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Cacau ficou caro por medo de escassez futura, mas não se justifica agora, diz CEO da Cacau Show

Alexandre Costa define como 'incompreensível' alto custo da commodity na atualidade e pretende investir na produção em fazendas próprias para diminuir dependência do mercado externo

18 abr 2025 - 14h10
(atualizado às 18h06)
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Ovo de Páscoa de chocolate branco La Creme, da Cacau Show
Ovo de Páscoa de chocolate branco La Creme, da Cacau Show
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Em 2024, a produção de cacau, principal matéria-prima do chocolate que dá forma aos ovos de Páscoa, alcançou um déficit global de mais de 400 mil toneladas. Isso fez com que seu preço mantivesse a tendência de disparada dos últimos anos, em uma alta com picos de quase 300%.

Um valor que, segundo o CEO da Cacau Show, Alexandre Costa, é "incompreensível" em termos de proporcionalidade, e tem maior relação com o temor de uma escassez futura por mudanças climáticas e pragas do que com um choque atual.

"Tivemos um aumento absolutamente incompreensível do custo da principal matéria-prima do chocolate, porque a safra mundial caiu 10% e o preço aumentou 300%. Então, não tem sentido uma coisa com a outra. Tem a ver muito mais com o medo de, no futuro, faltar (cacau), por conta de pragas e da questão climática, do que com qualquer componente de realidade. (Por isso), tivemos que apertar muito os cintos para essa Páscoa", explica o gestor.

Um estudo da organização Climate Central, de fevereiro deste ano, aponta que, as mudanças climáticas, de fato, podem ter interferido na expectativa de produção. Só em 2024, elas resultaram em seis semanas de dias acima de 32°C (temperatura considerada imprópria para esse cultivo) em 71% das áreas produtoras de cacau na Costa do Marfim, Gana, Camarões e Nigéria.

A região afetada, localizada na África Ocidental, é responsável por 70% da produção mundial da amêndoa. Ela fornece parte da matéria-prima dos produtos da Cacau Show, que também é adquirida de grandes players do mercado, como a Cargill. Só menos de 5% do cacau utilizado pela empresa vem de cultivo próprio, oriundo da Fazenda Dedo de Deus, no Espírito Santo.

Costa pretende ampliar a produção própria de cacau, com investimento estimado em R$ 1 bilhão, em 10 anos, incluindo a aquisição de mais fazendas. "Temos muita coisa para desenvolver, para conseguir realmente chegar a ser autossustentável. Isso leva de 10 a 15 anos para conseguir. Mas o importante é que o que aconteceu com o cacau abriu os nossos olhos para que possamos olhar para esse fruto de uma forma diferenciada."

Abaixo os principais trechos da entrevista:

Nos últimos anos, as alterações climáticas, junto com algumas pragas, têm impactado o cinturão do cacau na África Ocidental, resultando na diminuição da produção das amêndoas e na sua elevação de preços. Como o setor tem visto esse atual cenário?

Tivemos um aumento absolutamente incompreensível do custo da principal matéria-prima do chocolate, porque a safra mundial caiu 10% e o preço aumentou 400%. Então, não tem sentido uma coisa com a outra. Tem a ver muito mais com o medo de, no futuro, faltar (cacau), por conta de pragas e da questão climática, do que com qualquer componente de realidade. (Por isso) tivemos que apertar muito os cintos para essa Páscoa, trabalhando com aumento de preço muito abaixo do nosso nível de custos.

Naturalmente, como é uma empresa que cresce muito, costumamos diluir mais os nossos custos fixos. Então, estamos conseguindo segurar o preço muito abaixo do aumento do custo do cacau. Não mexemos absolutamente nada nas fórmulas. O tamanho dos produtos continua o mesmo.

Mas, a questão climática e também a questão geracional na África Ocidental, na qual os filhos não estão indo mais à roça como os pais iam, tudo isso coloca uma grande dúvida no futuro.

Sobre o temor de uma escassez futura, de que maneira esse cenário pode impactar as próximas Páscoas?

Existe uma certa dinâmica do mercado que não está ligada necessariamente à dinâmica de compra e venda do fluxo da produção. (O cenário de preços atual) realmente foi assustador e desproporcional a qualquer nível técnico de decisão. Acreditamos que existirão saídas para que esse cacau volte para o nível de preço mais próximo de um preço justo.

