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Furnas e Cemig preveem paralisar hidrelétrica após rompimento de barragem da Vale

28 jan 2019 - 20h29
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A hidrelétrica de Retiro Baixo, no rio Paraopeba, informou que deve paralisar as operações na terça-feira, após o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração da Vale em Brumadinho (MG) na semana passada ter gerado um turbilhão de lama que poluiu o manancial e deixou mortos e desaparecidos.

Uma onda de água turva com sedimentos gerada após o incidente tem avançado pelo rio e poderá alcançar a usina na próxima semana, entre 5 e 10 de fevereiro, de acordo com um boletim do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) nesta segunda-feira.

A Retiro Baixo Energética, que tem como principais sócios Furnas, da Eletrobras, e a mineira Cemig, disse que a parada da usina tem como objetivo "proteger seus equipamentos" e que na ocasião também realizará manobras para fechar suas tomadas d'água.

A usina chegou a ser desligada logo após o incidente, mas retornou à operação no sábado, devido a um deslocamento mais lento que o previsto da lama pelo rio, afirmou a empresa.

A água com rejeitos de minério de ferro pode causar graves danos às turbinas, o que justifica a parada em Retiro Baixo.

A operação é importante também para reduzir riscos de danos à hidrelétrica Três Marias, da Cemig, no rio São Francisco, do qual o Paraopeba é afluente, disse à Reuters o engenheiro civil Carlos Goyano, especialista em projetos hidrelétricos.

"A usina (Retiro Baixo) vai ter que ficar inoperante. Vai inutilizar a usina. Também não pode abrir o vertedouro (para a passagem da água) porque vai contaminar a jusante (no sentido da correnteza). Vai fechar tudo e virar só uma barragem, um prejuízo enorme", afirmou ele, que já trabalhou em empresas de projetos como Engevix e Enge-Rio.

Segundo a Agência Nacional de Águas (ANA), a usina de Retiro Baixo deve usar seu reservatório para "amortecimento da onda de rejeitos... a depender da operação da usina". Em nota, a agência acrescentou que "está se avaliando, ainda, se a onda de rejeitos alcançará o reservatório da usina hidrelétrica de Três Marias", que fica a 30 quilômetros de distância.

Procurada para comentar a situação de Três Marias, a Cemig disse que "está acompanhando o fluxo da pluma de segmentos".

Em entrevista nesta segunda-feira, diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani, disse que a companhia está tomando medidas para bloquear o fluxo de lama, como a instalação de uma membrana na altura do município de Pará de Minas (MG), para evitar que haja interrupção da captação de água nas cidades a jusante do rio Paraopeba. Ele não comentou sobre a situação das hidrelétricas.

SITUAÇÃO SE REPETE

As consequências do desastre para o setor de energia lembram, em menores proporções, o caso da hidrelétrica de Candonga, no rio Doce, que foi invadida em 2015 por rejeitos de mineração após um rompimento de barragem da Samarco, mineradora da qual a Vale é sócia junto à anglo-australiana BHP.

A usina de Candonga, que está parada até hoje, tem como sócios a própria Vale e a Cemig, por meio da Aliança Geração.

Se a capacidade do reservatório de Retiro Baixo para segurar o fluxo for esgotada, a água poderia ser liberada posteriormente para seguir a caminho de Três Marias, mas com potencial de danos já menor, segundo Goyano.

"Acho que em Três Marias, mesmo que chegue, o reservatório lá é muito grande, aí não teria tanto impacto. Aí talvez já tenha (a água) absorvido bastante o ferro e aí o prejuízo é menor", acrescentou ele, ressaltando que ainda assim poderia haver danos às máquinas.

"Trabalhei mais de 40 anos nessa área e nunca tinha visto essas situações (como em Candonga e agora em Retiro Baixo)", destacou o engenheiro.

Procurada, a Aliança não respondeu pedidos de comentário sobre a situação da usina de Candonga.

De acordo com o boletim da CPRM, o fluxo de água turva chegaria à usina de Três Marias entre 15 e 20 de fevereiro se mantida a atual velocidade de deslocamento.

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