Gás pode dar segurança energética para data centers no Brasil, diz Energisa
Pesquisa conclui que o Nordeste reúne as melhores condições para receber um hub desse tipo e reforça a necessidade de previsibilidade tarifária e estabilidade regulatória
RIO - O futuro dos grandes data centers no Brasil passa pela combinação de fontes renováveis com geração firme — sobretudo gás natural — para garantir segurança energética, aponta estudo inédito do instituto Pensar Energia encomendado pela Energisa, via Norgás. A pesquisa concluiu que o Nordeste reúne as melhores condições para receber um hub desse tipo e reforça a necessidade de previsibilidade tarifária e estabilidade regulatória.
Em entrevista ao Estadão/Broadcast, a diretora-presidente da Energisa Distribuição de Gás (EDG), Débora Oliver, e o diretor institucional regulatório da EDG, Paulo Homem, disseram que a empresa quer se posicionar nessa nova onda de demanda por energia.
O objetivo do estudo foi demonstrar como a energia firme se encaixa nessa discussão, muito voltada para a importância da energia renovável nesses empreendimentos.
"Nossa intenção realmente foi entender melhor esse mercado, e já começar a se preparar para se posicionar em relação a esses futuros investimentos", explicou o diretor. "Se realmente seria viável, por exemplo, o data center ser operado só à base de renováveis. E o estudo confirma o que a gente já imaginava. Que realmente é necessário que as fontes firmes garantam a operação do data centers", informou.
Segundo o estudo, sem essa base energética não há segurança da informação, competitividade, nem soberania digital. O documento mostrou que, em 2024, os data centers consumiram cerca de 415 terawatt-hora (TWh) de energia no mundo - o equivalente a 1,5% do consumo global. Até 2030, esse volume pode mais que dobrar, superando 945 TWh, valor próximo ao consumo anual do Japão.
Além da confiabilidade, o relatório ressalta que grandes operadores globais de data centers priorizam países que oferecem previsibilidade tarifária e segurança regulatória — algo que o Brasil ainda precisa consolidar para se tornar competitivo nesse setor.
Como solução, o relatório propõe a criação de uma Política Nacional de Energia para Infraestruturas Digitais Críticas. A proposta inclui garantir fornecimento firme, integrar energia e conectividade ao planejamento territorial e estimular a autogeração híbrida com gás natural, hidrelétricas com reservatório e reatores modulares nucleares de pequeno porte (SMRs).
De acordo com Oliver, a Energisa está no Nordeste com quatro distribuidoras, mas quer expandir sua atuação. Para isso, o nicho dos data centers, eletrointensivos, tem se mostrado atrativo.
Segundo ela, a energia corresponde a 45% dos custos de um data center, e a dependência da geração solar e eólica, sujeitas a intermitência e cortes de transmissão, não garante a estabilidade para os pesados investimentos que serão feitos.
"A Energisa veio para ficar no gás. A gente quer crescer, quer desenvolver. A gente quer, de fato, ser um agente relevante, mas pra isso a gente precisa saber se a gente tem uma fatia de valor nesse crescimento", explicou.
Preço
Sobre o preço do gás no Brasil, considerado um dos fatores que podem atrapalhar o valor final dos empreendimentos, pelo preço mais alto do que em outros mercados que concorrem pelos projetos,
Oliver ressaltou que várias ações que vêm sendo tomadas no País apontam para a queda de preços, como a entrada de mais oferta do insumo, a Rota 3 e os projetos em Sergipe (Seap I e II), da Petrobras; o projeto Raia, da Equinor; importações de Gás Natural Liquefeito (GNL); projetos de biometano; entre outras.
"Quanto mais oferta a gente tiver, a tendência é que a gente tenha uma redução do custo de gás, e o data center pode ser uma alavanca para isso", complementou o diretor. "A própria sinalização do interesse de investimento de data center, por si só, já pode gerar um movimento de baratear o gás, pelo aumento da demanda", avaliou.
O grupo já conduz dois projetos-piloto com operadores interessados em se instalar na região Nordeste, fornecendo energia produzida com gás para confirmar a confiabilidade do abastecimento.
"Hoje o que a gente tem esses dois pilotos em que o gás é uma alternativa que tem se mostrado uma experiência positiva. A gente só está aguardando efetivamente a conclusão desses estudos, do lado do cliente, para que a decisão de investimento seja efetivamente tomada", informou a diretora. "O gás garante a estabilidade, com quase nenhuma variação, e isso em um data center é super relevante. Se faltar luz na nossa casa por um, dez minutos, uma hora não acontece nada, mas em um data center isso não pode acontecer", ressaltou.