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'Conseguimos colocar algo moderno na NBA, uma transmissão em que todos podem interagir', diz Gaules

Maior streamer brasileiro usa formato que o consagrou nos esportes eletrônicos para trazer um novo público para o basquete

13 out 2021 - 17h06
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Esqueça aquela transmissão tradicional. Narrador, comentarista, repórter... O novo formato tem um anfitrião, os amigos (os membros da tribo) e interação. Muita interação. Maior streamer brasileiro e um dos maiores do mundo, Gaules usou sua experiência no eSports, principalmente com narrações de campeonatos de Counter-Strike, para se tornar um fenômeno com os jogos da NBA. A parceria começou durante os playoffs da temporada passada e foi ampliada para 2021-2022. Serão cerca de 100 partidas com exibição ao vivo pela Twitch, plataforma de streaming onde ele conta com três milhões de seguidores.

Em entrevista exclusiva ao Estadão, Gaules revela que aceitou o desafio sem pensar muito para não recusar, mas que o resultado compensou qualquer receio. Na temporada de estreia, quando narrou 15 jogos, incluindo o das finais da Conferência Leste entre Milwaukee Bucks e Atlanta Hawks, alcançou um pico de audiência de 142 mil dispositivos simultâneos e somou mais de 3,5 milhões de horas assistidas nas lives. O novo estilo de transmissão chegou para ficar e, em pouco tempo, deve ser adotado por outros esportes.

Após estrear nos playoffs, você terá uma temporada inteira pela frente... Qual sua expectativa?

Muito grande. Essa parceria é muito gratificante. Não é apenas por ser inovadora, mas era uma coisa que eu não sabia o que iria acontecer. Quando eu comecei com as transmissões no formato que eu tinha no Counter-Strike era algo fora do meu universo. Não sabia o que esperar, qual seria o feedback do público. Mas quando apresentamos uma proposta de aprendermos juntos, de ter esta companhia de pessoas que nunca tinham tido esta experiência ou até se afastado da NBA, isso foi incrível. São pessoas que não tinham com quem comentar ou assistir e agora voltaram a ter. Aprendemos muita coisa com os primeiros jogos e, com esse aprendizado, pegamos gosto pelo esporte e entendemos porque existe uma paixão global pela NBA. Agora, com esta possibilidade de ter uma temporada inteira, vamos estar muito mais ambientados. A gente conheceu um pequeno pedaço deste universo. São muitas equipes, muitos jogadores, muitas histórias...

O que você sabia da NBA antes de começar nesta jornada?

Michael Jordan (risos). O incrível de tudo isso é que se eu parasse para pensar, acho que eu não faria. Acho que eu não teria topado essa doideira. Eu me sentia preparado para fazer algo neste sentido, no formato que eu tinha, mas seria uma coisa de outro mundo trazer um esporte que ficou um pouco distante. O brasileiro sempre teve uma cultura de olhar, mas ter uma certa distância. O basquete é muito legal. O brasileiro gosta muito, mas só não tem oportunidade de acompanhar. Só em eventos ou ocasiões especiais. A NBA hoje está mais acessível. A transmissão em um canal da Twitch, para um público diferente, jovem, para pessoas que não são do basquete, em uma outra linguagem, já prova isso. Essa possibilidade me agradou bastante no projeto.

É um formato que veio para ficar?

Veio porque quando eu olhei o esporte eletrônico eu vi muita coisa que ele poderia se espelhar no esporte convencional, que é muito assertivo. Hoje temos outros formatos, eles mudaram. O meu universo é livestream, e ela tem ferramentas totalmente diferentes. Tem o chat, o dispositivo de mensagem de voz... São diversas ferramentas para interagir. A interação na televisão é limitada às redes sociais ou aquela participação do internauta, que é como se fosse um quebra-galho, algo rústico. O formato que acompanha o esporte eletrônico é mais moderno. Não tem pior ou melhor, mas o esporte eletrônico é moderno. Eu trouxe isso para o Counter-Strike e outros jogos que eu transmito. Hoje, na NBA, conseguimos colocar algo moderno, que todos podem interagir de uma maneira mais moderna do que o modelo convencional. Essa interação faz toda a diferença. E essas ferramentas só existem no nosso universo. A transmissão pode ser vista pelo celular, computador, notebook... É multiplataforma. Eu, quando era moleque, ficava muito doído de interagir com a TV, ligava no programa. Hoje o cara está te respondendo em tempo real, sua mensagem aparece na transmissão. Essa magia que acontece na transmissão, se eu fosse criança, adolescente, iria achar um mundo muito doido. É isso que eu trago e combina com a NBA, porque lá tudo é um espetáculo.

