S&P reitera nota do Brasil em BB com perspectiva estável, a 2 degraus do selo de bom pagador
Agência de classificação de crédito considerou que iniciativas de cortar gastos ou fazer reformas para fortalecer as contas públicas só devem vir depois das eleições de 2026
BRASÍLIA E SÃO PAULO - Menos de uma semana após a Moody's revisar a perspectiva positiva para estável na nota soberana do Brasil de Ba1, a agência de classificação de risco S&P Global Ratings informou nesta quinta-feira, 5, que mantém o rating do País em BB, com perspectiva estável. Isso significa que a empresa não espera mudanças significativas no rating doméstico num período de aproximadamente dois anos.
As notas de crédito atribuídas pelas principais agências internacionais são observadas por investidores. No caso do Brasil, elas estão abaixo do chamado grau de investimento, o nível que equivale a um selo de "bom pagador". Com ele, a atração de investidores ficaria mais fácil; e o custo para o governo se financiar, mais baixo, pois não precisa oferecer juros tão altos ao vender seus títulos.
A dívida pública, sem a percepção do mercado de que o governo tenha empenho em cortar gastos e fazer reformas, vem pesando para que o Brasil não consiga entrar no seleto grupo dos países considerados seguros para investir.
O que falta para o Brasil subir degraus
A S&P Global avalia que, para o rating do Brasil aumentar, serão necessárias iniciativas políticas que elevem os superávits primários (diferença positiva entre o que o governo arrecada e o que paga de despesas, à exceção dos juros da dívida) e reduzam a rigidez orçamentária.
Esse, contudo, não é o cenário-base da classificadora: a S&P alertou que iniciativas contra a fraqueza fiscal só devem vir depois das eleições de 2026.
"Em nossa opinião, políticas voltadas à consolidação fiscal promoveriam um ambiente de taxas de juros mais baixas, contribuindo ainda mais para o crescimento econômico", pontua a S&P.
Por outro lado, a classificadora diz que a nota brasileira pode ser reduzida nos próximos dois anos se a implementação de políticas não conseguir conter a pressão sobre os gastos, levando a um aumento de dívida mais rápido do que o esperado.
"Uma deterioração na sinalização de políticas também poderá afetar os fluxos líquidos de investimento estrangeiro direto e, assim, enfraquecer a posição externa do Brasil", alerta a agência.
Em dezembro de 2023, a S&P havia elevado a nota brasileira de BB- para BB. Na ocasião, a mudança foi respaldada pela aprovação da reforma tributária pelo Congresso Nacional.
A perspectiva era de que as mudanças na cobrança de impostos ajudaria a reduzir desequilíbrios fiscais e a melhorar as condições econômicas do País. Senadores e deputados debatem agora sobre a implementação das novas regras.
Com a manutenção da nota, o Brasil segue a dois degraus do selo de bom pagador pela S&P. A equipe econômica tinha a perspectiva de que o País voltasse a ser considerado grau de investimento até o fim do mandato de Lula 3.
Pela escala da S&P, a próxima nota é a BB+, quando um país já é considerado de alta qualidade, mas com risco de especulação. O quadro de grau de investimento da agência contém ainda cinco degraus, em que o patamar é o AAA:
- AAA (Maior qualidade e menor risco de crédito).
- AA (Qualidade muito alta)
- A: (Qualidade alta)
- BBB (Boa qualidade)
- BBB- (Boa qualidade, mas com menor margem em relação ao BBB)
Entre as três maiores que acompanham o rating brasileiro também está a Fitch, com nota de BB e perspectiva igualmente estável. Essa posição foi referendada pela agência em junho passado.