F1: O pódio de Hulkemberg (ou quando há justiça no automobilismo)
O que parecia algo que não aconteceria nunca, veio: Nico Hukemberg conseguiu seu pódio na F1. Existe justiça no mundo do automobilismo
Embora seja um campo onde a máquina prevalesça muitas vezes, não podemos esquecer que, por trás de todo o trabalho e cálculos, existem seres humanos. E são as histórias humanas que preenchem de emoção a frieza da engenharia do esporte a motor.
Quantas histórias lemos e ouvimos de grandes feitos. E hoje foi um daqueles dias.
Sinceramente espero que o dia 06 de julho de 2025 entre na história nem tanto pela primeira vitória de Lando Norris em Silverstone. OK, foi a 25ª vitória britânica em em casa e não se pode descartar isso. Mas que seja lembrado pelo terceiro lugar de Nico Hulkemberg.
Foi um daqueles momentos de alegria genuína do paddock e do publico. Fez lembrar que, por alguns instantes de tempo, existe algum resto de sentimento humano nesta selva que é a F1. O júbilo da Sauber e de tantos outros contagiou. E a própria reação de Hulkemberg. Embora se saiba que o germânico seja conhecido por sua sisudez e frieza, não foi possível deixar passar.
Foi a redenção de um piloto que, quando chegou à F1, em 2010, era tido como um futuro campeão. Seus resultados na base não deixavam mentir e seu estilo e abordagem indicavam que era tudo uma questão de tempo. A pole position no Brasil em sua primeira temporada em uma Williams que não era a melhor do lote dava a entender que era uma questão de tempo para que a glória chegasse.
Mas ela não veio.
A idea para a Force India parecia uma escolha lógica naquele momento, mas o inicio dos problemas financeiros de Vijjay Malliya já cobravam a conta e, de potencial piloto campeão, Hulkemberg foi se transformando naquele caso de "tinha que ser e não foi". Inclusive houve uma passagem rápida pela Sauber em 2013, em um momento não tão bom do time suíço.
Em 2014, volta para a Force India e também se envolve com o programa da LMP1 da Porsche no FIA WEC, especialmente visando Le Mans. A vitória em La Sarthe veio no ano seguinte, enquanto acumulava a campanha da F1.
Mesmo que os resultados não traduzissem sua capacidade, a sorte parecia sorrir em 2017 quando a Renault o escolhe para ser um de seus titulares. Passou a ser um consenso que era definitivamente O momento para Hulkemberg, já que um time de fábrica dava espaço para o piloto em um contexto em que os franceses pareciam comprometidos a voltar às vitórias.
Mas o prato que parecia ouro, virou lata. Ladeado primeiro por Joylon Palmer, Carlos Sainz Jr., e depois por Daniel Ricciardo, Hulkemberg se viu perdido no meio de mais um "projeto de futuro" da Renault e o pódio pareceu tão perto na sua corrida local, em 2019. Porém, graças a uma escapada, tudo foi a perder.
Ao final daquela temporada, sua imagem estava em baixa.Tanto que a Renault decidiu mudar sua dupla para 2020 e Hulkemberg ficou perdido. A opção que restou foi ser piloto reserva da Force India. Veio a COVID-19 e o alemão teve sua chance ao substituir Sergio Perez nos GPs da Gra-Bretanha e de 70 anos (ambos em Silverstone). No primeiro, em cima da hora, classificou em 13º, mas não largou graças a um problema de motor. Na semana seguinte, chegou a andar em 4º lugar, mas graças ao consumo excessivo de pneus, teve que fazer uma parada extra e ficou em 7º lugar. No GP de Eiffel, em Nurburgring, substituiu Stroll e fez uma otima corrida, chegando em 8º após largar da última posição.
Estas exibições o colocaram de novo em evidência. Porém, não lhe garantiram um lugar de titular na F1. Novamente ficou como reserva, mas agora da nova Aston Martin. Neste ano, chegou a testar um Indy em Barber pela McLaren. Mas abriu mão de um contrato por não se sentir a vontade para pilotar em ovais e achar o Dallara mais dificil de pilotar do que um F1.
Em 2022, seguiu na Aston e substituiu Sebastian Vettel na primeira prova do ano no Bahrein, sendo sua unica aparição oficial naquela temporada. Tanto que foi surpreendente quando a Haas o anunciou como um de sus titulares para a temporada de 2023 ainda mais ao lado de Kevin Magnussen, com quem teve um bate-boca na frente das câmeras alguns anos antes graças a encontrões na pista....
As temporadas na Haas mostraram que Hulkemberg poderia entregar ainda bastante. Mesmo com as restrições técnicas do carro, o alemão demonstrou ritmo e um ótimo entendimento de prova, conseguindo alguns bons desempenhos nas temporadas. E surpreendentemente a relação com Magunssen se mostrou muito construtiva, mas com alguns "encontros imediatos" nas pistas...
Chamou a atenção mais uma vez quando a Sauber, já dentro do projeto Audi, confirmou que Hulkemberg seria o líder do projeto do time na transição para a equipe de fábrica. Não foram poucos os que chamaram de "falta de ousadia" ou "deixar um papel tão importante na mão de um piloto que nunca mostrou grande coisa".
Mas os resultados falaram. Mesmo com um carro deficiente, Hulkemberg conseguiu entregar. O 3º lugar após 239 GPs foi o premio pela competência em aliar sorte, competência e boas chamadas pelo time. Ha de se entender que muitas vezes, o piloto faz a estrategia funcionar ou se coloca em posição de aproveitar oportunidades. Foi que aconteceu neste GP da Grã Bretanha.
Um dos dogmas da F1 contemporânea caiu e com grande alegria do público. Agora, o título de piloto com mais GPs sem subir ao pódio passa para Yuki Tsunoda, com 99 GPs. E Hulkemberg agora pode dizer que subiu a um pódio na F1. Um grande animo para si e para a Sauber neste processo de transformação. Com certeza, já é uma das grandes páginas da F1 2025 e dos ultimos tempos.
Obrigado, F1. Já que a comemoração dos 75 anos não foi tão marcante no circuito onde tudo começou, uma bela página foi mais uma vez escrita aqui
Danke, Nico. (Obrigado, Nico). A alma do automobilismo ainda segue viva e faz justiça mais uma vez.