"Velho" lance livre mantém estatísticas de 50 anos
O basquete nos Estados Unidos mudou de diversas maneiras ao longo de décadas, dos arremessos simples às enterradas, dos curtos uniformes aos shorts até o joelho, da predominância de jogadores americanos à recente inclusão de estrelas internacionais. Mas uma coisa permanece marcadamente constante: o índice de acertos de lances livres.
Desde meados dos anos 1960, os jogadores universitários masculinos acertam cerca de 69% dos lances livres, o arremesso de um ponto sem defesa conquistado após uma falta. Em 1965, o índice era de 69%. Nesta temporada, enquanto os times se preparam para o torneio da NCAA, ele é de 68,8%. Ele já caiu para 67,1%, mas nunca alcançou os 70%.
Na NBA, a média gira em torno de 75% há mais de 50 anos. Jogadoras do basquete universitário e da WNBA chegaram a patamar semelhante ao dos homens - e pararam por aí.
A expectativa geral nos esportes é que o desempenho melhore com o tempo. Os atletas do futuro serão com certeza mais rápidos, lançarão mais longe, pularão mais alto. Mas o arremesso de lance livre representa um comportamento atlético peculiarmente teimoso. Em grupo, jogadores não ficaram melhores. Nem piores.
"É inacreditável", disse Larry Wright, professor adjunto de Estatística em Colúmbia, sobre seus estudos das médias anuais. "Quase não há diferença em 50 anos. Não dá para acreditar".
Existem indicadores em outros esportes que demonstram consistência similar, como acertos no golfe e no beisebol, mas nenhum deles tão direto quanto lançar uma bola em direção a uma cesta.
A consistência das porcentagens de lances livres se destaca quando contrastada com os arremessos à cesta do jogo em geral. No basquete universitário masculino, a porcentagem de arremessos à cesta ficou abaixo dos 40% até 1960, e então subiu gradualmente para 48,1% em 1984, ainda a maior registrada. O arremesso de três pontos foi introduzido em 1986, e a taxa geral de arremessos se acomodou em cerca de 44%.
Utah é um lugar tão bom quanto qualquer outro para descomplicar os números. O Estado é o lar de três dos 10 times líderes em lances livres na Divisão I masculina - o 1º colocado, Southern Utah (80,5%); o 4º, Utah (78% até o jogo de terça-feira contra o New Mexico); e o 7º, Utah Valley (77%, mas não reconhecido oficialmente pela NCAA, por estar em sua temporada final de status temporário como time da Divisão I).
Em meio a um treino rápido do Southern Utah em Cedar City na semana passada, o técnico Roger Reid mandou parar tudo. Os jogadores sabiam o que fazer. Ofegantes pela exaustão, silenciosamente formaram filas e fizeram seus lances livres. Um erro significava uma corrida em volta da quadra.
"Muitos técnicos ficam só no papo, mas quando pensamos que é possível ganhar ou perder jogos na linha de lance livre, é melhor garantir", disse Reid, que acredita que jogadores individuais e times podem melhorar seus lances livres por meio de técnicas melhores e repetição. Quando Reid chegou ao Southern Utah há dois anos, ele herdou um time na 217a posição em porcentagem de acerto de lances livres.
Existe pouca correlação entre porcentagens de lance livre e vitórias. Apenas um dos 25 melhores times arremessadores, o North Carolina, em 2º lugar, está também entre os 25 melhores na classificação da Associated Press. O Southern Utah tem um histórico de derrotas.
É por esse motivo, apesar de responsável por mais de 20% dos pontos no basquete universitário masculino e pouco menos de 20% na NBA, que os lances livres têm pouca atenção de técnicos, jogadores e fãs. Ou seja, mesmo algo considerado "livre" encontra impedimentos.
Ray Stefani, professor emérito da Universidade Estadual da Califórnia em Long Beach, é especializado em análise estatística esportiva. Um aprimoramento generalizado ao longo do tempo em qualquer esporte, disse, depende de uma combinação de quatro fatores: fisiologia (tamanho e físico dos atletas, talvez ajudados por drogas para melhorar o desempenho); tecnologia ou inovação (que podem ir do advento de máquinas de remo a treinar remadores com a prática de saltos em altura); treinamento técnico (mudanças na estratégia); e equipamento (como patins de gelo com amortecedores ou varas de fibra de vidro nos saltos com vara).
Esses fatores podem ajudar a explicar o motivo de recordes de natação serem quebrados a cada evento internacional, corredores ultrapassarem a barreira de uma milha em quatro minutos, chutadores no futebol americano ficarem cada vez mais precisos, jogos de boliche de 300 pontos não serem mais tão improváveis e home-runs terem crescido no beisebol.
"Não existe muito nesses quatro fatores que ajudariam o arremesso de lance livre", disse Stefani.
Força, por exemplo, não é uma vantagem relevante. Jogadoras da WNBA superaram seus colegas da NBA duas vezes nos últimos três anos, e as universitárias têm estado próximas à média masculina há duas décadas.
Não houve nenhuma inovação séria na forma pela qual o lance livre é arremessado em 50 anos. Os poucos que ainda usam uma mão a partir do peito para arremessar, ou mesmo algum estilo ardiloso, em geral usam uma versão com os pés no chão do arremesso mais comum de salto vertical. E embora jogadores internacionais tenham ajudado o índice de arremessos livres - Wright, o estatístico de Columbia, calculou que os jogadores estrangeiros na NBA estão 1,4 ponto percentual acima dos americanos nesta temporada - isso não explica totalmente por que a liga está ameaçando o recorde de 77,1% de 1974.
O equipamento também é praticamente o mesmo de 50 anos atrás. Houve pequenas alterações na bola, no aro e na tabela.
O que nos deixa com apenas um dos quatro fatores de Stefani capaz de afetar razoavelmente as porcentagens de lances livres: treinamento.
Técnicos estabelecem parâmetros de aceitabilidade para seus jogadores e times. A média, aparentemente, é cerca de 75% na NBA e 69% no basquete universitário.
Quando os números caem, eles dedicam tempo para melhorar o desempenho. Quando retornam, as outras facetas do jogo ganham prioridade.
"Muitos técnicos não querem dedicar tempo treinando isso", disse Blake Ahearn, ex-jogador do Missouri State que é o líder na NCAA de porcentagem de lances livres (94,6%) e agora lidera na NBA Development League como armador do Dakota Wizards. "Eles querem trabalhar na defesa, no ataque e nos esquemas".
Tradução: Amy Traduções