EUA vão sofrer pressão na oferta de carne com tarifa sobre exportações brasileiras, prevê Datagro
Segundo consultoria, o Brasil tem maior capacidade de redirecionar sua produção para outros mercados, ao passo que os americanos enfrentam limitações na oferta local
A imposição de uma tarifa adicional de 50% sobre as exportações brasileiras aos Estados Unidos, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, deve ter impacto negativo limitado sobre o Brasil, mas pode gerar forte pressão sobre a oferta doméstica de carne bovina no mercado norte-americano. A avaliação é da consultoria Datagro, que vê maior dependência dos EUA em relação à proteína brasileira do que o inverso.
O relatório lembra que os Estados Unidos foram o segundo principal destino da carne bovina exportada pelo Brasil no primeiro semestre, perfazendo 12% do volume recorde embarcado. No entanto, o Brasil tem maior capacidade de redirecionar sua produção para outros mercados, ao passo que os americanos enfrentam limitações na oferta local.
"O impacto sobre a produção brasileira deve ser próximo de 4%, o que já começou a ser precificado pelo mercado, como mostram as quedas nos contratos futuros do boi gordo na B3", afirmou a consultoria. Por outro lado, a carne brasileira representa 5,4% da disponibilidade doméstica total dos EUA, o que indica um impacto proporcionalmente maior para o país norte-americano.
Segundo a Datagro, o principal produto exportado pelo Brasil aos EUA são os beef trimmings — cortes residuais utilizados na produção de carne moída. Esse segmento representa metade do consumo per capita de carne bovina nos Estados Unidos e depende da combinação desses recortes com gordura de animais muito pesados, comuns no mercado local. No entanto, a escassez de fêmeas de qualidade inferior — base da carne moída local — torna os trimmings brasileiros ainda mais estratégicos.
A nova tarifa deve praticamente inviabilizar as exportações brasileiras para os EUA, tornando os produtos nacionais pelo menos 20% mais caros que os preços de atacadistas locais. Ainda assim, a Datagro acredita que o diferencial de preços tende a se estreitar no médio prazo, dada a limitação global na oferta de carne bovina.
A medida pode, inclusive, abrir oportunidades para o Brasil em outros mercados internacionais. "Mesmo com a barreira tarifária, a relevância da proteína brasileira no comércio global e a escassez de fornecedores alternativos com o mesmo volume e preço podem sustentar as exportações no longo prazo", conclui o relatório.