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Jogo da NFL desperta estereótipos preconceituosos contra o Brasil

Oposição de atletas à partida de futebol americano em São Paulo revela pechas incitadas por fake news e complexo de superioridade

4 set 2024 - 15h12
(atualizado às 15h18)
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Neo Química Arena receberá primeiro jogo da NFL em território brasileiro
Neo Química Arena receberá primeiro jogo da NFL em território brasileiro
Foto: Vinicius Alves/Agência Corinthians

Com ingressos esgotados, o jogo entre Green Bay Packers e Philadelphia Eagles, o primeiro realizado pela NFL no Brasil, tem despertado os mais variados estereótipos preconceituosos por parte de torcedores e, sobretudo, atletas nos Estados Unidos.

Resistentes à ideia de jogar em território brasileiro, AJ Brown, CJ Gardner-Johnson, Nick Gates e Darius Slay, jogadores do Eagles, reclamaram das condições de segurança no país, reforçando a velha pecha da violência como parte da identidade nacional. “Eu não quero ir para o Brasil. A taxa de crimes é alta”, disse Slay.

Embora o cornerback já tenha se retratado após a repercussão negativa de suas falas, várias fake news continuam sendo disseminadas em oposição à partida em São Paulo. Gardner-Johnson, por exemplo, chegou a compartilhar uma notícia falsa sobre um hipotético caos social no Brasil, supostamente alimentado por uma onda de crimes e o surto de doenças como pneumonia, asma e conjuntivite. “Vocês realmente acham que é seguro jogar lá?”, questionou CJ.

A delegação do Philadelphia Eagles desembarca no país nesta quarta-feira e, ao contrário do estereótipo associado à criminalidade, encontrará uma realidade não muito distinta de algumas grandes cidades dos Estados Unidos no que diz respeito aos indicadores de violência.

Enquanto o Brasil tem 840.000 pessoas mantidas em prisões, os EUA levam o título de maior população carcerária do mundo, com mais de 1,2 milhão de detentos. Apesar de registrar menos da metade do número de assassinatos cometidos em solo brasileiro, o país norte-americano é o quinto mais violento entre as nações mais ricas do mundo, com taxa de 4,8 homicídios a cada 100.000 habitantes.

Na Copa América realizada nos Estados Unidos, há dois meses, nem mesmo o investimento bilionário em estádios impediu uma invasão de torcedores na final do torneio, em Miami, que resultou em centenas de pessoas pisoteadas e feridas. No último sábado, Ricky Pearsall, calouro da NFL e jogador do San Francisco 49ers, foi baleado durante uma tentativa de assalto em São Francisco.

Inegavelmente, a violência é um sério problema no Brasil, mas não na proporção exagerada e sensacionalista que boa parte da mídia internacional insiste em pintar, contribuindo para a perpetuação de um rótulo injusto. Até porque a criminalidade não impediu o país de realizar eventos muito maiores que uma partida de futebol americano, como a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, com bem menos incidentes que os registrados este ano nos Jogos de Paris.

É legítimo que atletas protestem contra a NFL por não querer sair dos Estados Unidos para jogos em outros países. No entanto, usar o suposto medo da violência em um lugar habituado a organizar grandes competições esportivas como pretexto para isso só revela o lado perverso do egocentrismo e do complexo de superioridade estadunidense.

Fonte: Breiller Pires Breiller Pires é jornalista esportivo e, além de ser colunista do Terra, é comentarista no canal ESPN Brasil. As visões do colunista não representam a visão do Terra.
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