Tarcísio diz que vai articular com governadores dos EUA para pressionar Trump contra tarifas de 50%
Em reunião com empresários, governador de SP não cita Lula e defende diálogo com chefes de Estados americanos para mostrar que tarifaço pode elevar preços nos próprios EUA
Em reunião com empresários nesta terça-feira, 15, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou que vai buscar o apoio de governadores e senadores dos Estados Unidos para reverter a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente Donald Trump. O encontro contou com a presença do encarregado de negócios da embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar.
Três pessoas presentes na reunião relataram que Tarcísio pretende pressionar suas contrapartes — governantes de Estados como Flórida e Nova York — para mostrar que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros pode elevar os preços para os consumidores americanos. A expectativa do governador paulista é que chefes de Estado e congressistas pressionem o governo Trump a recuar.
Segundo um secretário de Tarcísio ouvido reservadamente, canais de diálogo com Estados americanos existem há muito tempo e o objetivo agora é usá-los para buscar ajuda para reverter as tarifas. Ele relatou que governos estaduais brasileiros mantêm uma relação "paradiplomática" com os entes subnacionais dos Estados Unidos, disse que a relação diplomática cabe aos governos nacionais e minimizou a crítica de aliados do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de que Tarcísio estaria usurpando uma competência federal.
Na reunião, o governador paulista não fez críticas ao governo Lula e falou na importância da cooperação e diálogo neste momento, um ajuste de rota de Tarcísio — inicialmente, ele responsabilizou a gestão petista pela tarifa. Também foi discutida no encontro a possibilidade de os próprios empresários mostrarem aos seus parceiros americanos os impactos negativos da taxação.
Um empresário que participou da reunião e preferiu não se identificar descreveu a fala do governador como "genérica" e afirmou que os demais presentes defenderam uma saída diplomática para reduzir a tarifa. Para ele, o encontro, na verdade, teve como principal objetivo ajudar Tarcísio a desfazer a imagem de quem politizou o debate.
Em nota divulgada horas após a reunião, o governo de São Paulo reforçou "seu compromisso com o produtor, empresários e agronegócio paulista" e declarou que "fará todo esforço necessário para garantir o melhor desfecho ao setor produtivo, bem como seus milhões de empregos gerados direta e indiretamente".
O mesmo empresário relatou que Tarcísio entregou a Gabriel Escobar uma apresentação com dados sobre o impacto financeiro do tarifaço para o Estado de São Paulo e pediu que ele levasse essa preocupação ao governo americano. Escobar ouviu representantes de diversos setores e fez uma fala breve, na qual defendeu que o Brasil precisa melhorar as condições para investimento e abrir mercados para os Estados Unidos. Acompanharam o encarregado de negócios Natalia Arenas, chefe-adjunta da Seção Político-Econômica da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil e Benjamin Wohlauer, cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo.
Entre os presentes estavam o ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, o diretor administrativo da Indusparquet, José Antônio Baggio, além de representantes da Embraer, Usiminas, Cosan e de outras 13 empresas ou associações de setores como café, máquinas, carne, citricultura, energia, papel e celulose, madeira, transporte de cargas e setor sucroalcooleiro.
Após o encontro, Skaf disse por meio de nota que cerca de 20 empresários participaram da reunião e que foi ressaltado que todos os esforços devem ser feitos no campo diplomático.
"O momento exige maturidade, firmeza e cooperação: é fundamental que se esgotem todas as medidas de negociação e que o diálogo prevaleça, sempre com base nos interesses da economia real e da competitividade da indústria brasileira", afirmou o ex-presidente da Fiesp.
A reunião no Palácio dos Bandeirantes ocorreu de forma simultânea ao encontro promovido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) com representantes da indústria brasileira em Brasília. Estavam presentes nomes como o atual presidente da Fiesp, Josué Gomes, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Ricardo Alban, e o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto.
Presidente do comitê interministerial criado para liderar as negociações, Alckmin disse que o governo fez contato com industriais americanos para mostrar que a elevação da tarifa tornará os produtos americanos mais caros.
Na véspera, o vice-presidente disse não ver problema na reunião realizada pelo governo paulista, mas os encontros simultâneos foram lidos como uma disputa por protagonismo diante da crise - Tarcísio pode tanto disputar a Presidência contra Lula como a reeleição em São Paulo contra Alckmin em 2026 se o vice-presidente decidir se candidatar a governador novamente.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tem adotado uma postura diferente da de Tarcísio. Ele defende que somente a aprovação de uma anistia "ampla, geral e irrestrita", que beneficiaria o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), é capaz de reverter a decisão de Trump.
Eduardo criticou mais uma vez nesta terça-feira a estratégia adotada pelo governador paulista. O governador afirmou em uma entrevista no sábado, 12, que a priorização da anistia é uma questão de "ponto de vista" e que, como chefe do Executivo paulista, precisa defender os interesses das empresas do Estado. Os dois são cotados como candidatos a presidente da República em 2026 no lugar do inelegível Bolsonaro.
"Prezado governador Tarcísio, se você estivesse olhando para qualquer parte da nossa indústria ou comércio estaria defendendo o fim do regime de exceção que irá destruir a economia brasileira e nossas liberdades. Mas como, para você, a subserviência servil às elites é sinônimo de defender os interesses nacionais, não espero que entenda", escreveu Eduardo Bolsonaro no X.