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China é ESG? Especialistas discutem avanço do país em agenda, mas com regras próprias

Professores e analistas do mercado financeiro dizem que China deseja se tornar um ator de destaque em assuntos ambientais seguindo seus próprios moldes

17 mai 2023 - 18h07
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O ESG se tornou nos últimos anos uma das principais agendas do mundo corporativo, inclusive para investidores institucionais. Segundo o estudo Global Reporting and Institutional Investor Survey, idealizado pela consultoria EY, 78% dos investidores acreditam que as empresas devem investir em ESG.

Embora a pauta esteja em alta e no radar das empresas, o assunto se torna uma questão que divide opiniões quando as práticas ESG das maiores economias do mundo são colocadas em xeque, considerando que elas ainda são as responsáveis pela maioria das emissões de gás carbônico no mundo.

Uma pesquisa da think tank internacional Carbon Brief sobre o acumulado histórico de emissões de gás carbônico, que considerou pela primeira vez o desmatamento ao contabilizar a liberação de CO2, aponta a principal economia do mundo, os Estados Unidos, como o maior emissor de gases do efeito estufa desde 1850.

Segundo o estudo, na segunda colocação vem a China, gigante emergente que só pretende começar a reduzir suas emissões a partir de 2030. Somada a essa questão, considera-se também o fato de que o respeito às diretrizes ambientais e sociais no país ainda gera debates.

A opinião, no entanto, não é unânime. O professor de economia especialista em China da Universidade de São Paulo (USP) e consultor do grupo de transição do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Paulo Feldmann, destaca que há sim problemas quanto à transparência da segunda maior economia do mundo, mas enxerga que é um dos países que mais tem avançado na agenda ESG nos últimos anos. "Nenhum país fez tanto em melhorias ambientais e sociais quanto a China".

Para o professor doutor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo, Yi Shin Tang, a China não ignora a temática ESG, mas quer fazê-lo dentro dos seus próprios padrões. "É um exagero dizer que (o país) preza pelo ESG, mas ela tem se esforçado. Ela não ignora, mas ela quer formar uma agenda de acordo com seus próprios moldes".

China deseja criar agenda própria

Para o internacionalista, a agenda ESG que os chineses pretendem formar não é a mesma que é seguida no Ocidente. "A China tem o poder de confrontar esse padrão e ela não quer participar de forma passiva", explica Tang, destacando que o país tem a intenção de criar padrões próprios e regras que podem ser expandidas para outros países aliados, confrontando a agenda seguida pelos Estados Unidos e Europa.

O professor da USP destaca ainda que a China vê a situação como uma oportunidade, considerando que ainda não há uma agenda internacional única que seja seguida no mundo todo e que o tema ESG ainda está em uma crescente. Para ele, a intenção de se tornar um player neste mercado vai de encontro a "briga" que o país já trava com os Estados Unidos em outros setores, como na tecnologia e no controle de dados.

Neste sentido, Tang afirma que a China tem registrado avanços e feito medidas regulatórias para criar um padrão único que beneficie o país, adotando medidas mais "maleáveis", que, segundo ele, podem mitigar a responsabilidade do país com ações que envolvem direitos humanos, por exemplo. "O padrão ESG da China é outro", afirma.

"Ela não aceita esses padrões estabelecidos pelo Ocidente e criados em construções históricas muito diferentes dos dela. A China busca autonomia e não vai se adequar (a outro modelo) sem ter uma visão crítica ao que já vem sendo feito", explica o professor doutor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Célio Hiratuka.

Aceno para o Ocidente

Embora o país queira criar uma agenda própria, os especialistas consultados pelo Estadão destacam que o país tem trabalhado para se tornar líder em uma agenda sustentável, não só para conseguir se alinhar a possíveis parceiros comerciais, mas também porque este mercado é visto como um negócio.

"A China tem promovido mudanças nos últimos anos definitivamente, mas isso é um negócio para eles: o avanço tecnológico e ser líder em energias renováveis. O país é sempre essa mistura de uma estrutura herdada que se modifica muito rapidamente com tecnologia. Foi assim em várias áreas, e é assim com o ESG", afirma Hiratuka.

