Incerteza 'aguda' provocada pela onda protecionista marca a cena global segundo o FMI
Incertezas prolongadas podem resultar, segundo avaliam os técnicos do Fundo Monetário Internacional, em perdas tanto para o consumo quanto para o investimento produtivo
Num quadro de "aguda" incerteza sobre a atividade global, a economia brasileira deve crescer 2,4% neste ano e 1,9% no próximo, segundo as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Maior protecionismo, fragmentação e maior incerteza sobre o médio prazo compõem o cenário geral. Apesar disso, o crescimento mundial estimado para 2025, 3,2%, é 0,2 ponto porcentual superior ao calculado em julho, mas 0,1 ponto inferior ao do ano passado.
De novo, o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil será menor do que o esperado para os países emergentes e em desenvolvimento, 4,2% e depois 4%. Mais uma vez, China e Índia aparecem como os principais motores do mundo emergente. O produto chinês deve aumentar 4,8% neste ano e 4,2% no próximo. As taxas estimadas para a expansão indiana são 6,6% e 6,2%.
A onda protecionista, embora atenuada nos últimos meses, tem produzido maior incerteza e maior fragmentação do mercado global, como se houvesse uma reversão da tendência recente de maior integração. Incertezas prolongadas podem resultar, segundo avaliam os técnicos do FMI, em perdas tanto para o consumo quanto para o investimento produtivo.
Novos aumentos do protecionismo, "incluídas barreiras não tarifárias", poderão desarranjar as cadeias produtivas e frear o crescimento econômico. O conjunto de riscos inclui restrições à imigração, assim como os desarranjos financeiros — com encarecimento do crédito — ocasionados pela piora das contas públicas.
Mais uma vez o relatório do Fundo adverte para o risco de interferências ou pressões contra a independência de instituições como os bancos centrais.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tentou interferir na política de juros do Federal Reserve, o banco central americano, mas foi repelido pelo chefe da instituição, Jerome Powell. No Brasil, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, tem conseguido trabalhar com autonomia e ao mesmo tempo manter relações próximas com o Executivo.
Como é tradicional, exemplos concretos são evitados, ou usados com muita cautela, no World Economic Outlook (Perspectivas da Economia Mundial) publicado pelo FMI. Mas os Estados Unidos são logo mencionados quando se lembra a introdução de tarifas comerciais em fevereiro.