A NBA te escolheu pela facilidade de conversar com a chamada Geração Z (pessoas nascidas entre 1995 e 2010)?

Hoje vejo os pais, muitas vezes, em uma luta para convencer os filhos a assistir futebol, basquete... A molecada é que está convencendo os pais a ver Counter-Strike, League of Legends, ou qualquer outro esporte eletrônico na televisão, porque já chegou na televisão. E não que ele dependa das grandes emissoras. Você pode baixar um aplicativo, seja Youtube, Twitch, e acompanhar grandes transmissões. A molecada hoje é conectada, sabe onde está passando tudo. Para o esporte convencional falar com este público, ele terá de falar essa linguagem e não vai conseguir isso de uma forma tradicional. A NBA, não à toa, consegue se manter com uma relevância global porque ela está um passo à frente. Quando os outros estão pensando em o que fazer para rejuvenescer o público, a NBA já agiu. E estar na linha de frente, ser pioneiro nisso, é uma coisa muito gratificante. No futuro vão virar e falar que isso começou lá no Brasil.

Mas o fato de ir começar no Brasil gerou ciumeira nos gringos...

Quando teve o lançamento, eu vi muita gente nos Estados Unidos, das comunidades do basquete, questionando como um brasileiro fez isso? E teve uma resposta de um americano que me marcou: provavelmente ele teve coragem de ir lá e fazer. A NBA é tão grande, que muita gente tem esse receio, acha que é impossível. Quando nós conseguimos, o que eu senti é que foi o impossível, algo inalcançável, ainda mais uma transmissão oficial e no formato que nós fazemos. A mensagem que conseguimos passar é que todos podem sonhar se fizerem de uma forma profissional. É um caminho sem volta. Quando você coloca essa bandeira lá, você pode ter certeza de que pessoas do mundo inteiro estão querendo repetir, seja com NBA, NFL, futebol...

Você ficou receoso em não dar certo?

Quando anunciei, eu senti que era algo maior do que eu esperava. Eu tentei ser o mais natural possível porque se eu entrasse na onda de me transformar por causa da NBA não ficaria o formato que eu gosto, precisa ter uma verdade, uma identidade, e que eu me sinta confortável. Esse era o desafio. São muitas questões. O público do basquete pode achar que aquilo não era legal. Mas quando eu pude perceber que os números, até dos outros canais que transmitem, só cresceram, foi um sinal de que conseguimos trazer certa relevância para o assunto. Não pegamos os números de ninguém. Nós trouxemos um novo público. Viramos uma porta de entrada. Isso foi muito gratificante porque conseguimos contribuir com o basquete.

A sua primeira transmissão na temporada será Dallas Mavericks x Atlanta Hawks, de um jogador que você criou uma 'hype' absurdo, que foi o Trae Young...

Foi legal porque ele era um cara que era até alvo dos haters, o pessoal não gostava dele no Brasil. Gostamos do estilo dele jogar, da marra que ele tinha. Um dos integrantes da tribo, o Lindinho, que é muito carismático, ficou muito fã do Trae Young. Olhamos ele de uma maneira diferente, você tem outros pontos de vista ao compartilhar pensamentos. Ele joga desta maneira porque é baixinho e está lá no meio de caras grandes. Às vezes, você não percebe isso, acha que ele era apenas folgado. De repente, o jogo vira. Você simpatiza com o cara, porque entende e isso agrega muito. Você traz novos olhares para uma comunidade. O Antetokounmpo virou Oitentaconto. Surgiu tanta coisa legal. A gente trouxe um lado mais simples do basquete que eu acho que ficou elitizado nos últimos anos. Você não precisa saber falar o nome do jogador. Eu não sei falar os nomes. Isso faz com que essas pessoas se sintam mais em casa, é até uma maneira de humanizar.

Vamos ver o Gaules, em breve, em outros esportes?

Tenho uma equipe desde o ano passado, criamos uma empresa, que se tornou parte do grupo Omelete Company, sou sócio deles. Essa estrutura fez ser possível dar esses passos, buscar esses sonhos e entregar, porque são muitas coisas, durante, antes e depois. É um mundo muito profissional e temos uma equipe muito profissional. Estamos na rua em busca disso. Quem sabe será o futebol, Olimpíada, Fórmula 1, vôlei... São cases que vamos abrir portas. A NBA foi muito importante. Começamos com os dois pés direito. Fizemos com qualidade. É isso que queremos, colocar um espaço para que os esportes possam se conectar com outra audiência.

Estadão
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