Dissidentes do Fed citam risco de inflação em votos contra corte de juros
Autoridades do Federal Reserve que votaram contra o corte de juros nos EUA nesta semana disseram nesta sexta-feira que estão preocupadas com o fato de a inflação permanecer muito alta para justificar taxas mais baixas, especialmente devido à falta de dados oficiais recentes sobre o ritmo do aumento de preços.
O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou em comunicado que discordou do corte de 0,25 ponto percentual nos juros porque considerou melhor aguardar mais dados sobre a inflação e a situação do mercado de trabalho, antes de reduzir a taxa, especialmente devido à intensa preocupação que empresas e consumidores ainda demonstram com o aumento dos preços.
Segundo Goolsbee, esperar até o início do próximo ano para reduzir os juros teria dado aos formuladores de políticas o benefício de dados governamentais atualizados, com relatórios importantes a serem divulgados na próxima semana. Ao mesmo tempo, isso traria pouco risco adicional para um mercado de trabalho que parece estar "apenas moderadamente arrefecendo".
"Deveríamos ter esperado para obter mais dados, especialmente sobre a inflação", disse Goolsbee, que foi um dos três votos dissidentes do Fed, que na quarta-feira decidiu por 9 a 3 reduzir sua taxa básica de juros em 25 pontos-base, para a faixa de 3,50% a 3,75%.
Os principais dados governamentais sobre o mercado de trabalho e a inflação ainda estão defasados, após a paralisação do governo federal de 43 dias em outubro e novembro.
O presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, também discordou na quarta-feira, defendendo a manutenção da taxa, enquanto o membro do conselho do Fed Stephen Miran voltou a defender um corte maior, de 50 pontos-base.
"Aguardar até o ano novo para tratar deste assunto não teria acarretado muitos riscos adicionais e teria trazido o benefício extra de dados econômicos atualizados, que têm estado ausentes ultimamente", disse Goolsbee.
"Considerando que a inflação está acima da nossa meta há quatro anos e meio, que o progresso nesse sentido está estagnado há vários meses e que quase todos os empresários e consumidores com quem conversamos recentemente no distrito apontam os preços como uma das principais preocupações, achei que a conduta mais prudente teria sido aguardar mais informações", acrescentou Goolsbee.
Para ele, "há poucos indícios de uma deterioração tão rápida do mercado de trabalho que nos impedisse de esperar pelos dados divulgados nos primeiros meses do próximo ano antes de tomar qualquer decisão".
Goolsbee disse ainda estar "otimista" de que as taxas de juros possam cair "significativamente" no próximo ano, caso os dados futuros mostrem a inflação retornando à meta de 2% do Fed.
INFLAÇÃO ACIMA DA META
Schmid, em comunicado, afirmou que discordava do corte de 25 pontos-base porque a inflação está "muito alta" e a política monetária deve permanecer moderadamente restritiva para mantê-la sob controle.
"Neste momento, vejo uma economia que demonstra bom ritmo e uma inflação elevada, o que sugere que a política monetária não é excessivamente restritiva", afirmou.
Schmid acrescentou que, em sua opinião, pouca coisa mudou desde que discordou do corte de juros do Fed em outubro, com a inflação acima da meta e o mercado de trabalho "em grande parte equilibrado".
Os dados oficiais mais recentes sobre desemprego e inflação são de setembro e mostraram que a taxa de desemprego subiu para 4,4%, ante 4,3%, enquanto a medida de inflação preferida pelo Fed também aumentou ligeiramente para 2,8%, ante 2,7%.
O ritmo de aumento dos preços tem crescido de forma constante desde abril, quando atingiu 2,3%, um fato que pode ser atribuído, pelo menos em parte, à transferência do aumento dos impostos de importação para os consumidores. Este é um dos principais fatores que contribuem para a divergência nas políticas do banco central.
Goolsbee e Schmid deixarão de votar no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), responsável pela definição das taxas de juros, no próximo ano.
Já a presidente do Fed da Filadélfia, Anna Paulson, que passará a ter direito a voto, disse nesta sexta-feira que continua preocupada com a fragilidade do mercado de trabalho.
"No geral, ainda estou um pouco mais preocupada com a fragilidade do mercado de trabalho do que com os riscos de alta da inflação", disse Paulson em um discurso preparado para um evento organizado pela Câmara de Comércio do Estado de Delaware, em Wilmington.
"Isso se deve em parte ao fato de eu ver uma boa chance de a inflação cair ao longo do próximo ano", com a diminuição dos impactos das tarifas, que foram o principal fator que levou as pressões inflacionárias a ultrapassarem a meta neste ano.