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Startups brasileiras começam a pensar cada vez mais na solução de problemas globais, e não só locais

Evento Brazil at Silicon Valley tem como um dos objetivos buscar incentivar a 'visão global' nos empreendedores brasileiros

19 abr 2025 - 14h12
(atualizado em 21/4/2025 às 11h50)
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Ao longo das últimas décadas, o Brasil aprendeu a criar empresas de base tecnológica com grandes ecossistemas, assim como o Vale do Silício, Israel ou a China. Mas uma característica costuma marcar a maioria das startups de sucesso daqui: em vez de atacarem um problema universal, elas costumam focar suas atenções no País de dimensões continentais ou, no máximo, na América Latina.

É um paradigma que aos poucos tem mudado - e empresas como Wellhub, Pipefy e Cloudwalk servem de exemplo -, mas que a Brazil at Silicon Valley (BSV) planeja incentivar. Em sua sétima edição, a conferência realizada no espaço de eventos do Google entre os dias 21 e 23 de abril quer abrir cada vez mais portas para os empreendedores brasileiros pensarem de maneira global. O Estadão é um dos patrocinadores do evento.

"Inovação é olhar por outro ângulo um problema que se quer atacar. O que pode ser melhor do que sair do seu quadrado, se expor para o diferente e voltar renovado para o problema?", propõe Iona Szkurnik, CEO da startup de educação Education Journey e cofundadora da Brazil at Silicon Valley (BSV). "Ser empreendedor é conseguir entregar uma solução, mas inovar é conseguir entender como esse problema pode ser resolvido de maneira diferente - e é algo que as empresas do Vale fazem desde sempre, pensando de maneira curiosa, testando e fazendo benchmarks."

É algo que Iona não fala da boca para fora: formada em psicologia e com mestrado em Educação por Stanford, ela trabalhou por anos no Vale e se acostumou a um universo multicultural. "Nos EUA, eu trabalhei com não americanos de maneira constante: lá, tem gente de todo lugar. Minha equipe tinha um colega de Trinidad e Tobago, outro do Sri Lanka, e isso vai te fazendo pensar de forma diferente. Além disso, é uma cultura que te empurra para ir sempre ao lugar em que você não conhece ninguém - até porque matematicamente a chance de fazer conexões é de 100%", diz.

É uma característica que a Brazil at Silicon Valley busca recriar ao reformular, todos os anos, sua lista de 600 convidados para o evento. "Queremos demarcar a importância de renovar o networking, e por isso escolhemos a dedo quem vai estar ali para oxigenar a troca de ideias", explica Iona.

É algo que Anderson Thees, diretor-geral da organização de incentivo ao empreendedorismo Endeavor Brasil, ecoa. "A concentração do que acontece no Vale é enorme e a conferência tem um papel importante de permitir esse contato", diz. Para ele, que foi pioneiro ao fundar o hoje inativo fundo Redpoint Ventures e estará na BSV este ano, o significado do evento tem se transformado. "Antes, a transferência era de conhecimento. Agora, a transferência é de talento, com brasileiros empreendendo no Vale, estreitando laços e até desmistificando essa ideia de que não dá pra fazer."

Ponto de vista

Na hora de começar sua empresa, Iona não teve dúvidas ao escolher o local de fundação: os EUA, buscando vender para todo o planeta. Para a empreendedora, existem diversos empecilhos que fazem com que muitos empreendedores brasileiros olhem para "o seu quintal". O primeiro, claro, é geográfico: além de os custos para estar em contato com outros países serem mais altos, o Brasil tem dimensões continentais e um mercado consumidor gigante a ser explorado. "Um mercado europeu é limitado, então isso já força o europeu a olhar pra fora", exemplifica.

Voltada a auxiliar funcionários de empresas a criar suas próprias trilhas de desenvolvimento profissional, a Education Journey cresceu quatro vezes em 2024, com mais de 10 mil conteúdos cadastrados em sua base de dados. Para 2025, a meta da empresa é crescer em 330% a base de usuários, aumentar a receita exponencialmente e expandir sua atenção para diferentes países - a Argentina é um dos principais mercados, aposta Iona. "Hoje estamos em velocidade de cruzeiro, aplicando muito a inteligência artificial no produto. É um tema que deu urgência para as empresas correrem com educação corporativa", diz.

Na visão de Thees, a fase de popularização da inteligência artificial - outro tema que ganhará destaque na BSV - pode auxiliar as empresas brasileiras a ter uma visão mais global. "Como o uso de IA dilui muito qualquer barreira linguística, ficará mais fácil localizar um produto ou entender como funciona outro mercado", diz. Para ele, por outro lado, a competição deve ficar mais acirrada. "Do ponto de vista de construção das aplicações, a disputa será cada vez mais global. Haverá menos conforto para quem só opera no Brasil, mas as empresas não precisarão se contentar com o mercado local."

Além disso, o diretor-geral da Endeavor diz que os exemplos atuais de empresas operando globalmente auxiliam a inspirar os próximos candidatos. "O que mais encoraja um empreendedor é ver que pode ser feito. Mas é preciso também ter ambição, tem de ter intencionalidade", diz.

Para o executivo, há uma mudança de mentalidade que já vem acontecendo no ecossistema. "Se conversar com fundadores que estão começando agora, a cabeça já é outra. Vejo muita gente dizendo que quer ganhar o mundo, mas que pretende começar pelo Brasil ou indo fazer empresas já em outros países", afirma. Um bom exemplo, inclusive, é o de Igor Marinelli, da Tractian, que usa inteligência artificial para cuidar da manutenção de equipamentos industriais e hoje está baseada em Atlanta, nos EUA - Igor será um dos principais palestrantes do evento.

Um conselho dado pelo veterano investidor a quem estiver começando agora é exatamente entender em que áreas o Brasil oferece condições de ser um ótimo tubo de ensaio global - como o agronegócio, o combate às mudanças climáticas ou a energia verde. "Tem ideias que só podem ser criadas com uma abrangência e uma profundidade grande para justificar a inovação. Ter um espaço como a Amazônia pode nos permitir ser um berço de inovação para uma tecnologia ser exportada para o mundo todo", afirma. "Estamos bem otimistas com relação à inovação tecnológica em que há uma vantagem competitiva evidente."

Estadão
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