Tentações imprudentes de gastança de Lula permanecem após quatro anos de crescimento do PIB
Quanto menos o chefe do governo seguir a prudência recomendada pelo ministro Haddad, maior será a conta apresentada, num futuro bem próximo, às famílias brasileiras
Com avanço de 3,4% em 2024, o Brasil completou quatro anos consecutivos de crescimento econômico, além de acumular potencial para se manter em expansão. Governo e setor privado investiram em máquinas, equipamentos, construções e outros bens produtivos pouco mais de R$ 2 trilhões, soma equivalente a cerca de 17% do Produto Interno Bruto (PIB), estimado em R$ 11,7 trilhões. Em 2023, o investimento produtivo havia ficado em 16,4%. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Apesar do aumento, o valor aplicado na expansão e na modernização do potencial produtivo continuou proporcionalmente menor que o observado em outras economias emergentes, onde esse investimento frequentemente supera 18% e até 20% do PIB. Além disso, em dois dos últimos seis anos — em 2020 e em 2023 — houve redução, no Brasil, do valor investido.
Com juros menores e melhor aplicação do dinheiro público, o Brasil poderia destinar maior volume de capital ao sistema produtivo, melhorando suas possibilidades de crescimento no médio e no longo prazos. Mais arrumado e com perspectiva de maior segurança, o País poderia também atrair mais investimentos de fora. Como resultado, maior dinamismo econômico proporcionaria melhores e mais amplas oportunidades de emprego, num processo de crescimento sustentável e independente de medidas populistas.
Uma redução significativa e sustentável dos juros depende, no entanto, de menor risco inflacionário e de maior segurança quanto à evolução das contas públicas. Para tomar esse rumo, o governo deveria seguir padrões mais próximos daqueles defendidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e bem diferentes daqueles valorizados até agora pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por líderes do PT.
Sem essas condições, o aumento do emprego, a elevação da renda e o crescimento do consumo observados no último ano podem ser comprometidos por pressões inflacionárias e pelas incertezas quanto às finanças governamentais. No ano passado, as famílias gastaram em consumo 4,8% mais que em 2023, descontada a inflação. Mais empregos, juros menores e transferência de renda favoreceram esse resultado.
Com crédito mais caro e perspectivas econômicas mais incertas, as perspectivas de consumo são menos promissoras. No mercado financeiro, as expectativas dos agentes consultados na pesquisa Focus pouco têm mudado nas últimas semanas. Seguem apontando crescimento econômico pouco superior a 2% em 2025 e abaixo de 2% nos anos seguintes. A inflação projetada continua acima de 5,5% neste ano, superior a 4% em 2026 e acima da meta de 3% nos anos seguintes.
O resultado geral de 2024 foi prejudicado por problemas climáticos. A produção agropecuária foi 3,2% menor que a de 2023, com perdas de 4,5% na produção de soja e de 12,5% na de milho. A menor produção de carne também complicou a gestão do orçamento familiar na passagem de 2024 para 2025. Somadas a esses problemas, a proximidade das eleições de 2026 e a perda de popularidade do presidente podem aumentar a tentação de ações imprudentes, incluída a gastança. O presidente Lula tem evitado, até agora, respostas populistas — custosas e ineficientes — aos novos problemas. É difícil estimar até quando ele manterá essa disposição. O resultado de uma eventual mudança, por enquanto apenas hipotética, é previsível. Quanto menos o chefe do governo seguir a prudência recomendada pelo ministro Haddad, maior será a conta apresentada, num futuro bem próximo, às famílias brasileiras.
