Script = https://s1.trrsf.com/update-1723493285/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

O embate do Corinthians contra o Universitario e o racismo institucional

Postura do clube peruano ao apoiar preparador físico preso por gestos racistas reforça insuficiência de protocolo da Conmebol

18 jul 2023 - 07h00
Compartilhar
Exibir comentários
Jogadores e comissão técnica do Universitario enviam mensagem de apoio a Sebastián Avellino
Jogadores e comissão técnica do Universitario enviam mensagem de apoio a Sebastián Avellino
Foto: Divulgação/Universitario

Nesta terça-feira, o Corinthians enfrenta o Universitario pelo jogo de volta dos playoffs da Copa Sul-Americana. O estádio Monumental de Lima deve ter mais de 50.000 torcedores peruanos, que esgotaram todos os ingressos disponíveis e prometem receber a equipe brasileira em ambiente hostil.

Isso porque, no jogo de ida, na Arena Corinthians, o preparador físico Sebastián Avellino saiu preso do estádio após fazer gestos racistas imitando macaco e ter sido denunciado por torcedores corintianos. Depois da partida, o técnico Jorge Fossati defendeu o membro de sua comissão técnica, dizendo estar “110%” ao lado dele e revoltado pelo fato de as autoridades locais terem tratado o preparador como um criminoso.

Fossati, que trabalhou no Brasil em 2010 comandando o Internacional, se esquece, porém, que de lá para cá as coisas mudaram no país. Sobretudo no início deste ano, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que equipara o crime de injúria racial ao de racismo.

Antes, era comum jogadores e torcedores de países vizinhos virem ao Brasil e saírem impunes, mesmo identificados pela polícia por cometer atos racistas nos estádios. Como no ano passado, quando um torcedor do Boca Juniors pagou fiança e acabou liberado após ter sido detido na Arena Corinthians por causa de gestos racistas semelhantes ao do preparador do Universitario.

No entanto, a nova lei, que tornou a injúria racial crime imprescritível e inafiançável, além de aumentar a pena mínima para dois anos, obriga as autoridades brasileiras a tomarem medidas mais severas contra o racismo, incluindo o contexto do futebol que sempre julgou estar à parte da sociedade.

Logo, ao contrário do que reclama Fossati, quem comete o crime de injúria racial deve ser tratado como tal: um racista criminoso. Ainda que se respeite o direito à ampla defesa, não há como justificar tratamento diferente a Sebastián Avellino, que, além das testemunhas e policiais que registraram a ocorrência, foi flagrado por câmeras do estádio no momento em que rebatia provocações da torcida com gestos racistas.

Enquanto o preparador físico segue preso em São Paulo, o clube peruano cerra fileiras em defesa de seu profissional. Na última sexta-feira, jogadores e comissão técnica posaram com uma faixa desejando “força” a Avellino. Em todos os pronunciamentos desde a prisão, a diretoria do Universitario jamais condenou a atitude do preparador, reforçando que não se trata apenas de injúria racial, mas sim de racismo institucional.

Racismo institucional nada mais é que a prática racista por parte de instituições, sejam elas sociais, empresariais ou esportivas. No caso do Universitario, ao bancar a defesa incondicional de um funcionário preso por injúria racial, mesmo diante de imagens que comprovam o ato, o clube se torna conivente com o racismo.

De maneira parecida, a Conmebol tem se mostrado resistente em reconhecer a dimensão do problema em competições sul-americanas. Somente em 2022, após dezenas de episódios de racismo em sequência na Copa Libertadores, a confederação tomou providência para tornar mais rígido seu protocolo antirracista.

Entretanto, a maioria dos clubes que tiveram torcedores ou profissionais denunciados após a mudança só sentiu efeito no bolso, com o aumento das multas, já que a Conmebol segue evitando aplicar punições esportivas como interdição de estádio, perda de pontos e exclusão de torneios.

Se a entidade fosse realmente intolerante ao racismo como repete em seus discursos protocolares, o caso do Universitario deveria se tornar um marco, tal qual a prisão de Avellino no Brasil. Com tantas evidências da prática racista e da cumplicidade do clube, não é preciso esperar a reincidência para punir com rigor o racismo institucional do Universitario.

Com a partida de volta mantida para esta noite em meio ao sentimento de perseguição injustificado alimentado pela equipe peruana, é alto o risco de recepção violenta e até mesmo de novos atos racistas contra a delegação corintiana no Peru. 

Tudo isso acontece porque durante muito tempo não se tratou racistas como criminosos. E ainda tem instituição que insiste em fechar os olhos.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade