WEC: As dúvidas na mesa sobre o Hypercar da Ford para 2027
Ford anuncia que terá um Hypercar no WEC em 2027. Mas qual o carro? Motor? A Red Bull pode ajudar? Muitas dúvidas ainda...
Ao contrário do que alguns falaram pelas redes, não foi necessariamente uma surpresa o anúncio feito na semana passada pela Ford de sua entrada na categoria principal no WEC em 2027. Desde quando a montadora anunciou a entrada com os Mustang GT3 em 2024, se especulava esta possibilidade e nos últimos meses, a temperatura foi aumentando neste sentido.
Comandada desde 2020 por Jim Fahey, um fanático cabeça de gasolina, a Ford vem aumentando gradativamente seu envolvimento com competições, indo da NASCAR até ao Rally, incluindo a volta à F1 com a Red Bull e agora com o WEC e provavelmente o IMSA.
Claro que toda a imagem criada com a competição dos anos 60 em Le Mans com a Ferrari ajudou nesta decisão. Foi algo tão impactante que gerou até filme e mora no imaginário do fã de velocidade até hoje. Tanto que a rivalidade foi uma das primeiras coisas citadas nas redes, inclusive pelo próprio WEC.
Já tivemos um pouco desta competição de volta no WEC de 2016 a 2019 quando a Ford alinhou o GT40 Ecoboost na GTE e a Ferrari tinha o modelo 488. Agora, em 2024, o embate foi na LMGT3, com a Ferrari 296GT e o Mustang. A partir de 2027, podemos dizer que a disputa vai para a categoria principal.
Porém, muitas dúvidas surgem neste momento e vamos colocar algumas delas aqui.
Carro
Nesta sua empreitada, a Ford anunciou que vai usar um LMDh (Le Mans Daytona Hybrid). Ou seja, é o regulamento técnico do IMSA, que adota um sistema híbrido padrão (desenvolvido pela Bosch e a Fortscue Zero – antiga empresa de engenharia da Williams) e menos complicado tecnicamente do que o LMH (mais livre tecnicamente, porém mais caro).
Mas a dúvida que fica é: a Ford vai se basear em algum carro de sua linha ou partirá para uma folha em branco? Hoje, a marca tem uma versão do GT40, mas seria mais apropriado para categoria LMGT3 do que para o Hypercar. Talvez pegue o exemplo de sua concorrente Cadillac e faça um projeto novo, específico para competição, mas lembrando suas origens.
Muito provavelmente a Ford faça o desenvolvimento do carro com a sua parceira Multimatic, que trabalhou anteriormente no GT40 e faz o desenvolvimento dos Mustang atualmente em uso. E não podemos esquecer que os canadenses atuaram na concepção do Porsche 963...
Parêntese aqui. Cabe lembrar que temos 4 marcas habilitadas para construir os LMDh: Multimatic, Dallara, Ligier e Oreca. Os canadenses fizeram os Porsche, os italianos ficaram com BMW e Cadillac, franceses com a Lamborghini e a Oreca tem apoio com a Alpine e Acura (entenda-se Honda) e vai entrar com a Hyundai.
Motor
Por regulamento (tanto IMSA como WEC), o sistema combustão e híbrido de um LMDh não pode gerar mais do que de 750cv. Hoje, a Ford até poderia contar com o mesmo V6 3,5 litros turbo usado no GT40 anteriormente. Porém, se dá como certo que um novo V8 seria utilizado neste projeto.
Operação
Esta é uma dúvida grande, mas pode se especular que a Ganassi é a favorita para este trabalho. Não podemos esquecer que foi a equipe de Chip quem operou os carros oficiais no esforço entre 2016 e 2019 na GTE. Com o fim do acordo com a Cadillac, o time não tem ninguém em carteira tanto para o IMSA como o WEC. Se especulou na Hyundai, mas pelo menos no WEC, a francesa IDEC será a responsável. Já nos EUA...
Não podemos descartar a Proton, que faz hoje a operação dos Mustang GT3. Hoje, a equipe é cliente da Porsche nos Hypercar e não pode descartar a possibilidade de se tornar a operadora de fábrica também nos Hypercars.
E a Red Bull?
No momento seguinte do anúncio, foi a pergunta levantada por muita gente: a Red Bull entraria neste projeto com a Ford?
Teriam muitos ganhos aqui: primeiro, pelo lado mercadológico. Seria a união de duas marcas fortes, aprofundando a ligação iniciada na F1. Segundo, a Red Bull tem um grande conhecimento técnico acumulado para competição, o que permitiria usar parte dos recursos de Milton Keynes aqui (como faz a Ferrari, que aproveitou o teto de gastos para ter a desculpa perfeito para o seu Hypercar). Além claro do aproveitamento na área de motores
Sem contar que a Red Bull tem um Hypercar pronto: o RB17, o último grande projeto de Adrian Newey com os taurinos. E que poderia se enquadrar nos regulamentos de competição, mesmo caso do Aston Martin Valkyrie, que fará sua estreia este ano no WEC e no IMSA.E também concebido por Newey.
Porém, existem vários pontos aqui que prejudicam esta união:
- A Red Bull não é uma das marcas autorizadas a desenvolver e construir Hypercars. O processo de homologação é longo e talvez não desse tempo para 2027. O campo que os taurinos poderiam auxiliar seria no desenvolvimento aerodinâmico, respeitando todas as limitações regulamentares;
- O RB17, caso aproveitado aqui, se enquadraria no regulamento LMH (base FIA/ACO), mas livre tecnicamente, porém mais custoso. Sem contar que o carro usa um V10 aspirado, desenvolvido com a Cosworth (que não tem mais nada a ver com a Ford desde 2005);
- Sobre motores, aqui poderia haver uma colaboração mais efetiva, dada a experiencia taurina com os híbridos. Porém, por regulamento, o sistema híbrido dos LMDh é padrão. E pelo que indica, a Ford tende a usar as instalações da sua área de competições em Charlotte para desenvolver esta usina de força. Sem contar que, dada a complexidade do projeto F1, o projeto do Hypercar poderia ser uma "distração".
Nos próximos meses, teremos essas e outras perguntas respondidas. Todo caso, é preciso comemorar o envolvimento de mais uma grande marca com o Endurance e marca este grande momento da categoria no esporte a motor.