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Games como Axie Infinity, com recompensa em criptomoedas, devem arrecadar US$ 9,25 bilhões em 2022

O GameFi, união entre games e finanças, é um mercado em expansão; o número de jogadores cresce cerca de 200 vezes a cada ano

23 dez 2022 - 16h04
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Seus monstrinhos entraram em campo, prontos para encarar mais uma batalha. Os Axies "inimigos" também chegaram. E as cartas já foram dadas. É hora de muita concentração. Afinal, o que está em jogo vai além do prazer da vitória. Ganhar significa dinheiro na conta, ou melhor, criptomoedas na sua wallet. Jogos como o Axie Infinity, do tipo "play to earn", em que os avanços do jogador vão acumulando pontos na forma de cripto, devem fechar 2022 com arrecadação de US$ 9,25 bilhões e já são responsáveis por 48% das atividades em blockchain, segundo relatório da Blockchain Gaming Alliance (BGA) em parceria com o DappRadar. É o mercado do GameFi, união entre jogos e finanças, que surgiu em 2018 e cada vez ganha mais adeptos pelo mundo: o número de usuários cresce cerca de 200 vezes a cada ano, de acordo com o DappRadar.

No universo destes games, os jogadores que cumprem uma série de tarefas são recompensados com tokens digitais, e podem comercializar os bens virtuais dentro da própria plataforma, trocando-os por criptomoedas para depois convertê-las em dólar ou real. É isso que faz o gamer Wildmar Gomes, que envia as criptomoedas conquistadas no jogo direto para um cartão de débito digital e consegue usá-las para compras no dia a dia.

Um dos criptogames que Wildmar mais gosta de jogar é justamente o Axie Infinity, o mais popular dos jogos play to earn no mundo. "As pessoas jogam porque é legal, e não só para ganhar dinheiro", diz o gamer, que nas partidas adota a alcunha de Zeus. Em pouco mais de quatro anos no mercado, o Axie Infinity já movimentou cerca de US$ 4,26 bilhões em seu marketplace e teve mais de 680 mil usuários ativos entre outubro e novembro deste ano.

Hoje, o faturamento de um jogador ocasional fica em torno de US$ 60 por mês. Mas Heloísa Passos, criadora da maior comunidade de Axie na América Latina e empresária de criptogames, projeta que essa renda extra por jogador poderá chegar a cerca de US$ 400 por mês conforme for crescendo o ecossistema GameFi no Brasil. "Hoje, eu não consigo nem mensurar como seria se grandes franquias entrassem na Web 3.0, porque isso poderia movimentar até mais dinheiro", destaca.

Ela acredita que, nos próximos cinco anos, grandes franquias de jogos - de Fifa a Candy Crush - vão começar a migrar para a Web 3.0, e com tecnologia blockchain passarão a permitir interoperabilidade e transporte de tokens entre games. Ou seja, é possível que a skin - traje utilizado por personagens - comprada em um jogo seja utilizada em outro, assim como personagens e mapas. "Isto seria o nirvana dessa indústria de cripto e games. É muito melhor você gastar o seu dinheiro, ter os seus itens e a certeza de que aquilo vai estar com você, e não ficar abandonado no jogo", afirma Fabrício Tota, diretor de Novos Negócios do Mercado Bitcoin.

No Brasil, o jogo RIO (Raised In Oblivion), lançado em 2021, pretende disponibilizar uma segunda versão do game, em blockchain, já em 2023, e tem cerca de 70 mil usuários na lista de espera para testá-lo. A atualização permitirá que o jogador negocie a moeda virtual do jogo com outros usuários em um banco dentro do gameplay. Também será possível que os gamers utilizem ilustrações próprias criadas em NFT para marcar territórios no mapa, além de vestir seus personagens com tokens.

Impacto social

Quem tem criptomoedas na carteira também pode aproveitar outras formas de financiamento, como o chamado alt funding, que utiliza o mercado de cripto para arrecadar fundos. Neste ambiente, a startup brasileira Sthorm fez uso da tecnologia blockchain e NFTs para promover pautas sociais.

Pablo Lobo, fundador da empresa, explica que a Sthorm vende obras artísticas em NFT, e usa parte do lucro para subsidiar pesquisas científicas. A iniciativa já arrecadou R$ 65 milhões para a startup de biotecnologia Mabloc, que atua no estudo de anticorpos monoclonais, e outros R$ 30 milhões para auxiliar o Hospital de Clínicas de São Paulo no enfrentamento da pandemia.

"O próximo passo é tokenizar patentes de pesquisas para serem vendidas a investidores de forma fracionada", afirma Lobo. Para tanto, seria necessária uma regulamentação específica, envolvendo tokenização e a negociação de patentes.

O futuro é o metaverso?

De acordo com uma pesquisa feita pela empresa de consultoria Gartner, até 2026 aproximadamente 25% das pessoas no mundo vão passar pelo menos uma hora por dia no metaverso. Essa propensão deve movimentar, em valor de mercado, cerca de US$ 800 bilhões em 2028. A tendência é que esse mundo virtual viabilize a integração de espaços diferentes, cada um com sua própria moeda, de acordo com Marcolino Medeiros, presidente da Associação Brasileira do Metaverso (Abmeta) e da Meta4chain.

Ele explica que as movimentações dentro dos ecossistemas financeiros, chamados de shoppings digitais, vão continuar sendo feitas dentro do território nacional, com a moeda corrente atual. "Então, basicamente, vamos seguir a regulamentação que se tem para os e-commerces, mas com possibilidade de abertura de vendas para o exterior, através da facilitação do processo de tokenização."

Para Marcolino Medeiros, as exchanges, que funcionam como corretoras e casas de câmbio de criptomoedas, também têm grande potencial de crescimento. "Essas plataformas já atuam no metaverso e fazem trocas entre tokens financeiros e os NFTs, e ficam responsáveis pela custódia das transações e por liberar certificados de recebimento."

Além disso, existem fintechs dentro do mercado de NFT que exploram a criação dos próprios metaversos com foco em feeds pessoais, a partir dos interesses dos usuários. Para o futuro do universo das criptos, isso representa uma evolução, na visão de Medeiros.

Ele cita o plano do Instagram, anunciado no início deste ano, que começou a fazer testes com pequenos grupos de usuários para postar conteúdos NFT nos stories, no feed ou enviar por mensagens. "Em quatro ou cinco meses, o Instagram vai ter a funcionalidade de poder armazenar NFTs dentro da plataforma e trocá-los. Essa disseminação é positiva e vai trazer desenvolvimento para um lado mais visual, que é o do metaverso." (Reportagem de Beatriz Capirazi, Fernanda Paixão, Gabriel Tassi, Jennifer Neves, Jean Mendes, Letícia Araújo, Maria Clara Andrade e Paulo Renato Nepomuceno)

Expediente

Reportagem I Alunos da 12ª turma do Curso Estadão de Jornalismo Econômico: Adrielle Farias, Alex Braga, Ana Clara Praxedes, Ana Luiza Serrão, Ana Ritti, Beatriz Capirazi, Carolina Maingué Pires, Davi Valadares, Erick Souza, Fernanda Paixão, Gabriel Tassi, Guilherme Naldis, Jean Mendes, Jennifer Neves, Lara Castelo, Letícia Araújo, Luiz Araújo, Maria Clara Andrade, Maria Lígia Barros, Paulo Renato Nepomuceno, Pedro Pligher, Rebecca Crepaldi, Renata Leite e Zeca Ferreira Edição e coordenação I Carla Miranda e Luana Pavani

Estadão
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