Influenciadoras criam bebida não alcoólica, esgotam estoque em 30 dias e planejam faturar R$ 10 milhões
Marca LUCIA, lançada em agosto, surfou o aumento da abstenção no Brasil
Em 2025, menos pessoas bebem. O percentual daquelas que declaram não beber passou de 55% em 2023 para 64% em 2025. Entre os jovens de 18 a 24 anos, a abstenção aumentou de 46% para 62%. Esses são dados coletados pela pesquisa Panorama 2025 do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), referência nacional sobre o assunto.
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As influenciadoras Bertha Jucá e Victoria Linhares são exemplos dessa mudança de hábito. Em busca de uma vida mais saudável, diurna e com esporte, viram a bebida naturalmente deixar o lugar de destaque em suas vidas. Mas foi mais que isso. Viram nesse novo contexto uma oportunidade: criar o primeiro aperitivo não alcoólico do Brasil. A velocidade das vendas, nem elas esperavam.
Sua marca, a Lucia, começou a ser vendida em 20 de agosto. O plano era faturar R$ 10 milhões em dois anos. Mas o primeiro lote, de 7 mil litros, esgotou em menos de 30 dias. O segundo, quatro vezes maior, também acabou rapidamente. O sucesso inesperado trouxe transtornos, como atrasos na entrega, além de exigir expansão, contratação e ajustes de rota. Agora, a empresa projeta alcançar R$ 10 milhões já no primeiro ano. Segundo Bertha e Victoria, o segredo está em uma boa ideia, coragem, muita pesquisa e, principalmente, um bom time.
Mas o que há de tão especial na bebida? Segundo as fundadoras, Lucia inaugura uma categoria no mercado: o primeiro aperitivo não alcoólico do País. É uma bebida encorpada que busca reproduzir as sensações do álcool sem consequências como ressaca ou perda de consciência. A receita inclui artemísia, gengibre, cupuaçu, jambu, zimbro e outros extratos botânicos. Elas a descrevem como um drink poderoso, de sensações complexas. “Um sensorial muito impactante”, destaca Bertha. “Uma bebida (sem alcool) que as pessoas respeitem ao beber”, completa Victoria.
A proposta é permitir que quem não bebe, ou decidiu não beber naquele dia, participe plenamente da socialização, algo que ambas identificaram como uma barreira em comum. “A Lucia dá esse brilho na socialização”, afirma Victoria. O que seria esse brilho? “É diferente para cada pessoa”, dizem. Em outras palavras: é preciso experimentar.
Desejo único de empreender
Embora ambas sejam influenciadoras, Bertha e Victoria têm jornadas diferentes. Enquanto Bertha parou de beber há muitos anos, Victoria descreve sua relação com o álcool como equilibrada. Enquanto a primeira celebra sua primeira marca, a segunda já tem experiência como empreendedora. Em comum, ambas queriam empreender e fazer um bom produto.
A influenciadora Bertha Jucá é formada pelo IIN Integrative Nutrition School, em Nova York (EUA). Ela sempre quis ter uma marca, mas a ideia inicial era um snack saudável. “Algo relacionado ao meu universo da saúde, mas não esperava que viria a Lucia”, conta.
O álcool sumiu de sua vida oito anos atrás — uma consequência natural de migrar para o esporte. “Não foi programado, foi bem orgânico, quando comecei a correr. O corpo começa a rejeitar um pouco o álcool, aí você vai parando automaticamente.”
Empolgada, Bertha conta que ama trabalhar com a Lucia, embora desenvolver uma startup não seja um trabalho fácil. “É muito trabalho que estamos tendo. É uma startup, ou seja, todo mundo faz de tudo um pouco, mas é delicioso porque o produto é o que a gente acredita.”
Já para Victoria Linhares, Lucia não foi seu primeiro empreendimento. Formada em design gráfico pela FAAP e também em publicidade, conta que já teve várias empresas, mas o maior foi um e-commerce 12 anos atrás, o ModaAgora, uma multimarca de roupas de luxo. Depois, trabalhou com marketing na Etiqueta Única por oito anos. Assim como Bertha, também imaginava começar um novo empreendimento, mas na área de beleza e cosméticos.
“Quando comecei a trabalhar como influenciadora, eu sabia que haveria um momento em que ia migrar para empreender”, conta.
Ela conta que tem uma relação equilibrada com o álcool, mas não sente necessidade de beber. “Por exemplo, eu estou viajando e só trouxe Lucia, não trouxe um vinho para beber.” Para ela, aconteceu algo similar ao de Bertha. “É o equilíbrio: a gente querer ter uma vida saudável, fazer esporte, curtir o dia com meus filhos. O álcool não entra muito mais”.
Sucesso inesperado
Do primeiro encontro até o lançamento do drink, levou um ano. As duas se reuniram em um evento de saúde. Com experiência no exterior, perceberam haver uma lacuna no mercado de bebidas. Conversando, surgiu a ideia de Lucia, mas não tinham ideia de como começar.
“Eram duas pessoas querendo, mas não tinham ideia de como começar. Você tem a ideia, mas a ideia não vale de nada sem você começar a executar”, reflete Victoria.
Foi aí que entrou em cena Renan Georges, 37, fundador e CEO da Zavii Venture Builder, empresa que liderou a captação dos R$ 4 milhões iniciais e cuida da parte financeira e administrativa da Lucia.
Já a fórmula foi desenvolvida pelo gastrônomo José Luiz Soares (Do Pão ao Caviar), que também é sócio da marca, e pela mixologista Michelly Rossi (Bar dos Arcos). Para chegar na versão atual, foram testados mais de 400 aromas e extratos naturais.
Além deles, há outros sócios e parceiros que tornaram o empreendimento realidade. “Se juntem com boas pessoas. Acredito que isso seja uma das coisas mais importantes”, afirma Victoria. “Empresas são feitas por pessoas muito mais do que qualquer coisa”, complementa Bertha. Ambas explicam que contam com excelentes parceiros e sócios que tornaram a marca realidade.
Quando lançaram o primeiro lote da bebida, a expectativa era que durasse até janeiro. Já o segundo deveria durar até dezembro, mas esgotou no meio de novembro. Essa explosão não era esperada e acabou causando transtornos, como atrasos na entrega.
“A gente fala que essas são as dores do crescimento. O resultado foi muito maior do que a nossa expectativa”, conta Victoria, explicando que foi necessário acelerar os planos. Isso incluiu mudar rotas, remanejar equipes, contratar mais pessoas e adaptar processos na empresa. Além disso, também foi preciso melhorar a tecnologia. As duas influenciadoras garantem que tudo está alinhado e que não haverá mais atrasos no próximo lote.
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