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Maior fonte de energia do mundo, carvão ainda responde por 38% da matriz elétrica global

No Brasil, porém, os combustíveis fósseis, incluindo o carvão mineral, respondem por 16,67% da potência, enquanto 60,5% da energia produzida é hidrelétrica

15 out 2021 - 03h41
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BRASÍLIA - Um olhar sobre a predominância do carvão mineral na produção diária de energia elétrica que abastece o mundo dá uma ideia do tamanho do problema que o planeta terá que enfrentar caso queira levar adiante - e a sério - a neutralidade de emissões de gases de efeito estufa esperada em 2050, ou seja, quando o volume produzido não mais excederia aquele que a terra é capaz de absorver, sem que isso permaneça na atmosfera e aqueça o globo.

O carvão mineral é, de longe, a principal fonte de produção de energia elétrica no mundo. De cada 100 casas que acendem suas luzes no planeta todos os dias, 38 o fazem porque há uma térmica a carvão ligada, produzindo energia. Os dados da Agência Internacional de Energia (IEA) mostram que o gás natural responde por 23% do abastecimento mundial, seguido pela fonte hidrelétrica (16,2%) e nuclear (10,2%). Os demais 9,7% estão distribuídos entre usinas a biomassa, solar e eólica.

Trata-se de um cenário completamente diferente do brasileiro, que hoje tem 60,5% de sua potência ancorada na fonte hidráulica. Outros 16,67% são combustíveis fósseis, o que inclui o carvão mineral, seguidos pela produção das eólicas (10,85%) e biomassa (8,75%). Os demais 3,23% estão divididos entre as plantas solares e nucleares.

Dada a predominância e avanço de fontes renováveis no Brasil, ambientalistas dizem que há preocupação com os rumos dessa matriz que, por decisão do governo Bolsonaro, possa ir em direção oposta àquilo que o mundo procura.

"Apesar do avanço de fontes renováveis como eólica e solar, o Brasil parece caminhar para uma recarbonização da matriz elétrica. O país deveria ter estabelecido uma data para a descontinuidade da geração de carvão e mesmo gás natural até a próxima década, de forma a se alinhar aos compromissos globais de descarbonização, mas o que se vê é a extensão de operação destas usinas até 2050, seja pelo Programa de Uso de Carvão Sustentável ou pela Medida Provisória da privatização da Eletrobrás", diz Ricardo Baitelo, coordenador de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema).

Os recursos brasileiros conhecidos atualmente apontam que há 32 bilhões de toneladas de carvão no Brasil, segundo dados da Agência Nacional de Mineração (ANM). O potencial de abastecimento elétrico seria de 18.600 mil megawatts, durante cem anos de operação. O poder calorífico desse carvão, no entanto, é considerado baixo em relação à média global.

Como aponta estudo do próprio Ministério de Minas e Energia (MME), as principais características dos carvões brasileiros, comparados com os de outros países, são de "alto teor de cinzas, baixo poder calorífico e, em alguns casos, um elevado teor de enxofre". As características dos carvões nacionais são equivalentes a cerca de 50% dos recursos carboníferos mundiais. Na prática, isso significa ter que queimar mais para gerar energia. Não é por acaso que uma usina térmica a carvão só pode ser construída ao lado da mina, porque o custo de transporte desse material até uma planta distante simplesmente inviabilizaria a produção.

Em seu "Programa para uso sustentável do carvão mineral nacional", o MME afirma que, além de manter as operações de carvão que estão em atividade, seria necessário retomar outras cinco usinas termelétricas do Rio Grande do Sul que foram desativadas entre os anos de 1974 e 2017. Essas usinas funcionaram por até 63 anos, como é o caso da unidade de São Jerônimo, mas foram desativadas. "A proposta é a de modernização do parque gerador a carvão mineral no Sul do País, através da contratação de energia elétrica referente a uma nova capacidade instalada de geração, em substituição às usinas que foram descomissionadas (desativadas) e as que estão em final de vida útil", diz o MME.

É esperado que 16% do total da capacidade instalada a partir de carvão mineral no mundo seja desativada até 2030 - o equivalente a 320 mil megawatts, devido aos compromissos assumidos no Acordo de Paris.

Estadão
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