O preço histórico não era bom para quem produzia. Essa é uma verdade. O cacau foi por muitos anos um produto vindo de uma cultura bastante complexa. E talvez tenha chegado o momento de o cacau não voltar para o preço histórico dele porque não era saudável.

Ele deve voltar para um lugar mais saudável para todos os atores: para o fazendeiro da Costa do Marfim, para o fazendeiro do Brasil. O cacau é um fruto ainda muito pouco conhecido. Tem muita tecnologia para implantar, muita questão empírica existindo. Então, ele vai voltar para um lugar justo, em que o produtor tenha dinheiro e a qualidade seja recompensada.

O sr. tem percebido facilidade para se juntar com outros pares no setor para discutir iniciativas?

Temos a World Cocoa Foundation (organização internacional para o desenvolvimento sustentável do cacau) fazendo um trabalho ainda muito voltado para políticas, e vejo também uma preocupação genuína de todo mundo, até porque, na hora em que mexe no bolso, fica todo mundo mais esperto.

Porém, há muita coisa para acontecer ainda no sentido de o setor se unir para conseguir ter uma voz única. Está todo mundo preocupado, naturalmente. É um risco enorme do setor, com o aumento do custo da principal matéria-prima, o impacto é devastador.

Nas pequenas comunidades, temos a produção cabruca para o cacau (tipo de cultivo à sombra de árvores nativas da Mata Atlântica), especialmente no sul da Bahia. Seria uma das saídas para diminuir a dependência externa tão grande?

Eu sou apaixonado pela cabruca, é poético, é lindo, é sustentável sob a perspectiva da natureza. (Porém) ela é pouco sustentável financeiramente, porque realmente a produção é muito pequena. Os métodos de colheita são mais complexos, você não pode mecanizar. Por outro lado, o movimento bean-to-bar (no qual o fabricante controla a produção do plantio ao produto final) vem ajudando muito os pequenos fazendeiros a fazer o seu chocolate.

E como é o processo na Fazenda Dedo de Deus?

A Fazenda Dedo de Deus não é uma cabruca, é uma fazenda a pleno sol, com irrigação no pé da planta. Ela responde por menos de 5% da nossa produção. Então, temos muita coisa para desenvolver, para conseguir realmente chegar a ser autossustentável. Isso leva de 10 a 15 anos para conseguir. Mas o importante é que o que aconteceu com o cacau abriu os nossos olhos para que possamos olhar para esse fruto de uma forma diferenciada.

Fazenda Dedo de Deus é responsável por parcela da produção da Cacau Show
Fazenda Dedo de Deus é responsável por parcela da produção da Cacau Show
Foto: Cacau Show/Divulgação / Estadão

A Cacau Show anunciou ano passado o investimento de R$ 1 bilhão para ampliar a produção própria de cacau em 10 anos. Seria um investimento total nessa fazenda?

Não. Imaginamos investir em três fazendas, no Pará, na Bahia e no Espírito Santo, para ter biomas distintos e riscos agrícolas distintos, porque, repito, o cacau ainda tem muita coisa que não é ciência. Então temos que minimizar os nossos riscos. Estamos nesse momento selecionando áreas, e é bem difícil encontrar áreas grandes, que tenham água perto, que não sejam longe das cidades. Estamos em um desafio importante para fazer isso acontecer.

O mercado consumidor da Cacau Show é majoritariamente doméstico, mas há alguma fatia de exportação?

Estamos vendendo alguma coisa para fora, mas ainda é menos de 1%, algo bem no comecinho. Já temos alguma coisa nos Estados Unidos, alguma coisa no Peru. Estamos dando os primeiros passos, mas a gente tem bastante coisa para fazer aqui no Brasil. Não há dúvida de que tem um mundo inteiro para conquistar, que vai ser uma meta com um outro nível de complexidade.

Com a taxação do governo Trump impactando as exportações, um dos produtos que está sendo estocado por consumidores norte-americanos é o chocolate. Não é uma preocupação, então?

Não vou mexer nisso por enquanto.

Para todos os gostos: veja dicas para acertar na escolha do ovo de Páscoa:
Estadão
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