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Juros e inflação altos preocupam no Brasil e no mundo

Economistas afirmam que desaceleração econômica começa a dar as caras no cenário interno, mas riscos de recessão são pequenos

30 mar 2023 - 07h40
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Juros altos, baixo crescimento e inflação persistente são alguns dos problemas que tiram o sono de economistas tanto no Brasil quanto no exterior. Por aqui, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continua bem acima do teto da meta do governo, o que obrigou o Banco Central (BC) a manter a Selic (taxa básica de juros) em 13,75% ao ano nas últimas cinco reuniões.

Como era de se esperar, as consequências dos juros altos por um longo período já começam a aparecer. "Estamos vendo certa redução da atividade econômica no dia a dia. Indicadores de confiança mais fracos, piora na inadimplência e um ligeiro aumento da taxa de desemprego. São algumas evidências de desaceleração", afirma Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital.

Apesar disso, especialistas afirmam que os riscos de uma recessão - caracterizada por dois semestres seguidos de contração na economia - são pequenos no Brasil. O principal motivo é a força do agronegócio, que deve segurar o ritmo da atividade por aqui.

Enquanto isso, os setores de serviços, indústria e comércio devem registrar uma desaceleração significativa. "Isso é resultado do aperto monetário que tirou a Selic de 2% e levou ao patamar atual de quase 14% ao ano", afirma Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. Para ela, o BC não deve cortar juros enquanto o novo arcabouço fiscal não for conhecido. "O comunicado da última reunião do Copom deixou muito claro que o risco fiscal aqui no Brasil ainda é muito elevado", diz.

Raone Costa afirma que existem outros dois fatores que podem contribuir para um corte de juros antes do esperado: o primeiro é a diminuição das expectativas de inflação pelo mercado financeiro, medida pelo Boletim Focus. O segundo é a intensificação de uma crise global causada por problemas no setor financeiro norte-americano. "Se houver algo muito drástico, o BC pode começar a diminuir os juros. É um risco, mas não acho que seja cenário-base", afirma.

Lá fora, o aperto monetário também deve desaquecer as principais economias do mundo. Nos Estados Unidos, onde os juros estão no maior patamar desde 2007, o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) projeta crescimento de 0,4% em 2023, quando a meta de longo prazo é de 1,8%.

Não bastasse isso, a crise do sistema bancário norte-americano pode impactar as condições de crédito, reforçando o cenário de enfraquecimento econômico - embora o mercado de trabalho e o setor de serviços sigam ainda aquecidos nos EUA. "A economia do País tem surpreendido pela força positiva da atividade", afirma William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, instituição com sede nos Estados Unidos.

Em março, dois bancos fecharam as portas nos EUA. O primeiro foi o Sillicon Valley Bank (SVB), conhecido como "banco das startups", que não resistiu à corrida pelo resgate de recursos depois que os investidores passaram a desconfiar da sua solidez.

Logo depois, foi a vez de o Signature Bank anunciar o encerramento das atividades e a intervenção pelo Federal Deposit Insurance Corporation (Fidc). "Eles quebraram por uma má gestão de ativos e passivos. Mesmo assim, houve uma instabilidade no mercado financeiro e as autoridades tiveram que correr para acalmar. Pânico financeiro acaba gerando um efeito em cascata muito perigoso", diz Alves.

Helena Veronese aponta que os bancos menores surfaram a onda de injeção de liquidez e juros mais baixos durante a pandemia e agora começam a sofrer com o aperto nas condições monetárias. "De todo modo, não me parece que seja uma crise sistêmica, mas sim uma questão pontual em algumas instituições", afirma.

Para ela, o ponto positivo no cenário global vem da China, onde indicadores divulgados recentemente apontam para uma recuperação do ritmo de atividade. "Esse crescimento é bom para o mundo todo, mas especialmente para economias emergentes exportadoras de commodities, caso do Brasil", destaca a economista da B.Side Investimentos.

Estadão
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