F1: 40 anos atrás, a F1 começava para mim
Quando se é criança, muitas memórias se perdem. Mas outras ficam para sempre. O 21 de abril de 1985 não foi só a vitória de Senna.
21 de abril é uma data significativa em vários sentidos. Neste dia, Roma comemora sua fundação (753 a.C), bem como Brasília (65 anos). Neste dia também é marcada a morte de Tiradentes, tido como um dos heróis brasileiros, e de Tancredo Neves, que foi eleito Presidente em janeiro de 1985, mas não tomou posse. Para os fãs de automobilismo, marca a primeira vitória de Ayrton Senna, no GP de Portugal de 1985.
Muito já se falou sobre esta corrida (aliás, tem um artigo muito bom aqui no Parabólica sobre isso). Mas quero dar uma visão pessoal sobre esta prova...
À esta altura, tinha acabado de completar 5 anos e passava por uma situação muito marcante para mim: o falcimento de meu pai, 15 dias antes. Para uma criança, certas coisas marcam e outras não. Confesso que não tenho tantas lembranças deste período. Porém, existem situações em nossas vidas que são destinadas acontecer. Destino, Maktub...muitos nomes podem ser dados.
Minha alma foi capturada definitivamente pelo automobilismo em 12 de abril de 1987 ao ver a Brabham de Ricciardo Patrese arrancando em minha frente em Jacarepaguá. O começo foi em 21 de abril de 1985...
Normalmente, o mundo de automóveis e automobilismo são introduzidos por pais ou algum parente próximo. No meu caso, pareceu algo inato. Desde os meus 2/3 anos, já diferenciava os carros nas ruas e tão logo me alfabetizei, Quatro Rodas passou a ser um item de leitura (e desenho também, não dá para negar. Outro dia encontrei um raro exemplar salvo da minha infância e a caneta esferografica trabalhou bonito ali).
Naquele 21 de abril, estava na casa de amigos de minha mãe e lembro de parar para ver aqueles carrinhos se movimentando. Chamou a atenção aquele carro preto que tinha uma grande mancha amarela. Naquele tempo mal se sabia o que era carro ou um capacete. O que se via era simplemente um carro muito diferente andando naquele tremendo aguaceiro.
Aos poucos, dentro do meu discernimento, procurava entender o que via e ouvia. A dupla Galvão Bueno e Reginaldo Leme dava o seu testemunho, com uma qualidade de som terrível e uma imagem longe de ser das melhores. Mesmo sem entender muito, dava para compreender que o que acontecia ali não era algo corriqueiro...
Somente anos depois é que fui rever esta prova na íntegra e entender todo o seu contexto: uma Lotus histórica, que quase fechou e não vencia desde 1982; a confirmação de um talento que era esperado por toda a F1; mais um brasileiro que vencia na F1 e poderia seguir com a sequência estabelecida por Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet.
Esta corrida foi a primeira que me faz parar e ver a F1. Chamar a atenção para aqueles carros multicoloridos que davam voltas e mais voltas em alta velocidade. Era o chamado do automobilismo vindo ativar algo dentro de mim. Confesso que nao me lembro de ter visto mais alguma corrida naquele ano. Mas meu quarto já tinha posters daquele carro preto que venceu naquele 21 de abril de 1985. E desde o GP do Brasil de 1986, a F1 se tornou um programa praticamente obrigatório de domingo desde então.
A história tratou de tornar esta data marcante para a F1. O destino fez ser inesquecível para mim. Todos nós temos estes momentos decisivos em nossa jornada. Quando são alegres, vale muito revisitar. E se estou aqui podendo dividir com vocês, é por este GP de Portugal.
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