Donald Trump adia entrada em vigor do tarifaço, mas medidas abalam a ordem econômica mundial
Segundo fontes do alto escalão do governo americano, o objetivo do adiamento é dar tempo às alfândegas dos Estados Unidos para se prepararem
Donald Trump adiou por sete dias a entrada em vigor de novas tarifas comerciais que visam beneficiar os EUA, causando impactos nos mercados globais e tensões diplomáticas com diversos países, incluindo o Brasil, que enfrentará aumento significativo de tarifas.
O presidente americano, Donald Trump, assinou na quinta-feira (31) um decreto que impõe uma nova rodada de tarifas a dezenas de países, com o objetivo de reorganizar o comércio global em benefício dos Estados Unidos. Inicialmente previstas para entrar em vigor nesta sexta-feira (1°), as taxas começarão a ser aplicadas em sete dias, mas já têm repercussão nos mercados.
Segundo fontes do alto escalão do governo americano, o adiamento da entrada em vigor das tarifas não ocorre por acaso. O objetivo é dar tempo às alfândegas dos Estados Unidos para se prepararem.
O comunicado emitido pela Casa Branca na quinta-feira não esconde a visão mercantilista de Trump das relações comerciais: "reestruturação do comércio mundial em benefício dos trabalhadores americanos". A meta é "abordar ainda mais o déficit comercial anual crescente de bens dos Estados Unidos" e "proteger o país das ameaças estrangeiras à segurança nacional e à economia", acrescenta a nota.
Em reação à assinatura do decreto, as bolsas asiáticas registraram queda nesta sexta-feira. Em Tóquio, o índice Nikkei recuou 0,65% no fechamento; em Seul, o Kospi despencou 3,88%. Sydney registrou queda de 0,92% e Taipei de 0,46%. Na Europa, as principais bolsas abriram em queda: Londres, Paris, Frankfurt e Milão operam no vermelho nesta manhã.
Brasil recebe a maior taxação
As tarifas sobre os produtos brasileiros permanecerão em 10% até 6 de agosto. A partir desta data, as taxas subirão mais 40%. A medida foi apresentada como uma punição pelo julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro - aliado de Trump - acusado de tentativa de golpe de Estado.
Washington também aumentou para 15% os encargos para a Costa Rica, a Bolívia e o Equador, e manteve os previstos em abril para a Venezuela (15%) e a Nicarágua (18%).
Com o México, Trump se mostrou tolerante, após ter conversado por telefone com a presidente Claudia Sheinbaum. "Concordamos em prorrogar por 90 dias exatamente o acordo atual, com o objetivo de assinar um tratado dentro deste prazo ou até mais", explicou a líder mexicana, em coletiva de imprensa.
O México, portanto, continuará pagando a tarifa de 25% que lhe foi imposta para incentivá-lo a combater o tráfico de fentanil, 25% nos automóveis, 50% no aço e alumínio e, a partir de sexta-feira, 50% no cobre. Os produtos incluídos no T-MEC, do qual fazem parte México, Estados Unidos e Canadá, estavam protegidos dos encargos, ou seja, a sua imensa maioria.
Foi alcançado "o melhor acordo possível" se comparado com outras nações, destacou Sheinbaum. O México, que estava exposto a tarifas adicionais de 30%, "concordou em eliminar imediatamente suas numerosas barreiras comerciais não tarifárias, que eram muitas", acrescentou Trump.
Canadá também foi penalizado
No Canadá, as taxas passarão de 25% para 35%, exceto para produtos protegidos pelo acordo de livre comércio T-MEC. "O Canadá não cooperou para conter o fluxo contínuo de fentanil e outras drogas ilícitas, e tomou medidas de retaliação contra os Estados Unidos", criticou a Casa Branca. "Os cartéis mexicanos operam cada vez mais laboratórios de síntese de fentanil e nitazeno no Canadá", acrescentou, sobre dois opioides sintéticos que preocupam os Estados Unidos.
Na quarta-feira (30), Trump também ameaçou interromper as negociações comerciais com o governo canadense. Horas antes, o primeiro-ministro Mark Carney havia anunciado que estava disposto a reconhecer o Estado palestino na próxima Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, irritando o presidente americano.
Outros países penalizados com altas tarifas são Síria (40%), Laos (40%) e Suíça (39%). A Argélia terá uma taxação de 30%, Bangladesh 20% e Índia 25%.
União Europeia, Japão e Coreia do Sul, alguns dos poucos parceiros que conseguiram renegociar as tarifas, estarão sujeitos a 15%, assim como a maior parte dos países. Reino Unido, Vietnã, Indonésia e Filipinas fecharam acordos preliminares.
A China ficou excluída da nova rodada de medidas porque sua trégua não expirava nesta sexta-feira, mas sim em 12 de agosto, quando as taxas podem retornar para níveis mais altos.
Destruição das regras
Até agora, a maioria dos países era submetida à tarifa mínima universal de 10% imposta em abril e às aplicadas sobre certos produtos, como 50% sobre o alumínio e o aço e 25% sobre os automóveis.
"Não há dúvida: o decreto e os acordos" concluídos nos últimos meses "destroem o livro de regras comerciais que governou o comércio internacional desde a Segunda Guerra Mundial", afirma Wendy Cutler, vice-presidente sênior do Asia Society Policy Institute. "Se nossos parceiros podem preservá-lo sem os Estados Unidos, isso ainda é uma questão em aberto", acrescentou.
O impacto das tarifas também preocupa os economistas, já que são consideradas um peso para a inflação, que subiu 2,6% em junho, segundo o índice PCE publicado na quinta-feira. A previsão é que elas também tenham uma repercussão negativa sobre o crescimento dos Estados Unidos.
O uso de tarifas como meio de pressão para alcançar acordos comerciais favoráveis aos Estados Unidos também mobiliza os tribunais. Na quinta-feira, foi realizada uma audiência em um tribunal de apelações de Washington para determinar se Trump excedeu os poderes previstos na Constituição americana ao impor as medidas. A Casa Branca advertiu que vai recorrer à Suprema Corte caso a decisão seja desfavorável.
(Com informações da AFP)
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