Hidrogênio verde avança, mas precisa superar gargalos de custo e regulação, diz VP da Absolar
Entraves para tirar 111 projetos do papel serão discutidos no Fórum Estadão Economia Verde 2025, que ocorre quinta-feira, 18, em São Paulo
O levantamento mais atual da Clean Energy Latin America (Cela) indica a presença de 111 projetos ligados à produção de hidrogênio verde no Brasil. O problema, entretanto, é o ritmo de maturação das iniciativas, que não desperta muito otimismo em quem acompanha o setor há anos.
"Os projetos estão avançando, mas na velocidade de uma nova tecnologia. Os passos estão sendo dados, mas os desafios são muitos", afirma a CEO e fundadora da Cela, Camila Ramos, vice-presidente de Investimentos e Hidrogênio do Conselho de Administração da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).
A falta de regulamentação da Lei 14.990/2024, sancionada pelo presidente Lula no dia 27 de setembro do ano passado, que estabeleceu a Política Nacional do Hidrogênio de Baixa Emissão de Carbono, ainda é um entrave, segundo Camila Ramos. O texto prevê R$ 18 bilhões em incentivos fiscais entre 2028 e 2032 para descarbonizar setores da indústria, como o de transportes.
Levantamento da Associação Brasileira da Indústria do Hidrogênio Verde mostra que o governo federal tem projetos de hidrogênio protocolados no Ministério de Minas e Energia que representam aproximadamente R$ 180 bilhões em investimentos potenciais. A regulamentação, que daria mais segurança jurídica aos investidores, é considerada essencial para destravar projetos em banho-maria.
"No caso do Brasil, um dos grandes potenciais do hidrogênio verde é a produção de fertilizantes para o agronegócio. Mas também existem pesquisas que mostram o desenvolvimento do aço verde (usado, por exemplo, em siderúrgicas, um setor altamente poluente) e de combustíveis como o SAF (para aviação) e o metanol", explica Camila Ramos, que será palestrante do Fórum Estadão Economia Verde 2025.
O evento ocorre na quinta-feira, 18, em São Paulo, no Teatro Cultura Artística, a partir das 8h. O fórum pode ser acompanhado pelas redes sociais do Estadão.
O hidrogênio verde, assim como os gargalos regulatórios das energias renováveis, principalmente solar e eólica, estarão no centro do debate do evento. A seguir, trecho da entrevista.
Você está otimista em relação ao futuro do hidrogênio verde no Brasil?
Diria que está avançando na velocidade de uma nova tecnologia. Os passos estão sendo dados, mas os desafios são muitos. Então, prefiro falar em evolução do que em otimismo. O importante é que o setor está se estruturando.
Quais são os desafios?
O preço é um gargalo importante. Como toda nova tecnologia, ela começa mais cara e, com o tempo e a produção em grande escala, vai reduzindo custos. Mas hoje, por exemplo, o eletrolisador — equipamento que quebra a molécula da água para produzir hidrogênio — ainda é muito caro. Existem poucas fábricas desse equipamento no mundo, o que impacta bastante o desenvolvimento do setor.
E em relação aos entraves regulatórios?
Há um ano foi publicada a Lei do Hidrogênio de Baixo Carbono, mas nenhuma regulamentação saiu até agora. É essa regulamentação que, na prática, faz as coisas acontecerem. Então, temos toda uma parte regulatória que ainda precisa ser desenhada e publicada para o setor poder avançar.
Mesmo sem essa regulamentação, os projetos estão caminhando?
Sim, estão avançando. Acompanho esse setor há quase quatro anos e ele evoluiu bastante. Temos projetos amadurecendo, passando por fases como licenciamento, negociação com compradores, discussões com bancos para financiamento, além da definição de quem vai construir e desenvolver as tecnologias. Todo mês, na minha empresa, atualizamos uma ferramenta que monitora esses avanços.
Esses projetos estão concentrados em alguma região do País?
Hoje, existem projetos em 14 Estados brasileiros. O Nordeste se destaca pelo grande volume, mas há iniciativas em outras regiões também. É um movimento nacional.
O desenho das iniciativas é mais voltado para o mercado interno ou externo?
Ambos. Existem projetos voltados para descarbonizar a agricultura brasileira, por exemplo, por meio da produção de fertilizantes. Há também iniciativas para fabricar aço verde aqui e exportar esse aço. Além disso, temos projetos que visam transformar o hidrogênio em amônia para exportação, já que a amônia é mais segura para transporte marítimo. Ou seja, o Brasil tem potencial para atender tanto o mercado interno quanto o externo.
Quando se fala em mercado externo, quais países estão mais na mira?
Principalmente Europa e Ásia. O Japão, por exemplo, é um grande potencial comprador. Já os Estados Unidos tendem a ser grandes produtores para consumo próprio. Também existem projetos no Oriente Médio voltados para exportação, o que faz dessa região uma concorrente direta.