WEC: Projeto de hypercars da Porsche pode estar perto do fim, afirma jornal alemão
Mesmo após vitória em Austin, rumores sobre a continuidade da Porsche no WEC se intensificam nos bastidores
A Porsche sem dúvida foi o grande nome do fim de semana de Austin do Campeonato Mundial de Endurance. Depois de uma corrida marcada por chuva, paralisações e disputas de tirar o fôlego, o carro #6 cruzou a linha de chegada e marcou a primeira vitória da equipe alemã na temporada. Todavia, esse destaque não permaneceu apenas nas pistas, especialmente por conta dos rumores que tomam conta do paddock sobre uma possível saída da montadora da principal categoria do endurance.
They braved the elements to bring P1 home👏#WEC #6HCota #Porsche pic.twitter.com/D23WMeFfPz
— FIA World Endurance Championship (@FIAWEC) September 8, 2025
Até o momento, não há um posicionamento oficial da marca e nem da equipe de fábrica, que é comandada pela Penske. Contudo, conforme indica o portal alemão AutoSports, a fabricante de carros passa por problemas financeiros, com queda de 91% no lucro no segundo trimestre de 2025, saída do índice DAX da bolsa alemã e uma onda de demissões. Além disso, há uma insatisfação crescente da diretoria da Porsche acerca do WEC.
Segundo o jornal, até Le Mans, apesar das especulações sobre a continuidade do projeto dos hypercars tanto no WEC quanto no IMSA, nenhuma decisão seria tomada de forma precipitada.
Em agosto, no IMSA, em Road America, o chefe da Porsche Motorsport, Thomas Laudenbach, chegou a afirmar que não seria necessário um novo aval da diretoria para continuar com os programas Hypercar até 2027, embora passassem por revisões anuais, como de praxe. Mas em Austin, no último fim de semana, o discurso parece ter mudado.
“Ainda é cedo para dizer como será o ano que vem, não temos pressa”, declarou Laudenbach, sugerindo que uma decisão ainda será tomada. Assim, o jornal alemão especula sobre a possibilidade de que um dos dois programas — IMSA ou WEC — seja encerrado.
Fontes internas afirmam que as decisões só serão tomadas quando a nova liderança da empresa estiver definida. O atual CEO da Porsche, Oliver Blume, deve se dedicar integralmente à chefia do Grupo Volkswagen. O novo CEO terá, logicamente, voz ativa sobre o futuro da marca nos campeonatos de Endurance.
Projeto Porsche 963
Em 16 de dezembro de 2020, a Porsche anunciou pela primeira vez que retornaria às principais classes das duas maiores séries de Endurance do mundo: o FIA World Endurance Championship (WEC) e o IMSA WeatherTech SportsCar Championship. A motivação para isso foi a decisão da FIA e IMSA de introduzir um conjunto comum de regras para os principais veículos a partir da temporada de 2023: protótipos híbridos na categoria LMDh (Le Mans Daytona hybrid).
O retorno da Porsche à classe principal do endurance — tanto no IMSA quanto no WEC, incluindo Le Mans — começou a tomar forma em maio de 2021, com o anúncio da parceria estratégica com a Penske. Juntas, elas deram origem à Porsche Penske Motorsport, equipe global responsável por comandar os dois programas oficiais da montadora. A Multimatic foi escolhida como fornecedora do chassi, entre os quatro fabricantes homologados para o regulamento LMDh.
A estreia da Porsche Penske Motorsport na IMSA, durante as 24 Horas de Daytona de 2023, marcou o início oficial de uma nova era para a montadora no endurance. O clássico americano serviu como primeiro grande teste para o Porsche 963, que mostrou potencial competitivo logo de cara, largando das primeiras filas e liderando voltas importantes com o carro #7. No entanto, questões de confiabilidade e ajustes operacionais impediram um resultado à altura das expectativas: os dois protótipos oficiais terminaram em sétimo e oitavo, gerando frustração dentro da equipe.
