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Depois de cinco anos, setor de óleo e gás volta a contratar

Pesquisa da consultoria Michael Page mostra alta de 8,5% nas vagas abertas para média e alta gerência; pré-sal puxa reação

9 dez 2019 - 04h11
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RIO -- Apesar do clima de decepção com a ausência das grandes petroleiras nos dois últimos leilões do pré-sal, em novembro, o mercado de trabalho no setor de óleo e gás volta a ganhar fôlego no Brasil. Depois de cinco anos encolhendo sem trégua, o porcentual de vagas abertas para cargos de média e alta gerência na área saltou 8,5% nos primeiros dez meses deste ano. Os salários ainda não se recuperam no mesmo ritmo, mas tiveram alta de 2% no ano, segundo levantamento feito pela consultoria de recrutamento internacional Michael Page a pedido do Estadão/Broadcast.

Depois de viver um boom de 2010 a 2013, a partir de 2014 o setor foi atingido por uma espécie de tempestade perfeita: preços do barril de petróleo em baixa; denúncias de corrupção na operação Lava Jato; a crise na Petrobrás; a derrocada da OGX de Eike Batista; escassez de leilões de concessão de áreas; economia desaquecida e um freio em projetos de exploração de petróleo e gás.

A combinação desses fatores terminou com uma queda brusca de 20% nos salários em 2014, que se seguiu ao longo de 2015 (-10%) e 2016 (-5%).

Responsável na Michael Page pela área de recrutamento em óleo e gás, Otávio Granha afirma que já é possível detectar uma retomada em termos de demanda e salários em posições técnicas ligadas à fase de exploração e desenvolvimento de campos de petróleo.

"Esse crescimento não vai ser acelerado como foi na época do boom, mas vai ser mais sustentável do que foi naquela época", diz Granha, para quem o crescimento mais acelerado virá em 2021.

A volta dos leilões de blocos promovidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos últimos dois anos aqueceu a demanda por profissionais atuantes no início da cadeia petrolífera. É o caso dos cargos de geofísico e geólogo, cujos salários tiveram uma alta de 64% e 38%, respectivamente, no acumulado de janeiro a outubro de 2019.

Segundo a Michael Page, atualmente um geofísico no Brasil pode ganhar até R$ 27 mil, enquanto o salário de um geólogo tem um piso de R$ 14 mil e um teto de R$ 42 mil. Já um engenheiro de reservatório, outro cargo em curva ascendente, recebe entre R$ 12 mil e R$ 40 mil, um patamar 44% superior ao de 2018.

Gestão

A retomada dos investimentos, aliada à volatilidade dos preços do barril de petróleo, tem gerado a necessidade de corte de despesas pelas empresas do setor, abrindo oportunidades também para profissionais especializados na gestão da cadeia de compras e suprimentos. Nessa área, houve alta de 19% nos salários pagos.

"Este ano, contratamos dois geofísicos, um geólogo e um gerente de reservatório. Nesse processo, notamos que há um aquecimento do mercado. Foi realmente difícil encontrar profissionais capacitados para a função", diz o gerente da área de Subsuperfície e Produção da PetroRio, Lincoln Makajima.

O engenheiro afirma que esse movimento começou no ano passado, com o início da fase de desenvolvimento de campos do pré-sal. A tendência é que isso se intensifique em função da escassez de mão de obra qualificada e da busca de profissionais por petroleiras que entram no mercado - como as que estão adquirindo participações em campos à venda pela Petrobrás. Este ano, a PetroRio perdeu pelo menos um geofísico e um geólogo para outra petroleira de grande porte.

"Nossa percepção é de que o nível de atividade do setor demonstra uma clara retomada. Essa tendência deve se intensificar a partir da fase de desenvolvimento da produção dos blocos exploratórios arrematados nos leilões dos últimos dois anos, com destaque para os do pré-sal", diz a presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), Clarissa Lins.

Contratações

Formada em 2015, no auge da crise do setor de óleo e gás, a geóloga Suelen Gouvêa, 29, não encontrava emprego em sua área. Decidiu cursar um mestrado em geofísica enquanto esperava a melhora do mercado. Quatro anos depois, ela conseguiu o primeiro emprego, em uma prestadora de serviços para a Petrobrás.

A profissional se mudou para Macaé e diz que a cidade, que passou por um período de marasmo, agora volta a ter movimento.

"Tive até dificuldade em fechar um aluguel que coubesse no meu orçamento. Depois que cheguei, a empresa já fez outras contratações. Acho que em 2020 vai melhorar ainda mais e 2021 será o auge da retomada."

Atualmente, a cadeia de óleo e gás emprega cerca de 400 mil pessoas, com salários quatro vezes maiores que a média da indústria nacional. Esse número pode dobrar até 2022, de acordo com um estudo do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP) e Ernst & Young.

Com participantes como Baker Hughes e Halliburton, a Associação Brasileiras das Empresas de Serviços de Petróleo (Abespetro) calcula que, a cada emprego gerado, dois outros são induzidos em outros fornecedores diretos e indiretos, e outros oito são gerados por efeito renda.

Estudo da entidade e da Accenture Strategy aponta que 359 mil empregos foram perdidos na cadeia de 2013 a 2018. A expectativa é que até 2026 possam ser gerados 721 mil postos. Isso significaria chegar a quase 1,2 milhão de empregos no setor.

Estadão
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