Simples e visionário, Luiz Donaduzzi tem 'Pressa de Futuro'
Luiz e Carmen Donaduzzi, cientistas e fundadores da Prati-Donaduzzi, lideraram trajetórias marcadas por inovações na indústria farmacêutica e iniciativas educacionais, destacando-se pela criação do Biopark, um ecossistema tecnológico e educacional em Toledo, Paraná.
Luiz Donaduzzi tem um rosto familiar. Você olha para ele e se pergunta, “de onde conheço?” Mas o jeitão simpático de neto de imigrantes engana. O protagonista do livro “Pressa de Futuro” é figura incomum.
Não só porque é difícil um menino da roça fazer fortuna. Também não é nada comum um cientista se provar empreendedor de mão cheia.
É mais raro ainda um grande empresário se arriscar em um projeto educacional e social no limite da utopia. Tudo isso em profunda parceria pessoal e profissional com sua namorada da juventude e da vida toda.
Para completar, Luiz realizou tudo isso na maior discrição, sem bater bumbo ou virar empresário-celebridade.
É improvável de diversas maneiras a trajetória do casal Luiz e Carmen Donaduzzi, bem contada por Rogério Godinho em “Pressa de Futuro”.
Ambos são cientistas, formados em Farmácia e Bioquímica e doutores em biotecnologia. Também são fundadores da Prati-Donaduzzi, a maior fabricante de remédios genéricos do Brasil - entre vários outros produtos.
Os remédios incluem tratamentos para Alzheimer, Parkinson e muito mais. A empresa faturou R$ 2,3 bilhões em 2024.
Quanto à “utopia” sonhada pelos Donaduzzi, ela já tem endereço, cinco milhões de metros quadrados e muito para mostrar. É o Biopark, combinação de cidade do futuro e centro tecnológico, em Toledo, a quinhentos quilômetros de Curitiba.
Correndo atrás pelo Brasil afora
Diferente da maioria da típica biografia de empresário, que se esforça para criar algum suspense na rotina corporativa, a trajetória de Donaduzzi e Carmen facilita a vida do biógrafo. Tem romance e reviravoltas, sacadas brilhantes e trapalhadas terríveis - e as agruras que toda longa vida enfrenta.
Jornalista com passagem pelos principais veículos econômicos, professor e escritor, Rogério Godinho tem experiência com livros sobre líderes empresariais (biografou Marco Stefanini em “O filho da crise” e Ricardo Young em “Nunca na Solidão”) e temas como inclusão social (“Cidadania LGBT+”). Conta essa história com sabor e humor; não esconde tropeços nem dúvidas do biografado.
“Pressa de Futuro” já começa com a figura poderosa do pai de Luiz, que fez promessa solene ao pegar nos braços o primeiro filho: aquele menino iria estudar.
Pai ferreiro, Aldemar, e mãe costureira, Jeni, Luiz era o mais velho de seis irmãos. Penou para completar os estudos. Largou duas vezes para ajudar na roça. Depois faltou escola pra ele frequentar.
Acabou em um internato a cem quilômetros da família, então já mudada pro Paraná. Depois mudou de novo, para a escola agrícola em Santa Catarina; depois Ponta Grossa; e seguiu mudando.
Não foi moleza a juventude do garoto grandalhão, louco por enciclopédias. Nem a de Carmen, família de situação parecida mas de origem alemã.
As aventuras do casal passam pela batalha para se formarem na faculdade. Pelos primeiros empregos e o primeiro empreendimento, ambos trabalhando numa Farmácia. É poderosa a perseverança nos estudos, que levaria Carmen e Luiz a buscar doutorados na França.
Mas a vida surpreende. E aí um projeto de vida acadêmica é interrompido por uma mudança para… Rondônia. Para tocar uma serraria! Onde enfrentam um acidente que mudaria novamente o rumo do casal. Que levaria a novas iniciativas e encrencas em Pernambuco. E de volta pro Sul. E daí para o mundo, sempre correndo atrás.
Da farmácia para o mundo
É importante esclarecer que mesmo Luiz sendo o protagonista de “Pressa de Futuro”, Carmen não é coadjuvante.