O início da campanha no WEC, em Sebring, também ficou abaixo do esperado, com a Porsche cruzando a linha de chegada em quinto e sexto. A partir dali, porém, o trabalho contínuo de desenvolvimento começou a surtir efeito — e a curva de desempenho da equipe cresceu de forma consistente nas etapas seguintes.
Em 2024, a equipe teve seu melhor ano no WEC, vencendo o campeonato de pilotos com Kévin Estre, André Lotterer e Laurens Vanthoor, e disputando até as últimas voltas o título de construtores, que ficou nas mãos da Toyota Gazoo Racing.
A temporada de 2025 do WEC, todavia, não começou da forma que a Porsche esperava, com resultados abaixo do que a montadora alemã estava acostumada. A primeira vitória, conquistada pelo carro #6, aconteceu apenas na sexta etapa do campeonato.
Até o momento, o modelo Porsche 963 participou de três edições das 24 Horas de Le Mans sem conseguir vencer — o melhor resultado conquistado pela equipe foi um vice-lugar na edição de 2025.
O fim do projeto Porsche 963
Encerrar um dos programas oficiais, seja IMSA ou WEC, traria uma economia de cerca de 50 milhões de euros por ano, segundo o AutoSports da Alemanha.
Apesar de muitos acreditarem na possibilidade de que, se um programa fosse cortado, seria o IMSA, por ser um campeonato regional, a constante insatisfação com o Campeonato Mundial de Endurance pode mudar a decisão da equipe.
A Porsche tem sido bastante crítica à forma como o WEC tenta equilibrar as duas subcategorias de hypercars (LMH e LMDh) via Balance of Performance (BoP). Em junho, mesmo com uma corrida quase perfeita nas 24 Horas de Le Mans, o carro #6 ficou em segundo lugar, e a diferença para a Ferrari vencedora foi atribuída à má calibragem da BoP. Laudenbach não escondeu a frustração.
“A derrota em Le Mans doeu muito, porque fizemos uma corrida perfeita. É uma das razões da nossa insatisfação com o WEC. O conceito de BoP do campeonato fracassou. A lista de melhorias para o WEC é longa.”, declarou.
Para o AutoSports, não é um segredo que Laudenbach prefere o IMSA — circuitos espetaculares, disputas mais intensas, menos BoP e corridas emocionantes graças às regras diferentes. Mesmo com penalizações do BoP após quatro vitórias seguidas em 2025, a Porsche segue liderando os dois principais campeonatos no IMSA e tem chances reais de título.
Futuro incerto no WEC graças ao BoP
Como citado por Laudenbach, um dos maiores tópicos de discussão do WEC são os problemas com o BoP.
A Porsche não é a primeira equipe a tecer críticas incisivas ao Balanço de Performance. David Floury, diretor técnico da Toyota Gazoo Racing Europe, lamentou em julho sobre a qualidade da ação na pista da divisão Hypercar do WEC durante 2025, rotulando-a como "uma temporada triste" e sugerindo que até agora ela não teve "corridas de verdade". É importante destacar que a TGR, equipe campeã de 2024, tem sofrido com o BoP na temporada atual.
Para mudar o sistema de balanceamento, todavia, seria necessário reformulá-lo completamente, eliminando subcategorias (LMH e LMDh) e unificando os conceitos técnicos — o que pode levar anos. Já no IMSA, onde só correm carros LMDh (com exceção da Aston Martin), o sistema é mais simples. E isso pode facilitar a aprovação do orçamento pela diretoria da Porsche.
Apesar do futuro incerto, na tabela do campeonato de construtores de 2025, a Porsche Penske Motorsport ocupa a vice-liderança, com 138 pontos somados em seis etapas, ficando apenas atrás da Ferrari AF Corse, que domina a temporada com 203 pontos.
O Campeonato Mundial de Endurance da FIA retorna no dia 28 de setembro para a sétima etapa da temporada 2025: as 6 Horas de Fuji, no Japão.