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Por que o mercado não gostou do pacote de corte de gastos?

Não sendo o que analistas esperavam, a consequência imediata do anúncio foi a subida do dólar, que atingiu pela primeira vez o valor de R$ 6

29 nov 2024 - 04h59
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Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Se antes falar em corte de gastos animava o mercado, o anúncio feito pelo ministro Fernando Haddad na última quarta-feira, 27, caiu como um banho de água fria para investidores e analistas do mercado financeiro. Não sendo o que tais agentes esperavam, a consequência imediata do anúncio foi a subida do dólar, que atingiu pela primeira vez o valor de R$ 6.

O principal fator que causou a fúria do mercado foi a inclusão inesperada da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil no pacote. Mesmo que a reforma de renda ainda precise passar pelas duas Casas Legislativas, a Câmara e o Senado, para ser aprovada, analistas se mostraram preocupados com a proposição.

"O que a gente vai assistir nos próximos dias, provavelmente, terá um sinal muito negativo para a economia. Essa medida dos R$ 5 mil deve retirar entre R$ 45 a R$ 50 bilhões de investimentos de gastos públicos. E não necessariamente a taxação de quem ganha acima de R$ 50 mil vai cobrir esse gasto. Isso porque existem várias maneiras de não pagar esse imposto. Por exemplo, empresários podem simplesmente não distribuir seus dividendos”, considera o economista Igor Lucena, Doutor em Relações Internacionais e CEO da Amero Consulting.

Haddad diz que impacto da isenção de IR até R$ 5 mil será menor do que o previsto pelo mercado:

A taxação na alíquota de 10% para quem possui renda acima de R$ 50 mil por mês - ou R$ 600 mil por ano - foi a forma que a equipe econômica encontrou para manter a neutralidade da reforma. Ou seja, o governo afirma que não vai arrecadar nem mais nem menos com as mudanças, o que tem sido contestado pelo economista.

Lucena também acrescenta que não acredita na aprovação dessa taxação, porque atingiria parte do funcionalismo público, segundo ele.

"De maneira clara, todas as medidas apresentadas nas últimas quatro semanas demonstram um esforço do governo para economizar 35 bilhões, quando o déficit ultrapassa R$ 100 bilhões. Isso mostra que não há, de verdade, interesse em combater o déficit fiscal", afirma.

Para Paula Zogbi, gerente de Research e head de conteúdo da Nomad, o aumento do dólar ocorreu em um movimento natural dos investidores, de tentar manter uma parcela de seus investimentos em dólares para proteger o patrimônio no longo prazo.

"O motivo do aumento na volatilidade e pressão cambial é a diminuição da credibilidade das medidas de contenção de despesas, já que a mudança no IR caminha no sentido de diminuição da arrecadação, o que tende a limitar o efeito dos cortes que serão anunciados", considera Paula.

Caso a sensação de insegurança fiscal permaneça e o dólar continue em alta, os efeitos podem chegar até as casas dos brasileiros. Ao menos é o que explica o consultor financeiro e mestre em negócios internacionais André Charone.

"O Brasil é um país que depende significativamente de insumos importados para diversas áreas, como produção industrial, medicamentos e combustíveis. Quando o dólar sobe, o custo desses produtos também aumenta, o que pressiona a inflação", diz.

Com a inflação alta, consequentemente sobem os juros, que impulsionam investidores para a renda fixa ou para ativos de fora do Brasil, mantendo o ciclo.

Fonte: Redação Terra
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