É explícito seu papel na criação do pequeno negócio em Pernambuco que originaria a Prati-Donaduzzi. Carmen seria sempre fundamental para impulsionar inovações na empresa. E tudo isso seguindo em paralelo com uma carreira acadêmica.
Lecionando, manteve-se atualizada e conectada com as necessidades dos jovens. Surpresa: muitos de seus alunos nunca tinham nem visto um microscópio.
Foi a curiosidade e inquietação de Carmen e Luiz, juntos, que fez a empresa procurar sempre o diferente. E assim rodaram o mundo atrás do que havia de mais novo, da Índia à China e além.
Investiram pesado nos genéricos quando toda a grande indústria fazia lobby contra. Nos nutracêuticos, alimentos que oferecem benefícios para a saúde. E até no canabidiol, dez anos antes dele começar a ser aceito pela opinião pública.
Até hoje vemos gente influente desmerecendo o valor da pesquisa e a universidade pública; os Donaduzzi fizeram o caminho contrário.
A Prati estabeleceu uma parceria com a USP, centro de excelência no estudo de canabinóides, para montar um laboratório de pesquisa dedicado ao tema.
A empresa financiou para isso a construção de um prédio no campus da USP em Ribeirão Preto; captou recursos no BNDES, que saíram diretamente no nome da Universidade; e foi estabelecido que quando e se saísse um produto desta pesquisa, a Prati ainda pagaria royalties para a USP.
O livro é um panorama histórico, também. Revisitamos as arrancadas e solavancos da economia brasileira dos anos 80 até 2025. Um pano de fundo cheio de incertezas mas também de oportunidades, que Godinho costura com experiências práticas dos empresários para quem empreende no Brasil de hoje.
Utopia real na terra vermelha
De todos os projetos arriscados dos Donaduzzi, nada se compara ao Biopark, que completa nove anos em 2025. A ideia tem mais de duas décadas e é extremamente ambiciosa: construir um campus inspirado nas melhores instituições de ensino do mundo. E em volta dele um ecossistema de tecnologia, negócios, emprego, vida.
Para isso os Donaduzzi foram conhecer pessoalmente as maiores instituições educacionais do mundo e aprender como elas se relacionam com empresas e comunidade. Do ITA a Stanford à Alemanha, o país de onde vieram as maiores inspirações acadêmicas para o Biopark.
A família comprou e doou o terreno para isso já em 2014, nas terras vermelhas da pequena Toledo. Depois, doaram milhões de reais para a criação ali mesmo de um campus da Universidade Tecnológica Federal do Paraná.
O objetivo é atrair para lá 500 empresas. Já tem uma bela quantidade, de startups à Embrapa. O plano é gerar 30 mil postos de trabalho nas próximas décadas.
Para completar, os Donaduzzi criaram em Toledo sua própria Universidade, que já tem mais de 500 alunos. É a Biopark Educação, com cursos de administração, ciência e tecnologia, IA e, naturalmente, biotecnologia e farmácia. A primeira turma se formou em 2018.
A instituição também abriga um Clube de Ciências que estimula 450 crianças da região a se familiarem com o mundo da ciência. Os projetos destes alunos já conquistaram prêmios importantes Brasil afora.
Não deixe o amanhã pra depois
Chegamos ao final próximos, familiares de Carmen e Luiz. Parecem mesmo “gente como a gente”, apesar de tantas realizações. Este livro vai torna-los mais famosos, mas pelas razões certas.
Sua história estimula não só a trabalhar duro, mas a investir na educação, expandir a ciência e valorizar a comunidade onde atuamos. A acreditarmos no amanhã e não deixar sua construção para depois.
“Pressa de Futuro” é sobre pensar grande, mas vai muito além - nos inspira a pensar nos outros.
(*) André Forastieri é fundador de HOMEWORK, plataforma de conteúdo para quem trabalha e empreende. É Top Voice no LinkedIn, onde tem quase 500 mil seguidores, e sócio da COMPASSO, agência de soluções em comunicação.