Masp foca em créditos de carbono para compensar toneladas de emissões por cinco anos
Iniciativa em parceria com a Comerc, da Vibra, prevê neutralização de quase 3 mil toneladas de dióxido de carbono, entre emissões diretas e indiretas, até 2030
Com um acervo de mais de 11,5 mil peças e circulação média semanal de 18 mil visitantes, o Museu de Arte de São Paulo (Masp) quer ter o nome consolidado não só no segmento artístico como também no rol de organizações culturais alinhadas às boas práticas ambientais. A mais recente delas, iniciada este ano, envolve a participação no mercado de carbono para compensação de emissões. A estimativa é usar créditos cedidos por um de seus patrocinadores para tornar carbono neutro as operações entre 2025 e 2030.
No total, a medida prevê, via créditos, a neutralização de 2,9 mil toneladas de dióxido de carbono, nos escopos 1 e 3 (emissões diretas e indiretas). Já as emissões fruto do escopo 2 (relacionadas ao consumo de energia) devem ser neutralizadas com os chamados I-RECs, certificados internacionais de energia renovável. A iniciativa deve compensar 19.285 MWh (Megawatt-hora) em energia.
A operação é fruto de uma parceria entre a empresa Comerc, braço de inovação em energia da Vibra, e o Masp, diz a diretora de Relações Institucionais do museu, Carolina Rossetti. Há quase dez anos, a Comerc é responsável por gerenciar a operação da instituição no mercado livre de energia.
"Queríamos uma empresa (para ceder os créditos de carbono) que não só nos ajudasse do ponto de vista financeiro, mas que desse uma perenidade à ação, pois a sustentabilidade no museu é uma construção de longo prazo, e uma vez que ele se posiciona como um museu que busca a prática da sustentabilidade, não pode recuar", explica.
"Conduzimos um processo junto às transportadoras de obras de arte para ter acesso às informações de quilometragem, tipo de caminhão e tipo de combustível usado, para compor o cálculo de emissão", afirma Lima. "No exterior, a prática do inventário de emissões é mais consolidada. Então, há transportadoras que já nos oferecem a quantidade de carbono envolvido no processo dentro do contrato. Fica mais fácil para reportar."
O ponto intermediário do impacto é o escopo 2, com emissões de 166,9 tCO2e só em 2024, originado no consumo intensivo de energia. O volume reportado ainda não contempla o período de abertura ao público do novo prédio do Masp, o Edifício Pietro Maria Bardi, aberto à visitação em março deste ano.
Anexado ao principal, ele possui certificado LEED (título internacional para edificações sustentáveis) e foi projetado para ter mais eficiência energética, com janelas que permitem a utilização da luz natural ao mesmo tempo em que promovem um conforto térmico.
No escopo 1, de menor impacto para o museu (com registro de 0,02 tCO2e no ano passado), as emissões são fruto de substâncias presentes em aparelhos de ar condicionado do tipo split, extintores e geradores.
"O sistema de climatização e umidade é um gargalo para todos os museus, pois, ao lidar com obras de arte, precisamos de padrões de climatização muito avançados, que exigem muito, tanto do consumo de energia elétrica quanto do consumo de água", explica Lima. "(Porém), temos um consultor especializado que nos atende e anualmente fazemos melhorias de eficiência."
Do resíduo à restauração
Para discutir as medidas de sustentabilidade adotadas hoje no Masp, a instituição mantém um grupo de trabalho multidisciplinar liderado por Lima. Entre os destaques das iniciativas, além do trabalho com descarbonização, há estratégias para manter a operação limpa, principalmente no que se refere aos trabalhos de restauração ou conservação e de gestão dos resíduos gerados durante as visitas do público.
A equipe de restauração, por exemplo, tem utilizado desde luvas biodegradáveis até solventes com menos toxicidade, que têm descarte realizado por uma empresa terceirizada, detalha o analista. Já a gestão dos resíduos gerados pelos visitantes e pelos profissionais da área administrativa é feita desde 2019 por uma companhia especializada em aterro zero.
Segundo dados do museu, o Masp aumentou em 155% o investimento em sustentabilidade entre os anos de 2024 e 2025. O valor investido não foi divulgado.
Os próximos passos serão voltados para melhorias na infraestrutura de iluminação do prédio antigo do Masp e, segundo Rossetti, devem passar pelas orientações do colegiado, que tem ajudado o executivo a priorizar iniciativas.
"O grupo acaba fortalecendo a nossa decisão de orçamento. Olhando para a frente, tem muita coisa em que nós ainda queremos investir para melhorar a sustentabilidade, como transformar a iluminação toda em lâmpadas de LED. É um investimento grande, que precisa de patrocínio, mas a consolidação de quais são as principais iniciativas vêm dessas discussões."