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Brasileiro deixa a pandemia pra trás e volta a viajar; veja o que puxou o aumento do turismo em 2022

Vendas de pacotes aumentaram, em média, entre 40% e 50% neste ano, diz Abav; falta de mão de obra qualificada e alta do preço da passagem aérea são obstáculos para o setor

19 dez 2022 - 15h10
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O brasileiro retomou com força o turismo nos últimos meses, especialmente em resorts, depois de um ano e meio de jejum de viagens de lazer por causa da pandemia. A demanda reprimida contrariou a velha regra de que em ano de Copa do Mundo ou de eleição o setor perde fôlego. Em 2022, os dois eventos foram realizados e, mesmo assim, as vendas de pacotes de viagens têm crescido, em média, de 40% a 50% em relação a 2021, segundo a Associação Brasileira das Agências de Viagens (Abav).

A receita real, descontada a inflação, obtida com todas as atividades que envolvem turismo - não apenas gastos com passagem e hospedagem -, cresceu 34,5% de janeiro a outubro deste ano ante igual período de 2021, apontam dados do IBGE. E, em outubro, segundo a última informação disponível, o setor praticamente voltou ao nível de fevereiro de 2020, pré-pandemia.

"O ano todo tem tido uma demanda bem alta por viagens", afirma o vice-presidente da Abav, Frederico Levy. Esse movimento, no entanto, ficou nítido na Black Friday. A megaliquidação deste ano foi um fiasco para a venda de bens duráveis, como eletrodomésticos, por exemplo. Mas o turismo se deu bem.

"Nas outras Black Fridays não pude viajar, então comprei TV, ar condicionado e muitas coisas para a casa", conta a empresária Natália Coelho da Silva, de 35 anos. Com a normalização da situação sanitária, na megaliquidação deste ano ela preferiu gastar com turismo.

Em março, Natália, o marido e a filha integram um grupo de quase 15 pessoas, entre amigos e familiares, que vão se reunir num resort na Costa do Sauípe (BA). "Vamos reeditar a última viagem que fizemos nós três antes da pandemia, mas agora com um grupo maior", diz. Para abril, ela, a mãe, a irmã e a filha embarcam num cruzeiro de quatro dias pela costa brasileira. E o plano para 2024 é conhecer Cancún, no México, também num resort.

Nem câmbio em alta barra viagens internacionais

Também a procura por resorts de luxo fora do País está aquecida e nem mesmo a alta do câmbio tem atrapalhado as vendas. Ney Neves, gerente sênior de Marketing da rede Inclusive Colletion do grupo Hyatt no Brasil, conta que as vendas de hospedagem para os brasileiros neste ano cresceram 30% ante de 2021. Os destinos mais procurados foram Cancún e Riviera Maia, no México, Curaçao e Punta Cana, na República Dominicana. O ano passado já tinha sido muito bom para o grupo hoteleiro, que teve o melhor período de vendas, por causa da forte demanda de viagens para vacinação nos Estados Unidos, com quarentena em Cancún.

Para 2023, a rede já vendeu para brasileiros hospedagens em resorts no Caribe que equivalem a 35% do que foi comercializado neste ano até o momento. "É muita coisa para um ano que nem começou", diz o executivo. Ele lembra que, nesta mesma época do ano passado, esse índice estava em 15%.

Na operadora de turismo Quickly Travel, a demanda por pacotes de turismo cresceu neste ano, em média, 60% ante 2021, puxada sobretudo pelos destinos internacionais e pela hospedagem em resorts. Apesar disso, o turismo nacional também tem avançado, mas em ritmo menor.

"As pessoas estão carentes de sair", diz o gerente geral de Desenvolvimento de Negócios Globais da operadora, Jahy Carvalho. O carro-chefe da operadora é o Japão, que abriu as fronteiras a partir de outubro e impulsionou as vendas. Mas ele percebeu também forte procura de pacotes de viagens para a Costa Leste dos Estados Unidos.

A ressaca da pandemia provocou um aquecimento global do turismo. E isso tem levado a situações inusitadas. Levy, da Abav, conta, por exemplo, que hoje quem pretende visitar os parques da Disney na Flórida (EUA) precisa definir a data da visitação. "É uma situação atípica: mesmo com o tíquete na mão a pessoa não consegue entrar se não marcar o dia, por causa do grande fluxo de turistas."

Investimento em cozinha escola

Depois da desmobilização que houve no setor de turismo por causa da pandemia, com fechamento de hotéis, demissão de pessoal e devolução de aeronaves, empresas do setor enfrentam obstáculos para conseguir atender a forte demanda. Um dos principais é a falta de mão de obra qualificada.

O Grupo Aviva, por exemplo, decidiu investir numa cozinha escola nos complexos hoteleiros de Goiás e da Bahia para formar cozinheiros, chefe de cozinha e ajudantes. Entre funcionários efetivos e temporários, hoje o grupo tem mais de 500 vagas em aberto para várias funções nos dois complexos de resorts. "Não está fácil contratar no Centro-Oeste, porque concorremos com o agronegócio que está muito forte", diz o CEO do Grupo Aviva, Alessandro Cunha.

Ney Neves, gerente sênior de Marketing da rede Inclusive Collection Hyatt no Brasil, conta que ainda não conseguiu recontratar todo o pessoal que foi dispensado com a pandemia. "Faltam 5%", diz o executivo.

Outro desafio enfrentado pelas empresas do setor é aumento do preço das passagens aéreas que inviabilizou alguns destinos. "Para Sauípe (BA), por exemplo, o preço do aéreo praticamente dobrou em relação a 2019?, diz Cunha. A saída, segundo o executivo, para viabilizar as vendas da hospedagem foi comprar assentos de voos em parceria com as operadoras de turismo, a fim de travar o preço do pacote.

A volta do turismo popular

Apesar dos entraves à retomada no curto prazo, o setor está otimista para o biênio 2023/2024. Jahy Carvalho, gerente geral de Desenvolvimento de Negócios Globais da operadora Quickly Travel, diz que, com o novo governo, a perspectiva é que o País possa repetir o cenário de quase 20 anos atrás.

O biênio 2004/2005, do primeiro mandato do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, foi marcado pela popularização das viagens de turismo entre as camadas de menor renda. "Há um sentimento de que possam ser retomadas as viagens de turismo para as classes C e D, não na mesma medida", diz o executivo, que projeta crescimento do setor para os próximos dois anos.

Estadão
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