PUBLICIDADE

O bilionário que deixou indústria para fazer trilhas sonoras

Ruben Feffer deixou cargo na empresa para fazer música para filmes como 'O Menino e o Mundo', indicado ao Oscar

13 mai 2019 - 05h11
(atualizado às 08h06)
Compartilhar
Exibir comentários

Foi na infância que começou a educação musical de Ruben Feffer: sua casa era frequentada por músicos como Astor Piazzolla e os integrantes do Zimbo Trio. Desde cedo, porém, Ruben, que faz parte da família dona da Suzano, que se tornou líder global em celulose após incorporar a rival Fibria em 2018, em um acordo de US$ 14,5 bilhões, já mostrava mais intimidade com a arte do que com os negócios. Aos 18 anos, em um quarto nos fundos de casa, montou um estúdio para gravar arranjos e efeitos sonoros. Mas ele levaria dez anos para transformar a paixão em profissão.

Como sócio da Suzano, Ruben foi citado na lista de bilionários de 2019 da revista Forbes. Como quase todo mundo na família, teve de passar pela produtora de papel e celulose para ficar a par dos negócios. Aos 18 anos, começou como estagiário. Ao longo de uma década, passou por vários departamentos da companhia até decidir tentar a vida como músico. Foi essa decisão, em 1998, quando Ruben tinha 28 anos, que gerou a Ultrassom Music Ideas, empresa que ele mantém até hoje e se tornou uma das principais casas de trilhas sonoras para filmes, animações e séries de televisão do País.

Entre os trabalhos mais conhecidos da Ultrassom está a trilha de O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, animação brasileira indicada ao Oscar em 2016. Antes de chegar ao tapete vermelho, porém, o caminho da Ultrassom foi ladeira acima: a empresa começou fazendo música para vídeos institucionais e eventos corporativos. A migração para o audiovisual foi paulatina: primeiro veio Garoto Cósmico, filme de Abreu de 2007. Desde então, vieram outros trabalhos, como o documentário Quebrando o Tabu e a recente animação Tito e os Pássaros.

Ruben Feffer era da Suzano, gigante da celulose
Ruben Feffer era da Suzano, gigante da celulose
Foto: Darrin Zammit Lupi / Reuters

Com a migração do investimento em audiovisual do cinema para as séries de TV, Ruben está acompanhando a tendência, com trabalhos como as animações Irmão do Jorel, do canal Cartoon Network, e Clube da Aninha, para o Gloob. Conforme o trabalho, o nível de dedicação da Ultrassom aos projetos pode se modificar de forma significativa, segundo Feffer. Em alguns casos, a participação se dá apenas na pós-produção. No caso das animações, o envolvimento de longo prazo, pois a música costuma ser parte da ação. Além disso, a Ultrassom produz efeitos sonoros e de ambiente. Na produção de O Menino e o Mundo, que não tem diálogos, o envolvimento se estendeu por cinco anos.

Distribuição

Além de dirigir a Ultrassom, Feffer também ajuda a distribuir filmes brasileiros globalmente. A Elo Company realiza vendas de produções nacionais em todo o mundo - no caso de O Menino e o Mundo, que foi um sucesso global, a empresa ajudou a fechar contratos para exibição em mais de cem países. Nos Estados Unidos, foi feito um acordo com a Gkids, que distribuiu a produção nos cinemas americanos e foi instrumental para que o filme obtivesse a indicação ao Oscar. "Nós fomos um dos poucos a estar envolvidos com o filme desde o início, ao lado da HBO (que comprou direitos de exibição)", contou Feffer ao Estado.

Além de vender filmes a distribuidores internacionais, a Elo, fundada em 2005, dá os primeiros passos como produtora. Entre os projetos que vem desenvolvendo está uma série documental sobre o papel do jornalismo na proteção à democracia. "Vivemos uma nova realidade no mundo digital, em que produtores de 'fake news' (notícias falsas) tentam tirar a legitimidade do jornalismo sério", diz Sabrina Nudeliman, presidente da Elo. Ainda nesse tema, a empresa produz um perfil do fotógrafo André Liohn, que retratou guerras como a do Iraque. Em outra linha, prepara um documentário sobre o Parque Estadual do Jalapão, no Tocantins, para o canal NetGeo.

Outra face da Elo é a distribuição de filmes com temáticos sobre mulheres e a comunidade LGBTQ+. Segundo Sabrina, a empresa já começa a trabalhar no desenvolvimento de projetos próprios com esse perfil. "Estamos começando a trabalhar na ficção, com equipe de criação interna, mas sempre com foco na diversidade", diz a executiva, que já teve passagem pela consultoria McKinsey.

"Queremos ser uma incubadora de filmes escritos e dirigidos por mulheres e, ao mesmo tempo, ter um modelo de negócios sustentável."

Cinema nacional

Uma das bandeiras da Elo Company, distribuidora de Ruben Feffer, é aumentar a visibilidade do cinema nacional. É da empresa que partiu a ação "Projeta às 7", parceria com a rede Cinemark. Segundo Sabrina Nudeliman, presidente da distribuidora, a intenção é garantir que as produções nacionais possam ter acesso a um público mais amplo, pois garantem uma sessão por dia, às 19h, a R$ 12 (R$ 6 na meia entrada), por duas semanas, em diversas unidades da rede.

Entre os filmes já distribuídos estão o documentário "Mussum - O Filme do Cassildis", sobre o integrante de 'Os Trapalhões', o drama "Querida Mamãe", com Letícia Sabatella e Selma Egrei, e "Abrindo o Armário", de temática LGBTQ+. A Elo distribui 20 filmes por ano por essa parceria.

Veja também

Maximalismo: chegou a vez do "mais é mais":
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade