PF prende Vorcaro em operação para apurar crimes financeiros na venda do Master para o BRB
Corporação cumpre cinco mandados de prisão; defesa de dono do Master não se manifestou
BRASÍLIA - A Polícia Federal prendeu na noite de segunda-feira, 17, o dono do Master, Daniel Vorcaro, em uma operação para apurar suspeitas de crimes envolvendo a venda do banco para o BRB. O presidente do banco estatal do governo do Distrito Federal, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo.
O Banco Central também decretou a liquidação extrajudicial do Banco Master, menos de um dia depois de o Grupo Fictor ter indicado o interesse em comprar a instituição.
Vorcaro foi detido ainda na noite de segunda-feira, 17. Isso porque a PF suspeita de que ele tentou fugir do País. O dono do Banco Master tentou embarcar em um jatinho particular com destino ao exterior. Porém, foi interceptado pela Polícia Federal no aeroporto, onde recebeu a ordem de prisão, por volta das 22h.
A PF já monitorava os passos de Vorcaro antes de deflagrar a operação. Os investigadores detectaram que ele organizava uma tentativa de fuga pelo Aeroporto de Guarulhos. A suspeita é de que a informação do mandado de prisão tenha vazado para o banqueiro. Procurada, a defesa do empresário ainda não se manifestou. Vorcaro foi levado para a Superintendência da PF em São Paulo.
A operação da PF na manhã desta terça cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois de prisão temporária e 25 de busca e apreensão. Augusto Lima, ex-sócio do Banco Master, é outro preso na operação. Diretores do Master também foram alvos de mandados de prisão. A sede do BRB e o presidente do banco, Paulo Henrique Costa, são alvos de busca e apreensão.
A operação foi batizada pela PF de Compliance Zero e detectou suspeitas da emissão de títulos de crédito falsos pelo banco Master. Esses títulos teriam sido vendidos ao BRB e, após a fiscalização do Banco Central, foram substituídos por outros ativos sem avaliação técnica adequada.
Ao final da operação, a PF apreendeu R$ 1,6 milhão em dinheiro vivo, a maior parte com Augusto Lima, além de carros de luxo, obras de arte e relógios.
Além de Vorcaro e Lima, foram presos preventivamente Luiz Antonio Bull, Alberto Feliz de Oliveira e Angelo Antonio Ribeiro, diretores do Master também suspeitos de assinar operações fraudulentas e fornecer informações falsas ao BC.
São investigados crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa, entre outros.
Em setembro, o Banco Central (BC) reprovou a compra de uma fatia do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). O BC passou cinco meses analisando o processo. Segundo apurou o Estadão, um ponto central da decisão foi o risco de o BRB ser contaminado pelos ativos do Master considerados "podres".
Desde o anúncio, a operação financeira foi vista por especialistas como uma forma de socorro do Master por parte do BRB, um banco público.
BC liquidou Master após anúncio de venda
A decisão do Banco Central anunciada na manhã desta terça-feira, 18, de liquidar extrajudicialmente o Banco Master foi tomada após o anúncio de uma operação de venda da instituição para o Grupo Fictor no fim da tarde de segunda-feira, 17, conforme apurou o Estadão/Broadcast.
A medida pôs fim na possibilidade de o acordo que estava sendo costurado no setor privado avançar.
Conforme pessoas a par do caso, Vorcaro estaria preocupado com seu futuro e teria tentado costurar a operação para ter a narrativa de que estava tentando resolver o problema que envolve seu banco.
O acordo anunciado na segunda-feira, que pegou diferentes agentes do governo de surpresa, teria de passar pelo crivo do BC e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Por isso, a análise feita ao Estadão/Broadcast em relação ao anúncio era de que a proposta de compra do Master pelo Fictor deveria ser colocada na categoria das "intenções".
A decisão de liquidar a instituição foi tomada pela diretoria colegiada do BC, formada pelo presidente da instituição, Gabriel Galípolo, e mais oito diretores.
Os votos são dados de maneira secreta para evitar vazamentos entre a decisão do comitê, e a ação que deve ser tomada na sequência, num caso positivo de decisão pela continuidade dos atos. Pelo regimento da autoridade monetária, coube ao diretor de Fiscalização, Ailton Aquino, propor a liquidação.