Preocupação fiscal no Brasil não diminui com congelamento de gastos, diz Morgan Stanley
Em relatório, economistas do banco afirmam que governo não apresentou nenhuma medida para reduzir gastos e que probabilidade de superávit primário estabilizador da dívida é baixo sem reformas estruturais
NOVA YORK - O Morgan Stanley avalia que as preocupações fiscais no Brasil não estão se reduzindo apesar do congelamento de gastos de R$ 31,1 bilhões anunciado na quinta-feira, 22, pelo governo. O ponto positivo foi um bloqueio de despesas de cerca de R$ 10 bilhões, acima do montante previsto. Do lado negativo, está o fato de o orçamento mirar o piso da meta de resultado primário deste ano, conforme o gigante de Wall Street.
"Continuamos esperando que o governo cumpra o limite inferior da meta primária para 2025", dizem os economistas do Morgan Stanley, em relatório a clientes, nesta sexta-feira, 23.
Eles também mencionam o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para uma série de operações como, por exemplo, crédito à pessoa jurídica, cartão de crédito internacional e previdência privada. Apesar do aumento esperado na arrecadação, de R$ 20,5 bilhões em 2025 e R$ 41 bilhões em 2026, o governo não apresentou nenhuma medida sobre os gastos, observa o banco americano.
"As preocupações fiscais do Brasil não estão diminuindo e vemos uma baixa probabilidade de um superávit primário estabilizador da dívida sem reformas estruturais", dizem os economistas do Morgan.
Apesar disso, o banco vê o Brasil em uma situação "ligeiramente melhor" quando comparado ao contexto de incertezas globais. Nesse sentido, melhorou as projeções para o crescimento do País, mas piorou as expectativas para a inflação no próximo ano e passou a prever uma queda mais agressiva dos juros em 2026.
O Morgan Stanley espera que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresça 2,3% neste ano contra projeção anterior que apontava alta de 1,9%. Para 2026, sua projeção indica avanço de 2,0% ante aumento de 1,5%.
Quanto à inflação, o Morgan manteve expectativa de 5,6% neste exercício. No entanto, para 2026, vê os preços desacelerando em menor ritmo no Brasil, para 4,4% e não mais 3,6%.
O banco americano reiterou a projeção de 14,75% para a Selic no fim de 2025, mas passou a ver uma queda maior no próximo ano, para 11,25%, contra 12,15%. O câmbio deve se desvalorizar no Brasil, para R$ 5,9 neste ano contra R$ 5,7 estimado anteriormente. Em 2026, pode melhorar, para R$ 5,6 ante R$ 6,0 de seu cenário anterior.
Uma atividade forte no Brasil pode ajudar nas métricas fiscais de 2025, mas a preocupação está em 2026 pelo fato de ser um ano eleitoral, alerta o Morgan Stanley. "Estamos mais preocupados com 2026, já que os gastos provavelmente aumentarão antes das eleições", diz o banco.