Para o professor da USP, a promessa de alcançar a neutralidade de carbono antes de 2060 feita pelo presidente da China, Xi Jinping, durante a reunião anual da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2020 é a prova de que a nação, de fato, quer ser enxergada como um país que segue uma agenda sustentável.

"Eu acredito que haverá essa redução. O problema é que ela emite muito CO2, principalmente porque a energia elétrica dela é feita a partir do carvão. Ela tem essa coisa de ser um país ainda muito poluidor, mas há um esforço para mudar", diz Feldmann, lembrando que a China possui uma das maiores frotas de carros elétricos do mundo e fiscaliza seus parceiros comerciais para evitar a poluição.

"As empresas brasileiras que vendem para a China, em sua maioria o setor agrícola, seguem regras. A China faz questão de que os produtores brasileiros respeitem as questões ambientais. Eles fiscalizam, verificam e 'volta e meia' barram algum produto que tinha alguma coisa errada", afirma Feldmann.

Para Feldmann, o fato de o país estar no centro do debate sobre as questões ESG tem como base o fato de que a sigla se tornou uma "moda" nos últimos anos, impulsionada por consultorias. No entanto, assim como em qualquer outro país, para ele, existem empresas poluidoras e empresas limpas na segunda maior economia do mundo. "Você vai ter empresas que desrespeitam os direitos humanos em qualquer país, mas não é por isso que você vai fazer uma avaliação negativa de um país".

Já Paulo Feldmann, professor da USP, tem uma visão mais crítica quanto à própria relação do investidor institucional com o ESG. "É muito bonito falar que o investidor vai privilegiar empresas ESG, mas isso é mais um modismo do que a realidade. Sendo bastante prático, o que o investidor quer é ganhar dinheiro e ter lucro".

Para ele, a China inevitavelmente se tornará um player de destaque no mercado ambiental e uma opção para investidores que priorizam empresas sustentáveis, reforçando que ela já tem demonstrado o seu peso através do trabalho de relações públicas que tem feito para melhorar a sua imagem.

"Eles querem passar a imagem pro mundo que eles são o país mais preocupado com as mudanças climáticas e eles estão realmente fazendo isso. Hoje, a China quer mostrar para o mundo que ela é uma alternativa aos Estados Unidos", afirma, explicando que este, inclusive, teria sido o motivo para Lula conseguir tantos empréstimos na sua ida para a China.

O internacionalista Yi Shin Tang é da mesma opinião, destacando que a visão de que ser sustentável não é rentável é ultrapassada e que a tendência das grandes potências é seguir o ESG. "Uma empresa que não segue a agenda tende a perder relevância no mercado", explica, destacando.

Mercado financeiro vê 'China verde' nos próximos anos

Para Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, a China mudará cada vez mais nos próximos anos, justamente para fornecer tudo o que o mundo estiver demandando. "A China vai voltar grande parte dos seus planos para a infraestrutura verde. Buscar painéis solares, aumentar os investimentos em tudo aquilo que o mundo vá demandar. Se o investidor for inteligente agora, ele não olha o ESG da China como balizador".

"A partir do momento que os investidores levam o [ESG] em conta e existe um fluxo de capital para isso, a gente já tem visto uma rápida resposta dos países e da China para incentivar, seja via políticas ou outras para que essa preocupação se torne cada vez menor", afirma a head de ESG na XP Investimentos, Marcella Ungaretti.

Para Jennie Li, também da XP, justamente pelo governo ter um controle maior nas empresas, isso facilita que a China atinja as suas metas se comparado com os Estados Unidos, por exemplo, que conta com a fragmentação de democratas e republicanos. Para ela, por não ter trocas cíclicas, eles conseguem se planejar a longo prazo. Com isso em mente, ela acredita que a China, de fato, cumpra suas metas ESG nos próximos anos e se torne uma opção 'verde' para investidores.

Estadão
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