Cacau e frutas tropicais podem entrar em exceção ao tarifaço dos EUA, mas carne bovina não
Os produtos tendem a ser excluídos das sobretaxas de forma geral e não como exclusão específica ao mercado brasileiro
BRASÍLIA — O governo brasileiro avalia que, além do café, ainda há chance de cacau e manga entrarem na lista de exceções do tarifaço dos EUA, segundo apurou o Estadão/Broadcast.
Ambos os produtos tendem a ser excluídos das sobretaxas de forma geral, e não como exclusão específica ao mercado brasileiro.
Os itens ficaram de fora da lista de exceção para produtos brasileiros publicada na quarta-feira, 30, quando a Casa Branca anunciou a taxa adicional de 40%, somada aos 10% já previstos anteriormente — o que dá um total de 50% de taxação. A cobrança vale a partir de 6 de agosto.
Para a carne bovina brasileira, o cenário é mais pessimista, e a proteína corre o risco de ser mantida na taxação de 50%.
O otimismo quanto à inclusão do cacau e das frutas tropicais foi reforçado pelas declarações do secretário do Comércio americano, Howard Lutnick, que reconheceu na terça-feira, 29, que o país pode reconsiderar e isentar bens que não são cultivados no país. Ele chegou a citar nominalmente café, cacau, abacaxi e manga.
A lista de exceções do governo norte-americano ao tarifaço de 50% a ser imposto sobre produtos brasileiros deixou fora das isenções 82% de tudo que foi exportado pelo agronegócio brasileiro aos Estados Unidos no primeiro semestre deste ano.
Levantamento exclusivo feito pelo Estadão/Broadcast revela que apenas US$ 1,220 bilhão dos embarques do agronegócio foram contemplados com a retirada da tarifa adicional de 40% oficializada nesta quarta-feira, ficando sujeitos apenas à tarifa de 10%.
Por outro lado, o setor do café espera que ele seja incluído na lista de exceções, na avaliação de negociadores, exportadores e importadores consultados pelo Estadão/Broadcast. Assessores de Trump na Casa Branca sinalizaram isso a empresários americanos, apurou a reportagem.
Quanto à carne bovina, tanto interlocutores que acompanham as tratativas em Washington quanto empresários do setor acreditam que o cenário é mais difícil e, portanto, as chances de a proteína ser retirada do tarifaço são menores. Diferentemente dos produtos tropicais, a carne é produzida também pelos Estados Unidos e o país é um grande player no mercado mundial, apesar de viver momento de redução no rebanho.
Para a proteína, avaliam fontes, a possibilidade seria a redução tarifária a ser negociada especificamente para o Brasil e não direcionada a países parceiros dos EUA, de forma geral. Outra possibilidade seria a ampliação da cota isenta de alíquota de 65 mil toneladas por ano. Fora esse volume, se a tarifa adicional de 40% for mantida, a proteína vermelha brasileira chegará aos Estados Unidos com alíquota de 76,4%, somando-se os atuais 10% em vigor desde 5 de abril, a taxa original de 26,5% e os novos 40% previstos para entrar em vigor este mês.
Nesse cenário, a exportação para os americanos ficaria inviabilizada, avalia a indústria. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) calcula perda de US$ 1 bilhão com o produto que deixará de ser exportado para os Estados Unidos neste ano, considerando apenas o último semestre do ano
Além de pedir ao governo para incluir a exceção à carne bovina nas negociações, exportadores seguem em contato com importadores na tentativa de sensibilizar o governo americano para a exclusão dos alimentos do tarifaço. Os argumentos apresentados às contrapartes vão no sentido da sensibilização sobre a complementaridade dos produtos, já que o Brasil exporta sobretudo recortes do dianteiro para produção de hambúrgueres e outros itens no mercado norte-americano, do potencial impacto inflacionário aos Estados Unidos e ao fato de o ciclo pecuário dos EUA ser o menor em 80 anos. As conversas têm sido diárias, relatam fontes.
Por lá, as articulações passam pelo Meat Import Council of America (MICA), que representa empresas que importam, processam e vendem carnes importadas nos Estados Unidos. O conselho vai pedir formalmente ao governo americano que inclua a proteína brasileira na lista de exceções ao tarifaço.
As empresas americanas mantêm diálogo tanto com o Escritório do Representante Comercial dos EUA quanto com o Congresso norte-americano. Há, contudo, uma percepção de que a decisão parte diretamente da Casa Branca, o que reduz os pontos de influência.
Interlocutores afirmam que há preocupação dos importadores com a eventual redução das operações e de margens. "A busca é por acesso à própria Casa Branca, mas ainda não há sinal de que a tarifa poderá ser arrefecida", pontuou uma fonte que acompanha as conversas. Empresas americanas também reforçaram atuações na mídia local para explicar a relevância das importações de carne para o atual ciclo pecuário dos Estados Unidos e da complementaridade da pauta exportadora.
O mesmo raciocínio de dificuldade de inserção para a carne bovina vale para o açúcar, por causa da disputa antiga entre os dois países em relação à taxações e cotas envolvendo o produto e o etanol.