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Para Economia, PIB potencial deve ser maior do que estimado pelo mercado financeiro hoje

Paulo Guedes não esconde do mercado financeiro seu descontentamento com as previsões para o crescimento do País feitas pelo setor privado e órgãos internacionais

16 ago 2022 - 12h07
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BRASÍLIA - O ministro da Economia, Paulo Guedes, não esconde do próprio mercado financeiro seu descontentamento com as previsões para o crescimento do País feitas pelo setor privado e até alguns órgãos internacionais de forma consistentemente menores do que as estimativas do governo. Para provar que economistas vêm subestimando as taxas do Produto Interno Bruto (PIB), a Secretaria de Política Econômica (SPE) preparou um estudo obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast que mostra não apenas o que seria a timidez do setor privado para esse indicador durante o governo de Jair Bolsonaro como pode indicar que o PIB potencial do País deve ser mais alto do que o previsto por analistas atualmente.

"Consideramos a possibilidade de que o crescimento potencial da economia doméstica seja mais elevado e ainda não incorporado por parte do mercado", conjecturou o subsecretário de Política Macroeconômica da SPE, Fausto Vieira, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Ele coordenou o levantamento que leva em conta as projeções desde 2000 do relatório Focus, divulgado às segundas-feiras pelo Banco Central. Para o economista, essa discrepância consistente das previsões pode revelar que os economistas não passaram a incorporar em seus modelos dados de investimento e de reformas microeconômicas dos últimos anos, por exemplo.

Paulo Guedes; Ministro da Economia não esconde seu descontentamento com as previsões para o crescimento do Paísmenores do que as estimativas do governo Foto: Adriano Machado/Reuters

O trabalho revelou que houve um período de oscilações com desvios das projeções do mercado ao final do trimestre de cada ano para cima e para baixo em relação ao dado efetivo do PIB do mesmo ano, divulgado posteriormente pelo IBGE. A principal marca do conjunto de dados de 2000 a 2010, conforme observou a equipe econômica, é a de que os erros de mercado alternavam entre uma expectativa maior do que a realizada para o crescimento e uma menor.

Nesse período de 11 anos, foi em 2004 - durante o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, que agora tenta voltar ao Palácio do Planalto - que ocorreu o maior distanciamento entre a previsão do mercado e o dado realizado. Em meados de março, o relatório divulgado pelo Banco Central apontava que a mediana das estimativas dos analistas para o PIB daquele ano era de 3,5% em março, mantido um trimestre depois. O resultado oficial do ano, no entanto, surpreendeu com uma taxa de 5,8%.

No período de 2011 a 2016, houve uma tendência sempre mais otimista do mercado financeiro para o PIB do que aquele depois verificado pelos dados do IBGE ano a ano. Neste intervalo, apenas em duas ocasiões o resultado oficial ficou colado na mediana esperada pelo mercado em março: em 2013 e em 2016. Mesmo assim, nos dois casos, o PIB veio pior do que o esperado. Ainda nesse período, no ano de 2015, durante o governo de Dilma Rousseff, foi quando houve a maior surpresa, já que os analistas haviam calculado uma queda da atividade de 0,8% (março) ou 1,4% em junho, mas o tombo da economia foi de 3,5%.

Depois de mais três anos de variações menos drásticas entre as projeções e sem tendência definida para cima ou para baixo, a partir de 2020 houve uma inversão, com as expectativas sempre mais conservadoras do que o dado efetivo. Pela primeira vez, ressaltou Vieira, ocorreu uma diferença negativa entre o profetado e o dado efetivo do tamanho de dois desvios-padrão - o desvio-padrão é uma medida que revela a dispersão de um determinado conjunto de dados. Guedes vem repetidamente afirmando que os departamentos de pesquisa das instituições financeiras têm errado suas projeções e que voltarão a cometer o mesmo equívoco este ano. Pela Focus de março, a mediana das expectativas para o PIB de 2022 estava em 0,49%.

Já pelos cálculos da SPE no fim do primeiro trimestre de cada ano, a atividade brasileira teria uma queda de 4,7% em 2020; uma expansão de 3,72% em 2021 e de 1,5% este ano. Apenas em junho, a Focus revelou que o mercado elevou sua estimativa para o PIB de 2022 para este mesmo patamar. "Para nós, economistas, é muito difícil estimar adequadamente quebras estruturais na economia, sendo choques positivos - como reformas macro e microeconômicas - ou negativos - como pandemia e guerra", considerou.

Estadão
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