não permitem que investidores e agentes tenham direitos econômicos de atletas.

Fonte: Fazevedo Produções Artísticas e Eventos Ltda Fazevedo Produções Artísticas e Eventos Ltda
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