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Hamilton lembra racismo em início na F1: "Realizei meu sonho, mas não estava feliz"

Lewis Hamilton foi alvo de manifestações racistas de torcedores espanhóis durante testes da pré-temporada de 2008 e recordou por que não reagiu à época: "Nós reprimimos tantas coisas que não percebemos a dor que vivenciamos"

28 out 2021 - 06h53
(atualizado às 06h56)
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Lewis Hamilton foi vítima de racismo no início da carreira na F1
Lewis Hamilton foi vítima de racismo no início da carreira na F1
Foto: Mercedes / Grande Prêmio

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Lewis Hamilton fez história em 2007 ao tornar-se o primeiro piloto preto a competir na Fórmula 1. Logo no seu ano de estreia, o piloto lutou pelo título e desafiou o grande nome da época, Fernando Alonso, que havia sido contratado a peso de ouro pela McLaren depois de ter conquistado dois títulos pela Renault. Com o espanhol de um lado e o então jovem de 22 anos do outro lado da garagem da equipe britânica, o que houve foi uma grande batalha, na pista e nos bastidores, pelo título. No fim das contas, a taça de campeão ficou com o 'azarão', Kimi Räikkönen, da Ferrari. Alonso voltou para a Renault no ano seguinte e Hamilton seguiu com a McLaren, onde conquistou seu primeiro título mundial no ano seguinte.

Mas naquele começo de 2008, Hamilton foi vítima de manifestações racistas. Durante testes de pré-temporada em Barcelona, Lewis foi ofendido por torcedores locais, apoiadores de Fernando Alonso, ainda insuflados pelo que havia acontecido na temporada anterior. À época, a McLaren evitou ir além na defesa do seu piloto, enquanto a FIA (Federação Internacional de Automobilismo) foi mais incisiva e ameaçou até retirar o GP de F1 de Barcelona.

ANÁLISE

Lewis Hamilton refletiu sobre como lidou com o racismo no início da carreira e como lida hoje (Foto: Mercedes)

Ainda no seu início de trajetória na Fórmula 1, Hamilton optou por não se manifestar. Hoje, reconhecidamente uma das grandes vozes ativas em todo o mundo contra o racismo e qualquer tipo de discriminação, Lewis justificou o silêncio naquele início de fevereiro de 2008.

"Lembro-me do primeiro ano em que vim para o esporte e vivenciei o racismo desse público. E ninguém falava nada", recordou o piloto em entrevista à revista da publicação norte-americana Wall Street Journal.

Por isso, em que pese ter chegado a realizar um sonho de infância ao virar piloto de Fórmula 1, Hamilton não conseguia se sentir totalmente bem. "Não estava feliz. Realizei meu sonho, mas não era eu, não podia ser eu, e eu não tinha confiança em mim mesmo na época, então simplesmente me mantive calado. Nós reprimimos tantas coisas que não percebemos a dor que vivenciamos", explicou.

Hamilton faz atualmente sua 15ª temporada como piloto de Fórmula 1. Consagrado como heptacampeão mundial e um dos maiores de todos os tempos, Lewis se vê no meio como alguém diferente dos demais. E não somente pela sua cor.

"Os pilotos têm de ser quadrados para chegar à Fórmula 1. Você tem de trabalhar duro, ir para a cama às 22h… Nenhum piloto trabalhou na moda, nenhum piloto fez qualquer outra coisa de diferente… Então, lembro de estar lá e pensar: 'Sou diferente'. Gosto de fazer todas essas outras coisas", disse.

"No começo, pensei que tinha de me ajustar à maneira como as pessoas queriam que eu fosse e não me sentia confortável", lembrou.

Lewis reiterou que passou a ter uma postura mais incisiva e combativa contra o racismo a partir de meados do ano passado, quando George Floyd foi assassinado por um policial em Minneapolis, nos Estados Unidos. O piloto da Mercedes saiu das redes sociais e foi às ruas em Londres para protestar e pedir justiça. O silêncio deu lugar a uma das vozes mais ativas na luta contra o preconceito e em defesa do povo preto.

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"Estou no meu 14º ou 15º ano… Olhei as fotos da comemoração da equipe e percebi que as equipes ainda são completamente brancas. Há muitas poucas pessoas de cor e me perguntei como isso poderia estar acontecendo depois de estar aqui por tanto tempo. Então, tudo o que aconteceu depois da morte de George me atingiu fortemente. Não consegui acreditar que tantas pessoas ainda estavam em silêncio sobre o que havia acontecido", declarou.

Desde então, Hamilton abraçou por completo a luta contra o racismo. O hoje homem vitorioso de 36 anos e dono de 100 vitórias e 101 poles na Fórmula 1 olha para o que reprimia sua voz há 13 anos sem mais ter medo de qualquer reação quando se manifesta para protestar contra uma das piores chagas da humanidade.

"Portanto, agora estou disposto a arriscar meu emprego, minha reputação, não me importo. Quero que a comunidade negra saiba que eu os escuto e que estou com eles", encerrou o heptacampeão Lewis Hamilton.

Grande Prêmio
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