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Mudança de status da China na OMC pode marcar início de nova fase na governança do comércio global

Com a decisão de abrir mão dos benefícios disponíveis para países em desenvolvimento, a China assume novas obrigações, o que pode pressionar outros países emergentes do BRICS, como o Brasil, a reavaliar suas reivindicações de status especial

6 out 2025 - 07h24
(atualizado em 6/10/2025 às 10h57)
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A China anunciou, na última semana de setembro de 2025, durante a Assembleia Geral da ONU em Nova Iorque, que não reivindicará mais os benefícios vinculados ao Tratamento Especial e Diferenciado (S&DT) em futuras negociações na Organização Mundial do Comércio.

A decisão foi comunicada pelo primeiro-ministro Li Qiang no lançamento da Iniciativa Global de Desenvolvimento, em um gesto amplamente interpretado como estratégico para reposicionar Pequim no sistema multilateral e responder a anos de críticas de parceiros comerciais, especialmente Estados Unidos e União Europeia.

O que é o S&DT

O S&DT surgiu como instrumento formal na década de 1960 e incorporado aos acordos fundacionais da OMC em 1995 para conceder maior flexibilidade normativa a países em desenvolvimento. Incluindo aí prazos maiores para implementar obrigações, salvaguardas regulatórias e assistência técnica. Desde sua entrada na OMC em 11 de dezembro de 2001, a China utilizou esses mecanismos de forma seletiva, obtendo vantagens que facilitaram a adaptação de sua economia ao comércio global.

A renúncia anunciada dias atrás não altera automaticamente acordos já vigentes. Pequim continua se definindo politicamente como país em desenvolvimento, sobretudo para manter vínculos com o Sul Global, mas deixa de reivindicar, a partir de agora, flexibilidades em novas tratativas.

Momento histórico

Segundo a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, trata-se de um "momento histórico" para destravar a reforma do organismo e reconstruir confiança entre membros, sobretudo após anos de paralisia em temas críticos, como subsídios industriais e comércio digital.

Os Estados Unidos vinham questionando o status chinês desde 2019, quando o então presidente Donald Trump anunciou que Washington não reconheceria Pequim como economia em desenvolvimento, alegando que a posição da segunda maior economia mundial era incompatível com os indicadores de renda, industrialização e comércio. A União Europeia, embora mais cautelosa, defendeu repetidamente critérios objetivos para definir elegibilidade ao S&DT, visando evitar distorções competitivas.

Essa mudança cria efeitos geopolíticos profundos. Em negociações futuras, a China assume obrigações no mesmo nível das economias avançadas, reduzindo assimetrias e enviando sinal de compromisso com a modernização do comércio internacional. Outros países emergentes enfrentarão pressão para reavaliar suas próprias reivindicações de status especial, principalmente dentro do grupo dos BRICS, onde Índia, África do Sul e Brasil ainda utilizam essas flexibilidades.

Consequências para o Brasil

Para o Brasil, o anúncio representa desafio estratégico. Como principal parceiro comercial da China e membro ativo do G20 e do BRICS, o país precisa adaptar sua diplomacia econômica. A competitividade de setores exportadores, como agronegócio e mineração, pode ser afetada por novas regras mais rigorosas.

Ao mesmo tempo, o gesto chinês abre espaço para que o Brasil reivindique liderança na agenda de reforma da OMC, reforçando a importância de um sistema multilateral estável para conter disputas bilaterais, como as que marcaram a guerra comercial EUA-China.

O movimento também tem implicações internas para a OMC. A organização enfrenta crise desde 2019, quando os EUA bloquearam nomeações para o Órgão de Apelação, inviabilizando o mecanismo de solução de controvérsias. A disposição da China em abrir mão de privilégios sinaliza flexibilidade para negociações sobre temas estruturais, incluindo subsídios estatais e sustentabilidade.

Ao final, a decisão anunciada pela China pode marcar o início de uma nova fase na governança do comércio global. O resultado dependerá de como outras economias emergentes reagirão e se as potências desenvolvidas oferecerão reciprocidade, transformando um gesto unilateral em base sólida para reformas efetivas na OMC.

The Conversation
The Conversation
Foto: The Conversation

Armando Alvares Garcia Júnior não presta consultoria, trabalha, possui ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que poderia se beneficiar com a publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de seu cargo acadêmico.

The Conversation Este artigo foi publicado no The Conversation Brasil e reproduzido aqui sob a licença Creative Commons
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