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Antes do Mundial, Etiene mostra preocupação com a falta de novas nadadoras no País

Esperança de medalha no Mundial de Esportes Aquáticos, Etiene Medeiros quer mais mulheres no esporte

16 jul 2019 - 04h42
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Quem quer conhecer melhor a nadadora Etiene Medeiros precisa olhar com atenção para suas tatuagens. Ela escreveu no corpo as palavras "foco, força e fé" e também "amor". "É o que está em falta", diz, pensando no significado. É com essa paixão pelo que faz nas piscinas que Etiene parte para o Mundial de Esportes Aquáticos, em Gwangju, na Coreia do Sul, e depois vai tentar brilhar nos Jogos Pan-Americanos de Lima.

A nadadora Etiene Medeiros
A nadadora Etiene Medeiros
Foto: Reprodução/Twitter/cbdaoficial / Estadão

"Sempre gostei de tatuar, são desenhos na pele. É minha identidade. Esta (mostra a tatuagem) lembra que gosto do mar, sou pernambucana, sou da areia, gosto de estar ali refletindo, sou livre. Fiz também uma sereia, tem Ohana, que significa família em havaiano. Quero fazer mais, mas agora quero dar uma pausa", diz a nadadora.

Aos 28 anos, a atleta do Sesi-SP vive grande momento e espera poder provar isso nas competições deste ano. Em agosto, quando olhar para trás, quer ter a sensação de dever cumprido. "Quero ver que eu fiz o trabalho certo. Independentemente de ter conquistado o que eu queria, vou estar grata e satisfeita porque sei que caí na água todos os dias para dar o meu melhor resultado", disse ao Estado.

Etiene tem no currículo títulos mundiais, recordes e uma medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos. Ela vem abrindo portas para as mulheres na natação brasileira. Lamenta, no entanto, a falta de garotas para seguir o caminho que outras nadadoras trilharam antes dela. "Eu comecei na seleção em 2008. Tinha Fabiola Molina, Flávia Delaroli, Tatiana Lemos, Joanna Maranhão, Paula Baracho, diversas atletas fenomenais. Vi que a transformação da natação brasileira feminina foi muito rápida e de repente se dispersou muito rapidamente".

Etiene toca na ferida. "Isso pode ser um reflexo cultural, mas também de apoio, de educação. Falam que sou a única mulher, mas não me sinto feliz em relação a isso. Sinto que me realizei de estar presente no que quero, mas queria que tivesse um time de mais 20 meninas, torço para isso. É complicado lutar sozinha. No Brasil isso é difícil. Hoje, eu e a Viviane Jungblut vamos para o Mundial, no anterior foram três atletas. E no próximo? E na Olimpíada, teremos mulheres? Não se sabe".

A nadadora sabe que está deixando um legado na natação brasileira, principalmente para as mulheres, e espera que seus resultados ajudem a formar novas atletas. "Todos esses anos foram me alimentando para que eu pudesse chegar hoje e falar: 'Eu tenho um sonho e ele é palpável'. Não vou admitir, mas todo mundo imagina o que é. Tenho muito pé no chão do que quero e batalho todos os dias para conseguir isso."

Em sua casa, ela guarda na agenda tópicos do que pretende realizar. Não conta a ninguém. Se consegue, ou se chega perto, faz marcações próprias de tarefa cumprida ou de que chegou perto. Etiene sabe que este ano é importante dentro do ciclo olímpico. "É um ano bem pesado, o anterior aos Jogos Olímpicos de Tóquio, é essencial, tem de fazer várias competições e eu estou preparada para elas. Cada dia que passa fica mais perto. Acho que é um ano que precisa ter bastante cuidado, do treinamento adequado e de qual competição participar", diz.

Perspectivas no Mundial e no Pan

Fernando Vanzella, técnico de Etiene no Sesi-SP, afirma em entrevista ao Estado que a atleta tem possibilidades de conseguir bons resultados tanto no Mundial da Coreia do Sul e nos Jogos Pan-Americanos:

1. É possível ir bem no Mundial da Coreia e Pan?

Sim. Hoje a natação evoluiu muito nesse sentido. A gente consegue ter treinamento para que o atleta fique um período maior dando resultados, só que a performance é multifatorial. O psicológico vai pesar, pois precisa assimilar o resultado do Mundial para render no Pan de Lima.

2. Como vai ser a preparação de vocês para o Mundial e o Pan?

Estamos fazendo nossa aclimatação em Sagamihara, no Japão, mesmo lugar da aclimatação para os Jogos Olímpicos. Vamos passar uma semana lá treinando e criando essa rotina de trabalho. Faltando quatro dias para o Mundial, viajamos para a Coreia do Sul.

3. Vocês pretendem priorizar algumas provas?

No Mundial, a gente tem atletas com programas completos, como é o da Etiene, com quatro provas. Vamos priorizar algumas nas quais ela é mais competitiva, como os 50m livre e 50m costas, mas vamos tentar em todas.

4. Vocês traçaram alguma meta para a competição?

O fato de ela ser campeã mundial dos 50m costas em Budapeste traz uma responsabilidade para um bicampeonato. Nunca a gente teve uma atleta campeã, então se conseguir repetir isso será sensacional.

5. E nos 50m livre, Etiene tem chance de brilhar?

Ela foi finalista olímpica e vai tentar estar entre as melhores. Tentar se aproximar ao máximo desse grupo. Se isso for suficiente para ela fazer a final de novo, ou disputar uma medalha, a gente ficará muito feliz. Para isso, terá de melhorar seu próprio tempo e bater o recorde sul-americano, que ela quase conseguiu no Maria Lenk.

6. Como foi a preparação para as outras provas?

As provas de 100m estão em um estágio abaixo. Seria interessante Etiene nadar para o melhor tempo da carreira dela. Se isso acontecer, a gente ainda vai ver o que vai dar. O objetivo é tentar subir cada vez mais para o topo.

Estadão
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