Argentina e Equador buscam romper hegemonia brasileira na Libertadores com Racing e LDU
Equipes tentam quebrar sequência de títulos do País, mas têm pela frente dois dos maiores vencedores da década no futebol sul-americano: Palmeiras e Flamengo
A última final de Libertadores sem brasileiros foi em 2018, quando o clássico entre Boca Juniors e River Plate decidiu, na Espanha, também o último título que não veio ao Brasil. Os argentinos do Racing e os equatorianos da LDU começam, nesta semana, a brigar por um espaço na decisão do principal torneio sul-americano, que tem sido dominado pelos times do Brasil.
É provável até que Racing e LDU torçam um pelo outro, já que a alternativa em uma eventual final seria um dos maiores vencedores da década no futebol sul-americano: Palmeiras ou Flamengo.
Isso dá a dimensão da dificuldade que terão as duas equipes para tentar ir à decisão quebrar a sequência brasileira. Desde 2019, um time do Brasil é quem vence o torneio. Neste período, apenas River Plate (2019) e Boca Juniors (2023) foram finalistas, além de brasileiros.
Entre 2015 e 2020, chegar a semifinal até foi mais fácil para os argentinos. Eles foram semifinalistas 10 vezes, contra nove do Brasil. Em 2021, porém, houve a virada.
Naquela edição, vencida pelo Palmeiras sobre o Flamengo, foram três brasileiros na semifinal. A "equipe estranha" era o Barcelona de Guayquil, do Equador. O quarto elemento era o Atlético-MG.
No ano seguinte, o diferente foi o Vélez, da Argentina, que se juntou a Flamengo, Athletico-PR e Palmeiras nas semifinais.
Em 2023, o Boca até foi à final. Na fase anterior, porém, eram novamente três brasileiros (Fluminense, Internacional e Palmeiras). Já 2024 destoou graças ao uruguaio Peñarol, eliminado pelo Botafogo. Do outro lado, o Atlético-MG tirou o River Plate.
O último ano que a Libertadores teve um semifinalista de cada país foi 2016: Boca Juniors (Argentina), São Paulo (Brasil), Atlético Nacional (Colômbia) e Independiente Del Valle (Equador). Aquela edição foi vencida pelos colombianos. Entretanto, desde então, apenas argentinos (12 vezes), brasileiros (20) e equatorianos (quatro) figuraram mais de uma vez entre os quatro melhores.
Patrocínios favorecem os brasileiros, enquanto fair-play financeiro ainda é apenas discurso na Conmebol
O Flamengo tem o maior contrato de patrocínio máster do Brasil, com a Betano. O clube recebe R$ 268,5 milhões anuais desde que o novo acordo foi firmado, em agosto. O Palmeiras tem parceria de R$ 100 milhões por ano com a Sportingbet.
As bets inflacionaram o mercado brasileiro. Elas chegam também nos vizinhos, mas com valores muito inferiores. O River Plate, por exemplo, recebe US$ 6 milhões (cerca de R$ 32 milhões) anuais da mesma empresa que estampa o uniforme do Flamengo.
Boca Juniors e Racing são patrocinados pela Betsson. Os xeneizes recebem cerca de R$ 40 milhões por ano, enquanto os adversários do Flamengo têm apenas R$ 12 milhões anuais. No Brasil, Boca e River ficariam fora do top-10 patrocínios máster mais valorizados.
Racing e LDU seriam 'azarões' em final?
Dado o cenário, é de se imaginar que Flamengo e Palmeiras sejam favoritos a fazer a final da Libertadores deste ano. É o que pensa quem acompanha de perto Racing e LDU, mesmo com elogios às equipes.
"O futebol brasileiro, quanto a talento, é infinitamente superior ao equatoriano, um pouco menos (mas ainda melhor) em relação ao argentino. Dito isso, considero que deveria ser implementado um fair-play financeiro a partir das quartas de final, limitar um pouco ou reforços nessa fase", avaliou o repórter do programa "Studio Fútbol Radio" na Radio Diblu, Diego Ordinola, ao Estadão.
Segundo Ordinola, a força equatoriana no cenário sul-americano se dá pelo forte fator local e a confiança que os times conseguem impor também como visitantes.
Por outro lado, os elencos palmeirense e flamenguista são amplamente superiores, como destaca o analista tático e repórter do Olé, Vicente Muglia. "LDU e Racing têm feito uma boa Copa Libertadores, mas eu acho que em relação ao plantel e ao nível de jogo, nenhum dos dois foi superior ao Palmeiras e ao Flamengo", disse ao Estadão, embora ressalve: "Bom, isso é futebol, e sabemos que acontecem às vezes surpresas e situações inesperadas. Então não é preciso descartar que tanto a LDU quanto o Racing podem ser a surpresa".
Para o equatoriano e o argentino, os dois semifinalistas não seguem a mesma cartilha do Boca Juniors vice-campeão de 2023, por exemplo. E isso é visto com bons olhos.
"São estilos de jogo diferentes. Por exemplo, este Racing não é uma equipe que joga igual ao Boca, que chegou à final com o Fluminense em 2023, passando por penais em muitas partidas, sem mostrar um grande jogo, tentando ser uma equipe mais conservadora. O Racing, por outro lado, é uma equipe mais agressivo, que gosta muito de atacar", analisou Muglia.
Em comum, porém, Ordinola aponta a combatividade das equipes. "Essas equipes têm muita paixão pelo jogo. Aquele Del Valle (2016), jogava muito bem com a bola no chão. O Boca era altamente combativo, e aquela final com o Fluminense se definiu nos últimos minutos", disse.
"Da LDU, gosto da ambição, jogo equilibrado, laterais que avançam bastante. Jogadores como Bryan Ramírez, que quer brilhar e ir à Copa", citou. Ordinola ainda menciona o centroavante Jeison Medina e o zagueiro Ricardo Adé, que, segunod ele, "seguramente seria titular em times brasileiros".
"As diferenças econômicas são cada vez mais distantes entre futebol do Equador e do Brasil. Mas projetos como Independiente del Valle e LDU nos colocam no radar", concluiu.