Desemprego no menor nível da série histórica é sinal positivo no meio de muita incerteza
Para derrubar a inflação e facilitar a redução dos juros, governo terá de fortalecer suas contas e conter o aumento da dívida pública
Com a reação da indústria em agosto e o aumento da ocupação no setor privado, fica mais fácil apostar num crescimento econômico na faixa de 2,3% a 2,5%, compatível com a expectativa indicada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e pouco superior às estimativas do mercado financeiro.
A produção industrial aumentou 0,8% em agosto, depois de quatro meses com perda acumulada de 1,2%. No ano, o setor produziu 0,9% mais que no período correspondente do ano anterior e acumulou avanço de 1,6% em 12 meses.
A melhora do mercado de trabalho também pode ser um prenúncio de atividade mais vigorosa até o fim do ano, descontados os fatores sazonais. A desocupação ficou em 5,6% no trimestre encerrado em agosto e continuou no menor nível da série iniciada em 2012. Os 6,1 milhões de pessoas sem atividade nesse período formaram, na mesma série, o menor contingente desocupado nesse período.
Os últimos dados setoriais do comércio e dos serviços são de julho. O volume de serviços cresceu 0,3% nesse mês, acumulando avanço de 2,6% no ano e de 2,9% em 12 meses. Mas o volume de vendas no varejo diminuiu 0,3% no mês, na quarta queda mensal consecutiva. No ano, houve crescimento acumulado de 1,76%. Em 12 meses a expansão chegou a 2,5%. Os números da indústria, do comércio e dos serviços são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A produção de 350,2 milhões de toneladas na chamada safra de grãos de 2024/2025, um recorde, é mais um importante dado positivo no cenário econômico. Os trabalhos da safra seguinte já começaram, as condições do tempo são favoráveis e um novo recorde poderá ocorrer, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Uma boa produção agrícola pode proporcionar tanto resultados positivos no comércio exterior quanto preços favoráveis ao consumidor no mercado interno. No mercado financeiro, projeções ainda apontam inflação superior a 4% no próximo ano, mas pouco abaixo do teto da meta, fixado oficialmente em 4,5%. Os números estimados até 2028, embora declinantes, ainda superam com folga o centro da meta, 3%.
A contenção da alta de preços deve manter-se como um desafio importante para o governo central e como um risco, portanto, de manutenção de juros elevados pelo Banco Central (BC). Pelas projeções do mercado, os juros básicos devem continuar em 15% e recuar lentamente nos anos seguintes — para 12,25% em 2026, 10,5% em 2027 e 10% em 2028. Juros elevados são um entrave importante ao crescimento econômico e à expansão do emprego. Mas, para derrubar a inflação e facilitar a redução dos juros, o governo terá de fortalecer suas contas e conter o aumento da dívida pública.