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'Não temos no mercado americano a nossa razão de vida', diz Mendonça de Barros sobre o tarifaço

Economista fala que Trump, ao invés de ajudar, está atrapalhando o país, mas alerta para problemas no comércio global

1 ago 2025 - 13h53
(atualizado às 14h37)
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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, adiou para a semana que vem a aplicação do tarifaço às exportações globais, incluindo o Brasil, que deve ser punido com a maior taxa, de 50%.

A leitura de José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário de Política Econômica e sócio-fundador da consultoria MB Associados, é de que a economia global sairá perdendo.

Em live realizada pelo Estadão nesta sexta-feira, 1, com mediação do repórter Luiz Guilherme Gerbelli, o economista afirma que o sentimento de incerteza deve permanecer mesmo após a elevação das tarifas. "Ninguém tem certeza de que o quadro de ontem vai se manter ao longo do tempo", justifica.

O economista José Roberto Mendonça de Barros diz que os norte-americanos não dão uma atenção à América Latina há 20 anos
O economista José Roberto Mendonça de Barros diz que os norte-americanos não dão uma atenção à América Latina há 20 anos
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Neste momento, entende Barros, todos os países estão repensando interesses e redesenhando fluxos de comércio, o que deve paralisar o setor.

As medidas de Trump derrubam atividades nos EUA, mas também em todo o mundo, lamenta. "E um mundo com menos comércio cresce menos do que um mundo com mais comércio".

Na visão do economista, a inflação deve aumentar nos EUA e as empresas vão começar a repassar este aumento de preços aos consumidores, o que resultaria em um crescimento menor.

Com o Banco Central pressionado, diz, a instituição terá que escolher entre aumentar os juros para segurar a inflação ou baixar os juros para atender ao mercado de trabalho.

"A situação tende a piorar e a competitividade a reduzir. Até porque o Trump também está atacando as universidades e a ciência. As bases estão ficando prejudicadas", alerta Barros.

Crise no multilateralismo

A conclusão do ex-secretário de Política Econômica é que depois dessa taxação o mundo não deve voltar ao cenário de multilateralismo que existia antes. Em vez disso, será um mundo com menos regras comerciais, mais protecionista e com a consolidação de dois grandes polos no mundo: China e Estados Unidos.

"Leva um certo tempo para o mercado estabilizar e isso deve afetar o Brasil, que sempre foi um global trader", analisa. "Também veremos menos crescimento, menos comércio e muito esforço para a criação de novos canais e acordos entre diversas regiões para diminuir a dependência do mercado norte-americano".

Impacto no Brasil

Atualmente, os Estados Unidos são o segundo maior destino de exportações do Brasil, atrás apenas da China. No entanto, diante da ampla lista de exceções a diversos produtos brasileiros, a previsão é que o impacto será relativamente modesto na economia nacional, com influência suave no PIB.

"A perda macro é relativamente modesta. A carne, por exemplo, pode ser redirecionada para outros países. A demanda do produto é maior do que a oferta no mundo", diz, além de antecipar a inclusão do café na lista de exceções do tarifaço.

Em contrapartida, Barros chama a atenção para os setores que vão precisar lidar com a taxação de 50%. Ele cita o mel produzido no Piauí, as rochas ornamentais produzidas no Espírito Santo e o açúcar orgânico, produzido em São Paulo. "São coisas difíceis de redirecionar rapidamente para outros lugares", comenta.

Plano de resposta

O economista teme que a resposta provoque sequelas de longo prazo na economia brasileira. "Além da situação fiscal não ser positiva, o Brasil viveu uma experiência ruim com o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos), que foi absolutamente distorcido e até hoje custa uma fortuna para o tesouro. Não pode nem de perto repetir uma coisa dessas".

A sugestão do economista é que os Estados tomem a frente para ajudar as empresas locais que dependiam do comércio americano.

Por outro lado, a expectativa dele é que o Brasil possa até sair da lista em breve. Isto porque existe superávit para os EUA. O que dificulta esta reviravolta é a questão política.

"O plano de Trump é feito de forma atabalhoada. E sendo uma decisão essencialmente política, é difícil analisar do ponto de vista da racionalidade. Até porque o efeito econômico será o oposto do que ele queria. Em vez de ajudar, ele está atrapalhando o país", afirma.

Ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda cita Embraer, Weg, Gerdau e Votoratim como bons exemplos de indústrias que construíram uma relação positiva com o restante do mundo
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Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

O resultado deve ser uma migração das exportações brasileiras para outros países. "Não temos no mercado americano a nossa razão de vida", diz Barros.

A lição para o futuro das exportações está na abertura das indústrias, acredita. "Temos de aproveitar essa oportunidade para tornar a indústria mais competitiva e aberta, enquanto o setor de commodities, o agronegócio e o minério já sabem como fazer isso", ilustra. "É o momento de ter maior abertura para fazer deste limão uma limonada".

Estadão
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