F1, FIA e Comissários: o pior erro sempre será o próximo
Embora as regras e os parâmetros de avaliação nunca estiveram tão disponíveis para o público, cada vez mais a FIA se enrola para aplicá-los
Há uma máxima futebolística que diz “Se o juiz não foi citado durante o jogo, é porque ele fez um bom trabalho”. Talvez possamos fazer este paralelo com as corridas. Afinal de contas, os Comissários e o Diretor de Provas têm a mesma função do Árbitro de Futebol: garantir que tudo corra da melhor forma possível, dentro das regras acordadas.
Até aí, tudo certo. A ideia é sensacional, mas o problema são os detalhes. Tal como nas quatro linhas, na hora de aplicar as regras, quem deveria tomar conta acaba se enrolando e toma conta do cenário no lugar das estrelas do espetáculo...
Não é de hoje que Diretores de Prova e Comissários se enrolam nas corridas. Até mesmo o multicampeão Juan Manuel Fangio não passa batido: no GP da Argentina de 1979, ocupando o posto de comando da prova, errou na contagem das voltas e terminou uma volta antes.
As decisões dos Comissários e da Direção de Prova sempre estão sobre avaliação e sempre haverá discussão. No caso da F1, principalmente após Abu Dhabi 2021, há uma preocupação de deixar a base de decisões mais claras a todos. Até o famoso documento de diretrizes de postura de pilotos foi disponibilizado no site da FIA para consulta.
Entretanto, mesmo com muitas definições em regras e até mesmo durante os briefings, ainda há um fator interpretativo forte no processo. E aqui começa a questão...
Comissários e o Diretor de Prova tem acesso a uma torrente de informações para suas ações: uma cascata de imagens, telemetria, informações dos postos de controle, banco de dados de decisões anteriores...No primeiro ponto, falamos não somente das câmeras de transmissão, mas também as de circuito fechado. Em uma conversa com Eduardo Freitas, Diretor de Provas do WEC e que já passou pela F1, lembrou que as imagens da TV algumas vezes são as piores para se tomar alguma decisão...
Mesmo assim, o fator humano está ainda muito presente. E temos que lembrar que o Diretor de Prova não é o principal responsável. Em termos de punições, por exemplo, ele simplesmente reporta a ação dos Comissários. No caso da F1, você tem um corpo de análise e quatro principais: dois indicados pela FIA, um indicado pela Federação Local e um ex-piloto, para dar a visão de quem esteve em pista.
O GP da Cidade do México acabou sendo um exemplo de que o grupo que comanda as avaliações acabou por desagradar a vários. Cumpre acreditar que não há um direcionamento para piloto A, B ou C. Porém, dá muito combustível a quem acredita em ações deliberadas para favorecer pilotos e equipes...
As ações de Max Verstappen foram questionadas. Neste domingo, tivemos um pouco do “Max do Velho Testamento”. Não é de hoje que se busca a ação do “let they race” (deixe eles correrem), mas se busca observar limites. Não foram poucos os que questionaram a falta de punições. Aí entra a questão da avaliação do time de Comissários.
Talvez o ponto mais alto de reclamação tenha sido a ativação do Carro de Segurança Virtual (VSC) na penúltima volta da prova. A transmissão não exibiu, ficando somente disponíveis as imagens da câmera onboard do carro de Carlos Sainz e que inundaram as redes sociais. Naquela hora, a ativação não foi clara. E quando as imagens das câmeras da Williams apareceram, a gritaria foi geral...
Why the Virtual Safety Car was used on Lap 70 in Mexico... ⚠️⤵️
Carlos Sainz spun and stopped at Turn 14 and the car began smoking, meaning marshals would need to enter the track causing a VSC to be deployed 👇#F1 #MexicoGP pic.twitter.com/WspBSb8Zyz
— Formula 1 (@F1) October 27, 2025
Em uma explicação após aprova, quando até se preocupou em divulgar uma imagem, a FIA declarou que, por existir o comunicado de fogo pelos fiscais, o procedimento padrão de ativação do carro de segurança virtual foi ativado, mesmo com o carro estando em uma zona fora da pista e praticamente dentro de uma área de escape.
Explicou, mas não justificou. Até porque já vimos situações semelhantes sendo resolvidas com bandeira amarela localizada e sem problemas para a continuidade da prova.
Mais uma vez, Rui Marques (Diretor de Prova) e os Comissários estiveram na linha de fogo e saíram do México sobre inúmeras críticas. Algumas injustas, outras que até se podem considerar. Mais uma vez, volta à pauta a instituição de um corpo permanente de Comissários para uniformizar as decisões. Bem Sulayem, virtual Presidente reeleito da FIA, reconhece o problema, mas só deve tomar alguma ação neste vespeiro após sua recondução ao cargo em dezembro (salvo algum escândalo).
Deve se reconhecer a penosa posição dos fiscalizadores de regras. Porém, eles têm que se ajudar. E o pior erro da F1 é sempre o próximo.